São Paulo, quinta, 14 de janeiro de 1999

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Franco no BC era "escárnio', diz Brizola

e da Sucursal de Brasília

O presidente nacional do PDT, Leonel Brizola, disse ontem, em Porto Alegre (RS), que era um "escárnio" para o país ter Gustavo Franco na presidência do Banco Central. "Eu achava um escárnio para o país ter um rapaz como esse Franco, que não tinha credenciais para ser diretor do Banco Central."
"Na Europa, entre personalidades importantes, até me comentaram sobre uma fotografia dele que não parecia uma que estava normal, tal a má impressão que só a fotografia dele causava ."
O ex-governador afirmou ainda que Franco era "inexperiente, irresponsável, alguém que não desperta nenhuma confiabilidade."
O ex-ministro da Fazenda Ciro Gomes (PPS) afirmou que o governo federal está fragilizado e que o país está "na fronteira da ingovernabilidade".
Para Ciro -candidato à última eleição presidencial, na qual ficou em terceiro lugar-, o governo não vai conseguir financiar as dívidas interna e externa dentro do modelo econômico adotado e não terá recursos para segurar a cotação do real frente ao dólar comercial, estabelecida ontem com o alargamento da banda cambial.
Ciro disse que a declaração de Francisco Lopes (presidente interino do Banco Central) de que as reservas estão em US$ 44 bilhões são "chute ou mentira". "O dinheiro do FMI não conta, porque já vem casado com compromissos externos do país", disse.
O ex-ministro projetou como pior cenário, daqui para a frente, uma grande desvalorização do real, em um momento de perda de controle da situação, com consequente inflação e estagflação.
Ele também defende a restrição ao fluxo cambial de dinheiro de brasileiros. "É um absurdo um país sangrando como o Brasil perder US$ 5 bilhões por ano em turismo, com uma fração mínima da população torrando dólares no exterior com cartões de crédito."
Luiz Inácio Lula da Silva (PT), segundo colocado na eleição presidencial, acha que a saída de Franco mostra que "aos poucos, governo reconhece que sua política econômica está equivocada".
Para Lula, "a saída de Gustavo Franco não muda nada, pois quem vai entrar é da mesma equipe". "Trocar toda a equipe econômica seria um favor ao povo brasileiro."
O petista disse que a queda do desemprego depende de uma mudança na política econômica. "Ou baixamos os juros e mudamos o câmbio, investindo dinheiro na produção, ou efetivamente esse país vai viver uma das piores crises econômicas."
Leia a seguir a repercussão da troca de comando no BC entre políticos de diferentes tendências.

Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), presidente do Senado - "Gustavo Franco prestou bons serviços, já estava havia algum tempo no cargo e achou que era seu momento de sair. E ainda vai prestar contribuição ao governo como bom conselheiro da área econômica. Ninguém pode negar os méritos. Mas pode haver divergências, que são evitadas por meio da nomeação de pessoas que convirjam mais com o ponto de vista que o governo queria para hoje."

José Serra ministro da Saúde -"Substituição de pessoa do governo é assunto exclusivo do presidente e não vou me pronunciar. Não é da minha competência. O Congresso vai aprovar as medidas para ajudar a acabar com a crise. Um quadro difícil estimula o Congresso, que tem patriotismo."

José Dirceu, presidente nacional do PT - "O nome de Francisco Lopes para a presidência do Banco Central não significa necessariamente mudança na política econômica. A crise econômica é gravíssima e a pressão para mexer no câmbio é insuportável. Gustavo Franco saiu por se dar conta que ia ser fator de desgaste de FHC. O governo, para responder a essas pressões, não pode mexer só no câmbio. A desvalorização sozinha pode ter consequências trágicas."

Luiz Carlos Hauly (PSDB-PR), líder interino do governo no Congresso - "Em tempos de crise, a palavra de ordem é mudança. A troca na presidência do Banco Central ficou dentro do mesmo grupo, do mesmo pensamento, com a vantagem de que Chico Lopes não está no centro das críticas."

Inocêncio Oliveira (PE), líder do PFL na Câmara -"Essa é a maior crise econômico-financeira que o país enfrenta desde 1945. O mercado apostava que sairia o Malan, mas saiu o Gustavo Franco. O Malan fica fortalecido. Nunca houve um ministro da Fazenda tão forte quanto o Malan. Ele terá maior controle da política econômica porque o Chico Lopes é mais identificado com ele. Neste momento, a saída de Franco foi positiva."

Aécio Neves (MG), líder do PSDB na Câmara - "A saída do Gustavo Franco já era esperada pelo mercado. A entrada do Chico Lopes gera uma expectativa de mudança na política cambial e de juros. A troca oxigena a relação da equipe econômica com o mercado."

Delfim Netto (PPB-SP), deputado federal -"Começou a salvação do Brasil. Nós começamos a caminhar na posição correta. Há razões para otimismo. Pelo menos isso revela que o presidente entendeu que precisa de duas políticas para resolver dois problemas (redução do déficit e alteração no câmbio). Perdemos quatro anos, mas isso não tem importância porque quem perdeu o emprego não foram eles."

Michel Temer (PMDB-SP), presidente da Câmara -"O alargamento da banda cambial poderá facilitar a queda dos juros. A própria situação, um pouco preocupante, é reveladora da necessidade da aprovação das medidas provisórias e da regulamentação da reforma administrativa. Não acredito que isso (troca no comando do Banco Central) possa criar qualquer problema no mercado financeiro."

Fernando Bezerra (PMDB-RN), presidente da CNI (Confederação Nacional da Indústria) - "A saída de Gustavo Franco foi uma coisa natural e esperada. Mostra que esse modelo adotado de política econômica estava esgotado. Nunca, em momento algum, eu pedi a cabeça de ninguém. Mas o Brasil não vai parar devido à saída dele."


Colaborou a Reportagem Local


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