São Paulo, domingo, 14 de março de 2004

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Cidade tem o maior IDH de Mato Grosso, mas só 25% dos trabalhadores possuem carteira assinada

Sorriso, capital da soja, cresce 13% ao ano

MAURO ALBANO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SORRISO (MT)

No município com a maior área plantada de soja do mundo, o agronegócio trouxe crescimento econômico de 13% ao ano e a maior média salarial de trabalhadores rurais do país, mas cerca de 75% dos funcionários das fazendas trabalham sem registro em carteira e sem equipamentos de proteção e segurança.
Sorriso (462 km de Cuiabá), no médio-norte de Mato Grosso, possui 590 mil hectares de soja divididos em cerca de 1.600 propriedades rurais. O hectare na região tem produtividade média de 55 sacas (cada uma cotada em aproximadamente R$ 35).
O empregado rural de Sorriso recebe em média R$ 500 mensais e um bônus de 500 sacas de soja (quase R$ 18 mil) por ano -sem gastar nada com comida ou moradia, bancadas pelo fazendeiro. Somando as rendas, o trabalhador ganha perto de R$ 24 mil anuais, ou R$ 2.000 por mês.
"No Sul, o peão dificilmente recebe mais do que um salário mínimo, e sem bônus anual nenhum", afirma José Carlos Suzin, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Sorriso.
Cerca de 80% dos 55 mil habitantes de Sorriso vieram de Rio Grande do Sul, Santa Catarina ou Paraná, segundo a prefeitura. Chegaram ao município atraídos pela promessa de terra boa e barata, geralmente incentivados por parentes ou amigos que haviam migrado antes.
A cidade foi emancipada em 1986, quando havia menos de 80 mil hectares de soja plantados. Desde então vem registrando um crescimento econômico de 13% ao ano e populacional de 12%, de acordo com a prefeitura.
O PIB (Produto Interno Bruto), passou de R$ 207 milhões, em 1998, para R$ 706 milhões, em 2003, segundo a Secretaria da Fazenda de Mato Grosso. Sorriso tem o maior IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do Estado (e o 186º do país).
O agronegócio representa 60% do faturamento de município. A moeda oficial das negociações imobiliárias não é o real, mas a saca de soja. Os restaurantes locais servem pizza de soja.
Não que os bens sejam pagos em soja. Mas, quando alguém avalia um apartamento ou terra, faz o cálculo de quantas sacas de soja isso custaria.
Até junho deve ser inaugurado o primeiro shopping da cidade, o Park Shopping Sorriso, com 65 lojas. A construtora responsável pelo empreendimento diz que cidades do tamanho de Sorriso geralmente comportam shoppings de porte menor, mas aposta no "alto poder aquisitivo" local.
Mas, segundo o sindicato, apenas 25% dos 8.000 funcionários de fazendas trabalham com carteira assinada e com equipamentos de proteção adequados. Suzin afirma que o problema é "cultural". "O fazendeiro geralmente é alguém que foi peão no Sul e trabalhava sem carteira", diz.
Ele reconhece que a alta média salarial faz a situação do trabalhador de Sorriso ser "privilegiada". "Se ele for dispensado, fica completamente desamparado."
O prefeito do município, José Domingos Fraga Filho (PMDB), diz que a capacidade de absorção de mão-de-obra está esgotada. "Não dá para continuar recebendo gente. Pelo menos, não mantendo o atual padrão de vida."



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