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Motel vira abrigo para despejados nos EUA
Famílias de classe média que perderam casas passam a viver em hotéis de beira de estrada com a conta paga por entidades beneficentes
Famílias de até seis pessoas
chegam a dividir um cômodo
e a fazer rodízio para dormir,
além de comer em turnos
com pratos emprestados
ERIC ECKHOLM
DO "NEW YORK TIMES", EM COSTA MESA, CALIFÓRNIA
Greg Hayworth, 44, formou-se na Universidade Syracuse e
ganhava a vida bem em seu Estado natal, a Califórnia, trabalhando com financiamento
imobiliário e hipotecas. Mas o
setor afundou, e no início do
ano passado o banco desapropriou a casa que sua família alugava. A família foi despejada.
Agora o casal Hayworth e
seus três filhos representam o
novo rosto dos sem-teto em
Orange County: pessoas ex-classe média que subsistem de
uma semana para outra em
quartos apertados em motéis
(nos EUA, hotéis em geral na
beira de estrada, conceito diferente do Brasil).
"Devo a meus filhos nos tirar
daqui", disse Hayworth, lembrando a noite em que viram
um vizinho do motel arrastar
uma mulher seminua pela porta afora, espancando-a.
Com a recessão se aprofundando, pessoas que perderam
seus empregos após anos de
trabalho estão enfrentando o
medo e o estigma da condição
de sem-teto pela primeira vez,
incluindo pessoas que são proprietárias ou locatárias há anos.
Algumas aparecem em abrigos
e nas ruas, mas outras, como os
Hayworth, são os sem-teto
ocultos -vivendo apinhados
em apartamentos, garagens ou
motéis, sem serem contabilizados nas estatísticas Sobre sem-teto e, frequentemente, recebendo pouca ajuda pública.
Os Hayworth tentaram hospedar-se com parentes, mas em
setembro acabaram instalando-se no Costa Mesa Motor
Inn. Eles são uma das mais de
mil famílias que se estima que
estejam vivendo em motéis,
apenas em Orange County. E
estão entre as poucas felizardas: uma organização beneficente paga parte da conta do
motel, de US$ 800 mensais, enquanto Hayworth tenta reconstruir sua carreira.
A família, que inclui uma filha de 15 anos, divide um quarto e dorme em duas camas.
Com a maioria de seus bens
guardados em guarda-móveis,
eles comem em dois turnos,
usando três pratos emprestados -é o que cabe no minúsculo armário de porta emperrada.
Terri Hayworth, a mulher de
Greg, tem problemas de saúde.
Como muitas outras famílias,
os Hayworth não conseguem
juntar o dinheiro para o depósito e outros custos iniciais de
alugar uma moradia nova.
"Os motéis viraram a solução
habitacional barata de fato de
Orange County", disse Wally
Gonzalez, diretora do Project
Dignity, uma das organizações
beneficentes e grupos de igreja
que surgiram para prestar assistência às famílias. A maioria
das organizações recebe donativos de alimentos, roupas e
brinquedos e ajuda algumas dezenas de famílias.
No passado, as famílias que
moravam em motéis vinham
sobretudo das classes que sofrem problemas crônicos. Um
artigo publicado em 1998 pelo
"The Orange County Register"
expondo a situação de crianças
que vivem em motéis levou à
criação de forças-tarefa urbanas e promessas de ajuda. Nos
últimos meses, porém, as escolas, as igrejas e organizações beneficentes relatam que um tipo
diferente de família vem aparecendo nesses lugares.
"As pessoas que vêm pedir
ajuda hoje são de origem demográfica mais diversificada do
que foi visto no passado, incluindo famílias de renda média", disse Terry Lowe, diretor
de serviços comunitários em
Anaheim, Califórnia.
Os motéis variam desde os
que ostentam tapetes rasgados
e hóspedes que são dependentes de álcool e drogas até lugares mais novos, com playgrounds e pequenas cozinhas.
Esses estabelecimentos se parecem com outros de preço módico frequentado por pessoas a
caminho das cidades de praia
mais requintadas. Mas basta
entrar em um deles para ter
uma impressão diferente.
Lição na cama
À noite, o cheiro de molho de
macarrão preparado em chapa
elétrica sai de portas semiabertas; pela manhã, crianças saem
para pegar o ônibus escolar. Famílias de três, seis ou mais pessoas se apertam em um só cômodo, com uma criança fazendo sua lição de casa sobre a cama ao lado de outra que assiste
TV. As crianças fazem rodízio
para dormir, algumas no chão.
Outras famílias, como os Malpica, num motel em Anaheim,
usam um armário para colocar
os berços de seus bebês.
O pacote de estímulo de Obama pode dar esperança a mais
pessoas e reduzir o aumento
projetado do número de famílias que podem acabar em motéis e abrigos, disse Nan Roman, da Aliança Nacional para
Pôr Fim à Falta de Moradia. O
pacote prevê US$ 1,5 bilhão para a prevenção da perda de moradias. Parte do dinheiro seria
usada para pagar o aluguel.
Tradução de CLARA ALLAIN
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