São Paulo, sábado, 14 de março de 2009

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Empresa reduz margem para driblar crise

Estudo aponta que, para manter as vendas, empresas evitaram repassar aumento de custo ou tiveram de reduzir preço

No 4º trimestre de 2008, despesas com juro e câmbio levaram 66% dos ganhos das companhias, levando a queda de 50% no lucro final

Moacyr Lopes Junior - 29.jan.09/Folha Imagem
Operário em siderúrgica no Rio de Janeiro; setor financeiro foi um dos que tiveram queda de margem de ganho

TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL

Para driblar a crise, empresas de diferentes setores com ação em Bolsa tiveram de aceitar uma redução em suas margens de lucro no ano passado, movimento acentuado no quatro trimestre, segundo estudo da consultoria Economática.
O estudo revela que a crise teve pouco impacto nas receitas anuais das empresas, que continuaram com forte crescimento até o final do ano -saltaram de R$ 88,6 bilhões para R$ 104 bilhões de 07 para 08.
Por outro lado, houve um "descompasso" da expansão das vendas com o crescimento do lucro nos negócios, o chamado lucro operacional. Ou seja, as empresas continuaram vendendo bem, mas os ganhos se tornaram mais difíceis.
No quarto trimestre, enquanto as receitas cresceram 17,3% em relação ao mesmo período de 2007, o lucro operacional aumentou 9% na mesma comparação. O estudo levou em conta o resultado de até 85 empresas, excluindo bancos e as gigantes Vale e Petrobras.
"Uma das explicações é que, para as empresas conseguirem esse volume de vendas, tiveram de baixar muito o preço. Produziram e venderam mais, mas com preço mais baixo. Ou pagaram mais pela matéria-prima e venderam com preço pouco maior", disse Fernando Exel, presidente da Economática.
O retrato mais negativo, porém, veio das despesas financeiras com pagamento de juros e a variação cambial, que dispararam depois da quebra do Lehman Brothers, em setembro. Em 2008, o dólar saltou 31,9%, sendo 22,1% só no último trimestre.
Como a Folha alertou já em outubro, as despesas financeiras de R$ 9,132 bilhões consumiram 66% dos R$ 13,774 bilhões que as empresas ganharam em seus respectivos negócios (lucro operacional) no quarto trimestre. Em 2008 como um todo, o efeito fica diluído e consome 30% dos ganhos.

Queda nos lucros
O resultado final foi uma queda de 9,4% no lucro líquido dessas empresas em 2008, na comparação com 2007. O quadro fica mais dramático na análise isolada do quarto trimestre do ano passado, quando a queda nos lucros foi de 50,6% na comparação com o mesmo período do ano anterior.
Para Mônica Araújo, analista da corretora Ativa, as empresas estão se desdobrando para minimizar o impacto da crise em seus setores de atuação. Como exemplo, cita o caso do setor de consumo, que até o quarto trimestre não foi muito impactado pela crise.
"O quadro visto no quarto trimestre sugere muita incerteza para o início de 2009. Os investimentos vão depender não do grau de alavancagem, mas da disponibilidade de crédito e do sentimento do empresariado de que terá retorno. Setores como energia, telecomunicações e serviços públicos devem manter sua atratividade", disse.
Kelly Trentin, analista da SLW, pondera que nem todos os setores tiveram queda em suas margens. Ela lembra que empresas de telecomunicações, energia, concessionárias de rodovias e algumas varejistas tiveram até aumento de margem. No caso, as empresas com maior redução de margem foram as de commodities, siderurgia, química e petroquímica.
Trentin reconhece que as despesas financeiras tiveram um impacto sem precedente no resultado das empresas, mas que o choque foi menor do que o visto no terceiro trimestre por conta das operações de derivativos. "Muitas dessas operações foram desmontadas no quarto trimestre. As empresas em geral mostraram uma despesa financeira maior por conta do dólar. Muitas tinham não só endividamento em dólar, mas ativos no exterior que geraram uma despesa financeira [maior]", disse.


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