São Paulo, domingo, 14 de março de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

5 - A informação tem valor

Dogma do conteúdo gratuito perde força

DO "FINANCIAL TIMES"

Se existe uma ortodoxia dos últimos dez anos que o setor de mídia tem todos os motivos para amaldiçoar é aquela que surgiu em 1984, quando Stewart Brand declarou, em palestra na Hackers" Conference, que "a informação deseja ser livre".
As pessoas ainda discordam sobre o que ele quis dizer, mas a frase oferece uma capa de respeitabilidade intelectual a diversas coisas, da pirataria de música à ideia de que não pagar pelo acesso a notícias é traço imutável da cultura da web.
Quando as pessoas ainda falavam em "via expressa da informação", desdenhavam a ideia de que a estrada proposta precisasse de pedágios. A publicidade on-line supostamente cobriria os custos incorridos pelos donos da informação.
Mas o conteúdo grátis para todos erodiu os modelos de negócios das companhias de mídia e acarreta o risco de sobrecarga das redes de informação. Agora, os proprietários de conteúdo, de editoras de revistas a emissoras de TV imaginam por que teriam depositado toda a sua confiança em uma só fonte de receita, a publicidade.
É hora de relermos a citação completa de Brand: "Por um lado, a informação deseja ser dispendiosa, porque é muito valiosa. Por outro lado, ela deseja ser livre [ou gratuita], porque o custo de obtê-la não para de cair. Por isso, temos essas duas tendências em permanente combate".
Na primeira década digital do novo século, esse combate muitas vezes não aconteceu, mas agora o lema de que "a informação quer ser dispendiosa" vem ganhando força. As editoras pressionaram a Amazon.com a elevar os preços dos livros eletrônicos. A "economia dos aplicativos" criada pela Apple está permitindo que até mesmo sites gratuitos cobrem pelo acesso via iPods e iPads, e o "New York Times" está seguindo o exemplo de publicações especializadas como o "Financial Times" e o "Wall Street Journal" de cobrar pelo acesso on-line às suas notícias.
Para os consumidores que desfrutavam de todo esse conteúdo gratuitamente, isso parece ameaçador. Por outro lado, acabamos de passar uma década nos fartando de conteúdo excessivo e de muito baixo valor nutritivo. Talvez o conteúdo pago se prove mais denso. Quanto à máxima de Brand, é melhor que tentemos uma nova, na próxima década: o conteúdo quer ser valioso.

ANDREW EDGECLIFFE-JOHNSON, editor de mídia nos Estados Unidos



Texto Anterior: 4 - Energia mais inteligente: Novas tecnologias racionalizam a geração e o uso da eletricidade
Próximo Texto: 6 - Ganhando com o fracasso: Tentativa e erro viram técnica de negócios
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.