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Economia esfriou no 1º tri, diz consultoria
Com base na movimentação da moeda no país, LCA calcula que o PIB tenha crescido perto de zero em relação ao 4º tri de 2007
Ante 1º tri de 2007, expansão
foi de 5%, mas, segundo
consultoria, dado causa
distorção, pois base de
comparação é fraca
GUILHERME BARROS
COLUNISTA DA FOLHA
A economia brasileira não está superaquecida no início deste ano, diferentemente do que a
maioria dos analistas estima.
Pelo contrário, está em processo de desaceleração, o que deverá contribuir para a redução
dos riscos de descumprimento
da meta de inflação.
Diante desse quadro, a LCA
Consultores Associados diz que
não há razão para o Banco Central adotar uma política monetária muito dura. A expectativa
no mercado é que o Copom
(Comitê de Política Monetária)
eleve os juros, hoje em 11,25%,
em ao menos 0,25 ponto percentual na quarta-feira.
A conclusão de que a economia está em desaceleração
consta em estudo realizado pela LCA para calcular o desempenho da economia no primeiro trimestre. Pelas contas da
consultoria, o PIB no período
cresceu próximo de zero -entre zero e 0,5%- em relação ao
quarto trimestre do ano passado e 5% ante os primeiros três
meses de 2007.
A LCA chama a atenção, no
entanto, para o fato de que a
economia, no ano passado, só
começou a mostrar sinais de
aceleração a partir de março, o
que significa que os primeiros
três meses foram fracos.
Dessa forma, a comparação
do primeiro trimestre deste
ano com o mesmo período de
2007 apresentaria distorção, já
que a base de comparação é baixa. A LCA diz que é por isso que
os números estão inflados neste início do ano: licenciamento
de veículos crescendo ao ritmo
de 30%, e produção industrial,
a 10%, entre outros exemplos.
Segundo Bráulio Borges, economista da LCA, uma análise
mais cuidadosa dos números
aponta que a velocidade marginal da atividade econômica, isto é, trimestre após trimestre,
mostra uma desaceleração relevante. "A economia esfriou
bastante no começo deste ano."
Segundo a LCA, os números
do PIB do quarto trimestre de
2007 já haviam mostrado isso.
Em termos de valor adicionado
(isto é, somando as contribuições dos PIBs agropecuário, industrial e de serviços, sem incluir impostos), a variação do
PIB no último trimestre do ano
passado foi de 1,2% (ou 5,1% em
termos anualizados), após ter
crescido 1,8% (7,2% ao ano) no
terceiro trimestre.
Os indicadores já conhecidos
de 2008 sinalizam novo arrefecimento. A LCA usa exemplos
para mostrar a desaceleração:
1) a produção de automóveis
avançou 1,5% no primeiro trimestre, após ter crescido 4,3%
no quarto trimestre de 2007
(dados dessazonalizados); 2) o
consumo de energia caiu 1,1%
no primeiro trimestre, ante alta
de 1,2% no quarto trimestre
(também dessazonalizados); 3)
o fluxo pedagiado de veículos
das rodovias subiu 0,8% no primeiro trimestre, ante expansão
de 1,7% no quarto trimestre; e
4) o agregado monetário M1
(base monetária mais depósitos à vista) real apresentou recuo de 1,5% no primeiro trimestre, contra expansão de
4,6% no quarto trimestre (números dessazonalizados).
A partir dos números de M1,
a LCA desenvolveu indicador
para calcular o desempenho do
PIB. Segundo a consultoria, a
série histórica desses dois dados apresenta uma correlação
muito elevada. O M1 pode ser
usado como indicador com elevado grau de acerto para medir
o desempenho do PIB com antecedência.
Contraponto
As conclusões da LCA contrastam, no entanto, com as do
Itaú. Segundo o Informativo
Econômico Semanal do departamento econômico do banco,
até o começo de março ainda
havia dúvidas sobre a necessidade de elevação dos juros para
manter a inflação em trajetória
coerente com as metas.
O documento assinala, no
entanto, que, desde a última
reunião do Copom, as novas informações não foram tranqüilizadoras. Os dados do último
trimestre de 2007 evidenciaram o aquecimento da economia. O consumo das famílias,
que crescia num ritmo de 6% ao
ano, acelerou-se para 8,6%.
Além disso, o informativo assinala que, embora o investimento tenha se expandido a taxas ainda mais altas, o temor de
um descompasso futuro entre a
oferta e a demanda se justifica.
As informações sobre os primeiros meses de 2008 não sugerem arrefecimento significativo no nível de atividade.
O quadro, na opinião da equipe do Itaú, também piorou no
que diz respeito às expectativas
de inflação. A projeção do mercado para 2008 subiu de 4,41%
no começo de março para 4,5%.
"Nessas circunstâncias, restam poucas dúvidas sobre a necessidade de ajuste da política
monetária", diz o documento.
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