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Contrato com
BNDES impede
envio de lucro
CHICO SANTOS
DA SUCURSAL DO RIO
De acordo com o contrato original do empréstimo feito pelo
BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) à AES para a compra da Eletropaulo, a empresa não poderia
"distribuir lucro de qualquer natureza" que pudesse vir a comprometer a quitação do financiamento.
Mesmo assim, entre 1998 e 2001,
a AES Eletropaulo destinou R$
863,6 milhões para pagamento de
dividendos e juros sobre o capital,
segundo levantamento feito pela
Economática, com base nos balanços da empresa. Naquele período, as três controladas da AES
Corporation - Eletropaulo, AES
Tietê e AES Sul- distribuíram
mais de R$ 1 bilhão em dividendos e juros sobre o capital, a
maior parte enviada à matriz.
"Não distribuir lucros de qualquer natureza de forma que venha a comprometer o pagamento
das obrigações decorrentes do
presente contrato", diz o item 6º
da décima cláusula do contrato
firmado no dia 16 de abril de 1998
entre o BNDES e a Lightgás Ltda.,
originalmente formada pela AES
(Estados Unidos), pela EDF
(França) e por outros sócios.
A Folha procurou ontem o
BNDES e a Eletropaulo para saber
se o pagamento de dividendos pela empresa significava uma desobediência aos termos do contrato.
Não houve retorno à solicitação.
Em fevereiro do ano passado foi
concluída a separação entre os sócios da Lightgás, ficando o controle da Eletropaulo com a AES.
Conforme a Folha revelou na
sua edição de ontem, o cronograma original de pagamento do empréstimo não foi cumprido. O valor de R$ 1,013 bilhão, acrescido
de juros de 5% ao ano mais correção cambial, deveria ter sido pago
em nove prestações, a última das
quais no próximo dia 15 de abril.
A AES deve ao BNDES o equivalente a US$ 1,216 bilhão (R$ 4,45
bilhões pela cotação do fechamento de ontem). O valor é o saldo a pagar do empréstimo contraído para a compra da Eletropaulo (R$ 1,7 bilhão, segundo a
empresa) mais o saldo devedor de
outro empréstimo contraído na
época da separação da Lightgás.
No dia 31 de janeiro deste ano, a
empresa norte-americana deixou
de pagar ao banco estatal uma
parcela da sua dívida equivalente
a US$ 85 milhões, declarando-se
inadimplente tecnicamente. O
BNDES e o governo brasileiro
ainda estão estudando que providências tomar em relação à inadimplência da AES.
Uma decisão pode sair na próxima semana. Há setores, como o
liderado pela ministra das Minas
e Energia, Dilma Rousseff, que
defendem o acionamento das garantias, o que significa, na prática,
a reestatização da Eletropaulo,
empresa que abastece de energia
elétrica a região metropolitana de
São Paulo.
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