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PROTECIONISMO
A partir de hoje, em reunião em Tóquio, país tentará reduzir as barreiras às exportações de produtos agrícolas
Brasil inicia corrida contra o tempo na OMC
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A TÓQUIO
O governo brasileiro inicia hoje,
a partir da reunião miniministerial da OMC (Organização Mundial do Comércio), em Tóquio
(Japão), uma corrida contra o
tempo para tentar reduzir as barreiras para suas exportações, especialmente as agrícolas.
Corrida contra o tempo porque
a principal instância decisória da
OMC, a Conferência Ministerial,
realiza-se dentro de apenas sete
meses, sem que tenha havido progresso, até agora, nas negociações
em Genebra, a base da OMC.
Corrida contra o tempo também porque, a partir das propostas norte-americanas para a negociação da Alca (Área de Livre Comércio das Américas), ficou claro
que as concessões em pontos de
interesse para o Brasil terão que
ser obtidas no âmbito global, e
não no regional.
A prioridade brasileira continua
sendo agricultura e, nesse capítulo, a corrida contra o tempo é ainda mais urgente, porque no dia 31
de março vence o prazo para que
os 145 países-membros da OMC
definam as modalidades de negociação.
Ou seja, um ano e três meses depois da Conferência de Doha (Qatar), que lançou a nova rodada de
negociações comerciais, os países
da OMC não conseguiram terminar sequer a pré-negociação
("modalidades", no jargão diplomático, significa estabelecer o objetivo das negociações, a metodologia a ser seguida e o resultado final esperado pelas partes).
Mas, nos últimos dias, o nó agrícola ganhou algum sinal de que
começa a ser pelo menos objeto
de propostas. A mais recente delas foi iniciativa pessoal de Stuart
Harbinson (Hong Kong), que
chefia o Comitê de Negociações
Agrícolas da OMC.
Dedo na ferida
No documento, Harbinson põe
o dedo na ferida, ao dizer que se
atrevera a tomar a iniciativa de
preparar ele próprio um texto devido "às dificuldades que os participantes tiveram, até agora, para
construir pontes entre posições
fortemente divergentes e a consequente falta de orientação a respeito de propostas de soluções".
No ponto que trata de subsídios
às exportações, prioridade um do
Brasil dentro da prioridade geral
que é a agricultura, Harbinson
propõe que os países desenvolvidos cortem os subsídios à metade
em até cinco anos e os eliminem
em, no máximo, nove anos (países em desenvolvimento teriam,
respectivamente, 10 e 12 anos para
fazer a mesma coisa).
O alvo claro da proposta é a
União Européia, o bloco que mais
usa subsídios à exportação. Por isso mesmo, os europeus já reclamaram que o outro mecanismo
de apoio à exportação agrícola
(créditos como os usados principalmente pelos Estados Unidos)
não ficaram bem definidos na
proposta de Harbinson, o que é
verdade.
O ministro brasileiro da Agricultura, Roberto Rodrigues, não
havia tido tempo ainda de ler a
proposta, porque ficou mais de 24
horas entre aviões e aeroportos
para desembarcar ontem em Tóquio.
Rodrigues veio disposto a entender a posição européia, sem,
no entanto, deixar de lutar pela
eliminação do protecionismo
agrícola. O ministro cita o caso do
açúcar de beterraba, que sai por
US$ 700 na Europa, quando poderia ser importado do Brasil a
US$ 250 a tonelada.
"Acontece que 350 mil pequenos produtores seriam deslocados se não houvesse o subsídio",
reconhece Rodrigues.
É por isso que a prioridade é a
eliminação dos subsídios à exportação, graças aos quais a produção européia (ou norte-americana) pode chegar a terceiros países
a preços que impedem a entrada
do similar brasileiro.
"Uma coisa é manter o produtor no campo, mesmo sem produzir, e outra muito diferente é
gerar excedente exportável, porque é predatório", diz o ministro.
E completa: "Eles podem pagar
para não produzir e nós precisamos produzir para pagar nossas
contas".
Outros nós
Além de agricultura, que será o
tema central da reunião em Tóquio, ganhou urgência a discussão das barreiras não-tarifárias ao
comércio (antidumping, subsídios internos, cotas e restrições fitossanitárias, entre outras).
Ocorre que a proposta norte-americana para a negociação da
Alca -a área de livre comércio
que abrangerá os 34 países americanos, menos Cuba- remete para a OMC a possibilidade de concessões nesse capítulo, que é exatamente aquele em que o Brasil
enfrenta as maiores barreiras no
maior mercado do planeta, o dos
Estados Unidos.
Como na questão agrícola, pouco ou nada se avançou até agora
na discussão desses pontos desde
a Conferência de Doha, em novembro de 2001.
A reunião miniministerial terá a
participação de 25 dos 145 países-membros da OMC, exatamente
os mais importantes no comércio
global. Mas, como é óbvio, suas
decisões, se houver alguma, terão
que ser submetidas ao conjunto
dos integrantes da OMC.
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