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OPINIÃO ECONÔMICA
Quem avisa amigo é!
LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS
Os movimentos e decisões
recentes do governo Lula já
permitem ao analista atento
construir o arcabouço de sua política econômica. As decisões no
campo fiscal, como o contingenciamento de R$ 14 bilhões do Orçamento para 2003, e no campo
monetário, com a manutenção
do modelo explicativo da inflação
-a caixa-preta herdada da gestão Armínio Fraga-, revelam a
aposta que o ministro da Fazenda
decidiu bancar para enfrentar a
situação difícil que estamos vivendo. É malanismo puro!
O atual ministro da Fazenda,
quando foi convocado para substituir o prefeito de Santo André
no comando da equipe que definia o programa de governo do então candidato Lula, decidiu ouvir
economistas de fora do PT. Movimento sensato de quem tinha a
responsabilidade de encontrar
uma solução para a dupla crise de
confiança que o Brasil vivia: confiança na solvência externa do
país e confiança no novo governo
que deveria sair das eleições de
outubro.
Palocci, político já experiente,
percebeu nessas conversas que, se
insistisse nos caminhos propostos
pelos economistas do PT, não haveria a menor chance de sucesso
para Lula. A escalada da cotação
do dólar iria se acelerar e o colapso de nossas contas externas ocorreria em questão de semanas. O
sombrio caminho que percorria a
Argentina vinha imediatamente
à sua mente de homem com conhecimento da história e dos perigos que uma crise social profunda
traz, para a estabilidade política
de um país como o Brasil. Tomou
então a decisão de propor ao partido que buscasse, no campo que
chamava de direita neoliberal,
uma alternativa de política econômica.
Podemos imaginar a dramaticidade dessa decisão não só para
o ex-prefeito de Ribeirão Preto como para os demais membros do
grupo que dirigia o PT. Para Lula
então, nem pensar! Mas a decisão
foi tomada -sabemos hoje que
em junho do ano passado- e Palocci recebeu a missão de buscar
novos caminhos e encontrar profissionais capacitados para assumir a área econômica do governo.
Ficou claro também ao comando
petista que seria necessário que
um homem de confiança do partido liderasse esse verdadeiro
exército de mercenários ideológicos e antigos inimigos do PT. Sua
função seria a de blindar politicamente a equipe econômica e reduzir as tensões que certamente
apareceriam no interior do PT e
de seus braços auxiliares como a
CUT, as comunidades de base da
Igreja Católica e outros movimentos populares.
O que vou contar hoje a meus
leitores deveria ficar sob o manto
de um compromisso de confidencialidade que tais encontros imputam a quem é convidado. Mas
vou rompê-lo seguindo um argumento desenvolvido pelo próprio
PT, na sua versão oposição, para
justificar a divulgação de fitas
clandestinas e ilegais durante a
era FHC: a obrigação de informar
ao cidadão sobre o que ocorre
dentro de um governo é maior do
que restrições legais ou éticas.
Em suas conversas, o ministro
da Fazenda encontrou duas alternativas para substituir a política
econômica petista deixada sabiamente de lado. Dos defensores do
malanismo, ouviu que a única solução para enfrentar os problemas de nossa economia seria fazer mais do mesmo, ou seja, buscar um superávit fiscal ainda
mais elevado, manter o sistema
de metas de inflação de Armínio
Fraga e insistir nas reformas da
Previdência e fiscal. Prometiam
eles, caso o governo seguisse esse
caminho, uma normalização dos
fluxos de capitais de fora e, a partir da redução das tensões cambiais, a retomada do caminho do
crescimento econômico.
Dos críticos da política econômica do presidente FHC, Palocci
ouviu que a busca de superávits
fiscais e a melhora de sua qualidade, via uma reforma estrutural
da Previdência, representavam
apenas uma condição necessária
para a volta do crescimento econômico. A condição de suficiência
só seria obtida se essa política
conservadora em relação ao gasto
público fosse complementada
com medidas que reduzissem, de
maneira estrutural, o déficit na
conta corrente de nossa balança
de pagamentos. Para tanto, seriam necessárias ações para negociar com as empresas líderes de
algumas cadeias produtivas, com
maior grau de importações, um
aumento de seu índice de nacionalização. Escutou também críticas fortes ao sistema atual de metas de inflação e a necessidade de
uma mudança clara dos princípios nos quais o Banco Central vinha balizando sua política monetária.
Não temos dúvida hoje sobre
qual das duas correntes ganhou a
mente, se não também o coração,
de Palocci. Suas declarações, as
escolhas que fez para a montagem de sua equipe, a fragilidade
da direção do BNDES -órgão
que deveria liderar as ações de
adensamento da produção de alguns setores industriais- e as
primeiras decisões do governo Lula são provas cabais da escolha
feita. O comando do PT, por incrível que possa parecer, decidiu seguir, na gestão de nossa economia, os mesmos caminhos de
FHC.
Não vejo por que, depois de
mostrar toda sua fragilidade na
busca do crescimento econômico
sustentado ao longo de oito anos,
o malanismo vá dar certo agora.
A aposta feita é muito perigosa,
principalmente para um governo
que foi eleito como oposição radical a FHC e prometendo trazer de
volta a geração de empregos e o
aumento da renda dos trabalhadores. As tensões políticas e sociais devem se agravar muito nos
próximos meses.
Luiz Carlos Mendonça de Barros, 60,
engenheiro e economista, é sócio e editor do site de economia e política Primeira Leitura. Foi presidente do BNDES e
ministro das Comunicações (governo
FHC).
Internet: www.primeiraleitura.com.br
E-mail - lcmb2@terra.com.br
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