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São Paulo, sexta-feira, 14 de fevereiro de 2003

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CURTO-CIRCUITO

Controladora da Eletropaulo perde US$ 1,23 bi em ativos no Brasil, o que poderia indicar intenção de saída do país

AES amarga prejuízo de US$ 3,5 bi em 2002

SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL

A AES Corporation, controladora da Eletropaulo, da AES Tietê e da AES Sul, registrou um prejuízo líquido de US$ 3,509 bilhões no ano passado, segundo balanço divulgado ontem nos EUA. Com esse desempenho ela inverteu o resultado de 2001, quando teve um lucro de US$ 273 milhões.
A empresa reporta perdas de US$ 1,293 bilhão no Brasil, após os impostos, pela deterioração de ativos e bens intangíveis relativos a seus investimentos na Eletropaulo e na Cemig (na qual tem 33% das ações ordinárias).
Segundo analistas do setor elétrico ouvidos pela Folha, esses valores não se referem aos resultados das operações no Brasil, mas entram como prejuízo no balanço da matriz, pois a AES está reduzindo sua conta de ativos.
No final de janeiro, a companhia americana havia anunciado que faria a reavaliação dos seus ativos no país, "em razão do ambiente econômico e regulatório desfavorável no Brasil". Os analistas consideram que a baixa de ativos sinaliza uma possível saída da corporação do país.
Segundo eles, contabilmente, é como se a AES tivesse retirado US$ 1,293 bilhão em investimentos daquelas empresas. A baixa de ativos teria sido feita pela empresa diante da expectativa de que possa ter prejuízos no país. Dessa forma, funciona como um provisionamento de perdas futuras. Procuradas, a Cemig e a Eletropaulo não se manifestaram.
A AES fez o mesmo tipo de reavaliação de ativos no Reino Unido, registrando perda de US$ 1,013 bilhão e nos EUA, onde a perda foi de US$ 171 milhões, após os impostos.
Apenas no último trimestre do ano passado a AES Corp. anotou perda líquida de US$ 2,766 bilhões. As receitas no período alcançaram US$ 2,214 bilhões, valor superior ao do último trimestre de 2001, de US$ 1,926 bilhão.
"Apesar de um ano extremamente desafiador para a AES e para o setor como um todo, estou orgulhoso do progresso geral feito pela empresa em 2002", disse o diretor-executivo, Paul Hanrahan.
Tal otimismo diante dos números mostrados no balanço, segundo analistas, só se explica pela história da AES Corp. Trata-se de uma empresa criada por arrojados operadores e analistas do mercado financeiro nova-iorquino nos anos 90.
Eles identificaram grandes oportunidades de negócios no setor elétrico em vários países e saíram pelo mundo comprando empresas com recursos de terceiros. A idéia era resgatar as dívidas -contraídas a taxas baixas nos EUA- com os resultados obtidos na operação dos negócios.
Mas os ventos mudaram, veio a crise dos mercados emergentes, o racionamento brasileiro e californiano e a AES foi pega no contrapé, extremamente alavancada. Os prejuízos atuais, dizem os analistas, são fruto dessa história.


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