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LUÍS NASSIF
De mão beijada, não
O fim de semana foi pródigo em versões rocambolescas sobre as negociações em
torno do padrão de televisão
digital -em quase todas aparecendo como herói o ministro
das Comunicações, Hélio Costa. De acordo com uma das versões, em uma reunião do comitê ministerial incumbido de escolher o sistema, o ministro do
Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, teria ponderado
que o padrão deveria permitir
a exportação de produtos pelo
Brasil. E o indômito Hélio, defensor do padrão japonês, teria
liquidado a discussão argumentando que as empresas japonesas exportam para o mundo todo.
Apesar de todos os balões de
ensaio disparados, definitivamente não há decisão sobre o
sistema de TV digital. Ainda está em fase de consulta, e pelo
menos parte dos ministros envolvidos tem recomendado ao
presidente ir mais devagar, inclusive abrindo para consulta
pública, por duas razões muito
simples. Primeiro, porque dá
tempo para melhorar os "off-sets" (as contrapartidas exigidas dos competidores) e legitimar a escolha. Segundo, porque
o sistema japonês para celular
nem sequer foi para o ar ainda
e o teste do sistema europeu, na
semana passada, não foi bem-sucedido.
Ontem, seis embaixadores
europeus tiveram uma reunião
de emergência com os ministros
incumbidos de definir o padrão. O das Comunicações não
compareceu. Compareceram o
da Fazenda, Antonio Palocci
Filho, Furlan e a ministra-chefe
da Casa Civil, Dilma Rousseff.
Na reunião ficaram claras as
regras do jogo. Para um padrão
ser escolhido, o ponto-chave será a fábrica de semicondutores.
O que se pretende não é uma
fábrica qualquer, uma encapsuladora, como a implantada
pela Intel em Costa Rica, mas
uma fábrica de inovação, como
a Intel está montando em Israel. A primeira é uma mera
CKD, uma montadora de componentes importados. Já a fábrica de inovação permite o domínio da tecnologia de queimar o chip e criar o algoritmo
-isto é, de gerar a inteligência.
Permitirá criar inovações para
televisores, geladeiras, eletrônica embarcada e queimar o chip
correspondente.
A idéia é que em torno dessa
fábrica de chip seja instalada
toda uma estrutura de empresas de designers de chips -ou
seja, aquelas que montam os
sistemas inteligentes que, depois, serão encapsulados.
Outro ponto é que a empresa
terá que ser uma joint venture
com capitais nacionais privados. E, de preferência, financiado pelos países detentores da
tecnologia.
Essa mesma proposta foi feita
para os japoneses. No caso europeu, a STM -maior empresa
de semicondutores da Europa- se ofereceu para estudar
se implantar no Brasil. Até agora, há mera manifestação de
intenção. Para levar o sistema,
o competidor terá que apresentar uma proposta firme.
A divisão, agora, é apenas entre os ministros que querem decisão rápida e os que julgam
mais prudente dar um tempo
maior. Pode dar europeu, pode
dar japonês. Mas o padrão Hélio Costa de entregar o mercado
brasileiro de mão beijada está
definitivamente descartado.
E-mail - Luisnassif@uol.com.br
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