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GASTO PÚBLICO
Extravio não é explicado pela diretoria da Lightpar, ligada ao PT
Somem livros de estatal acusada de empreguismo
FERNANDO CANZIAN
DA REPORTAGEM LOCAL
Dois livros com informações financeiras da Lightpar, subsidiária
da Eletrobrás e acusada de ser um
"cabide de empregos" de pessoas
ligadas ao PT e ao PMDB, sumiram da empresa.
O comunicado sobre o extravio
foi publicado no jornal "Gazeta
Mercantil" em sua edição do final
de semana. Dois dias antes, a Folha havia questionado a Lightpar
sobre seus gastos e resultados. A Folha publicou reportagem sobre
as acusações de "empreguismo"
no domingo.
Procurados várias vezes ontem,
o presidente da Lightpar, Rogério
Silva, e o diretor financeiro, Nelson Rocha, não responderam às
ligações da reportagem para explicar o sumiço e o conteúdo dos
dois volumes.
Também não foi encontrado na
Loudon Blomquist, empresa que
audita a Lightpar, o responsável
pelas contas da estatal, identificado como Paulo Roberto Pereira,
que estaria em viagem.
Além da Lightpar, segundo dados da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), a Loudon Blomquist também audita as companhias abertas Docas Investimentos, do empresário Nelson Tanure, e a Sano S.A. Indústria e Comércio. Segundo a Bovespa, a Sano faliu em 2002 e teve seu registro no mercado cancelado.
À exceção da Lightpar, as outras
subsidiárias da Eletrobrás são auditadas por empresas maiores e
conhecidas, como Trevisan, PriceWaterhouse e KPMG.
A estatal Lightpar foi criada para controlar a Eletronet, que faliu
em 2003 com dívidas de R$ 600
milhões depois de montar uma
rede nacional de fibras ópticas.
Hoje, a Eletronet é administrada
pelo síndico da massa falida, o advogado Isaac Zveiter.
Sem funções
Segundo o ex-presidente da
Lightpar, Joaquim de Carvalho, a
empresa deixou de ter razões para
existir depois da falência da Eletronet. Ele afirma que a Lightpar
atua hoje exclusivamente para pagar salários a gente sem função.
Em outubro passado, quando
recomendou a extinção da Lightpar, Carvalho foi convidado pela
Eletrobrás para atuar como consultor, "com honorários elevados
e horário flexível". Ele recusou a
proposta e deixou a empresa.
O seu atual presidente, Rogério
Silva, diz que a Lightpar ainda
existe para cuidar da falência da
Eletronet, função negada pelo síndico da massa falida.
Além de Silva e Rocha, há outros dois diretores, ligados ao
PMDB de Minas, com salários de
R$ 14.350 e que teriam direito a 14
remunerações anuais (além de
outras "gratificações").
Silva e Rocha são ligados ao PT.
O primeiro trabalhou na administração Marta Suplicy em São Paulo, e o segundo, na de Benedita da
Silva, no Estado do Rio. Rocha teria a intenção de se candidatar a
deputado federal pelo Rio com o
apadrinhamento do ex-assessor
da Casa Civil da Presidência Marcelo Sereno -que também já fez
parte do conselho de administração da Lightpar.
A única fonte de renda da Lightpar são pequenas participações
(menores que 2%) em empresas
do setor elétrico. No primeiro semestre de 2005, a Lightpar acumulou prejuízo de R$ 724 mil.
Controlam hoje o capital da
Lightpar a Eletrobrás (81,6%) e alguns acionistas minoritários
(18,4%). Os minoritários reclamam da falta de objetivos e dos
gastos da empresa, que consumiria seus rendimentos (além de fazer dívidas) para pagar salários. A
última vez em que a Lightpar pagou dividendos foi em abril de 98.
Eletrobrás
Ontem, a Eletrobrás, que controla a Lightpar, continuou sem
responder aos questionamentos
da Folha sobre as funções de sua
subsidiária e as acusações da Aeel
(Associação dos Empregados da
Eletrobrás) de que haveria 40 assessores na estatal (58% dos quais
de fora dos quadros da empresa).
Segundo a Aeel, os assessores,
muitos indicados politicamente,
provocam gastos mensais de R$
600 mil (R$ 7,2 milhões ao ano).
Como exemplo de "funcionário
fantasma", a Aeel apontou Omar
Marzagão, que muito raramente é
visto na empresa.
Em carta à Folha, Marzagão afirma ter sido
contratado como assessor da presidência em abril de 2004: "Tal
nomeação baseou-se na minha
formação educacional e profissional. Minhas atribuições incluíam
participar de viagens internacionais e acompanhar personalidades estrangeiras que vinham ao
Brasil para discutir negócios".
Questionado sobre datas, interlocutores e resultados desses "encontros internacionais", Marzagão (filho de Augusto Marzagão,
ex-chefe da Assessoria de Comunicação Institucional no governo
Itamar Franco) não respondeu
aos questionamentos até o fechamento desta edição.
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