São Paulo, terça-feira, 14 de março de 2006

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GASTO PÚBLICO

Extravio não é explicado pela diretoria da Lightpar, ligada ao PT
Somem livros de estatal acusada de empreguismo

FERNANDO CANZIAN
DA REPORTAGEM LOCAL

Dois livros com informações financeiras da Lightpar, subsidiária da Eletrobrás e acusada de ser um "cabide de empregos" de pessoas ligadas ao PT e ao PMDB, sumiram da empresa.
O comunicado sobre o extravio foi publicado no jornal "Gazeta Mercantil" em sua edição do final de semana. Dois dias antes, a Folha havia questionado a Lightpar sobre seus gastos e resultados. A Folha publicou reportagem sobre as acusações de "empreguismo" no domingo.
Procurados várias vezes ontem, o presidente da Lightpar, Rogério Silva, e o diretor financeiro, Nelson Rocha, não responderam às ligações da reportagem para explicar o sumiço e o conteúdo dos dois volumes.
Também não foi encontrado na Loudon Blomquist, empresa que audita a Lightpar, o responsável pelas contas da estatal, identificado como Paulo Roberto Pereira, que estaria em viagem.
Além da Lightpar, segundo dados da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), a Loudon Blomquist também audita as companhias abertas Docas Investimentos, do empresário Nelson Tanure, e a Sano S.A. Indústria e Comércio. Segundo a Bovespa, a Sano faliu em 2002 e teve seu registro no mercado cancelado.
À exceção da Lightpar, as outras subsidiárias da Eletrobrás são auditadas por empresas maiores e conhecidas, como Trevisan, PriceWaterhouse e KPMG.
A estatal Lightpar foi criada para controlar a Eletronet, que faliu em 2003 com dívidas de R$ 600 milhões depois de montar uma rede nacional de fibras ópticas. Hoje, a Eletronet é administrada pelo síndico da massa falida, o advogado Isaac Zveiter.

Sem funções
Segundo o ex-presidente da Lightpar, Joaquim de Carvalho, a empresa deixou de ter razões para existir depois da falência da Eletronet. Ele afirma que a Lightpar atua hoje exclusivamente para pagar salários a gente sem função.
Em outubro passado, quando recomendou a extinção da Lightpar, Carvalho foi convidado pela Eletrobrás para atuar como consultor, "com honorários elevados e horário flexível". Ele recusou a proposta e deixou a empresa.
O seu atual presidente, Rogério Silva, diz que a Lightpar ainda existe para cuidar da falência da Eletronet, função negada pelo síndico da massa falida.
Além de Silva e Rocha, há outros dois diretores, ligados ao PMDB de Minas, com salários de R$ 14.350 e que teriam direito a 14 remunerações anuais (além de outras "gratificações").
Silva e Rocha são ligados ao PT. O primeiro trabalhou na administração Marta Suplicy em São Paulo, e o segundo, na de Benedita da Silva, no Estado do Rio. Rocha teria a intenção de se candidatar a deputado federal pelo Rio com o apadrinhamento do ex-assessor da Casa Civil da Presidência Marcelo Sereno -que também já fez parte do conselho de administração da Lightpar.
A única fonte de renda da Lightpar são pequenas participações (menores que 2%) em empresas do setor elétrico. No primeiro semestre de 2005, a Lightpar acumulou prejuízo de R$ 724 mil.
Controlam hoje o capital da Lightpar a Eletrobrás (81,6%) e alguns acionistas minoritários (18,4%). Os minoritários reclamam da falta de objetivos e dos gastos da empresa, que consumiria seus rendimentos (além de fazer dívidas) para pagar salários. A última vez em que a Lightpar pagou dividendos foi em abril de 98.

Eletrobrás
Ontem, a Eletrobrás, que controla a Lightpar, continuou sem responder aos questionamentos da Folha sobre as funções de sua subsidiária e as acusações da Aeel (Associação dos Empregados da Eletrobrás) de que haveria 40 assessores na estatal (58% dos quais de fora dos quadros da empresa).
Segundo a Aeel, os assessores, muitos indicados politicamente, provocam gastos mensais de R$ 600 mil (R$ 7,2 milhões ao ano).
Como exemplo de "funcionário fantasma", a Aeel apontou Omar Marzagão, que muito raramente é visto na empresa.
Em carta à Folha, Marzagão afirma ter sido contratado como assessor da presidência em abril de 2004: "Tal nomeação baseou-se na minha formação educacional e profissional. Minhas atribuições incluíam participar de viagens internacionais e acompanhar personalidades estrangeiras que vinham ao Brasil para discutir negócios".
Questionado sobre datas, interlocutores e resultados desses "encontros internacionais", Marzagão (filho de Augusto Marzagão, ex-chefe da Assessoria de Comunicação Institucional no governo Itamar Franco) não respondeu aos questionamentos até o fechamento desta edição.


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