São Paulo, segunda-feira, 14 de abril de 2008

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Economia esfriou no 1º tri, diz consultoria

Com base na movimentação da moeda no país, LCA calcula que o PIB tenha crescido perto de zero em relação ao 4º tri de 2007

Ante 1º tri de 2007, expansão foi de 5%, mas, segundo consultoria, dado causa distorção, pois base de comparação é fraca

GUILHERME BARROS
COLUNISTA DA FOLHA

A economia brasileira não está superaquecida no início deste ano, diferentemente do que a maioria dos analistas estima. Pelo contrário, está em processo de desaceleração, o que deverá contribuir para a redução dos riscos de descumprimento da meta de inflação.
Diante desse quadro, a LCA Consultores Associados diz que não há razão para o Banco Central adotar uma política monetária muito dura. A expectativa no mercado é que o Copom (Comitê de Política Monetária) eleve os juros, hoje em 11,25%, em ao menos 0,25 ponto percentual na quarta-feira.
A conclusão de que a economia está em desaceleração consta em estudo realizado pela LCA para calcular o desempenho da economia no primeiro trimestre. Pelas contas da consultoria, o PIB no período cresceu próximo de zero -entre zero e 0,5%- em relação ao quarto trimestre do ano passado e 5% ante os primeiros três meses de 2007.
A LCA chama a atenção, no entanto, para o fato de que a economia, no ano passado, só começou a mostrar sinais de aceleração a partir de março, o que significa que os primeiros três meses foram fracos.
Dessa forma, a comparação do primeiro trimestre deste ano com o mesmo período de 2007 apresentaria distorção, já que a base de comparação é baixa. A LCA diz que é por isso que os números estão inflados neste início do ano: licenciamento de veículos crescendo ao ritmo de 30%, e produção industrial, a 10%, entre outros exemplos.
Segundo Bráulio Borges, economista da LCA, uma análise mais cuidadosa dos números aponta que a velocidade marginal da atividade econômica, isto é, trimestre após trimestre, mostra uma desaceleração relevante. "A economia esfriou bastante no começo deste ano."
Segundo a LCA, os números do PIB do quarto trimestre de 2007 já haviam mostrado isso. Em termos de valor adicionado (isto é, somando as contribuições dos PIBs agropecuário, industrial e de serviços, sem incluir impostos), a variação do PIB no último trimestre do ano passado foi de 1,2% (ou 5,1% em termos anualizados), após ter crescido 1,8% (7,2% ao ano) no terceiro trimestre.
Os indicadores já conhecidos de 2008 sinalizam novo arrefecimento. A LCA usa exemplos para mostrar a desaceleração:
1) a produção de automóveis avançou 1,5% no primeiro trimestre, após ter crescido 4,3% no quarto trimestre de 2007 (dados dessazonalizados); 2) o consumo de energia caiu 1,1% no primeiro trimestre, ante alta de 1,2% no quarto trimestre (também dessazonalizados); 3) o fluxo pedagiado de veículos das rodovias subiu 0,8% no primeiro trimestre, ante expansão de 1,7% no quarto trimestre; e 4) o agregado monetário M1 (base monetária mais depósitos à vista) real apresentou recuo de 1,5% no primeiro trimestre, contra expansão de 4,6% no quarto trimestre (números dessazonalizados).
A partir dos números de M1, a LCA desenvolveu indicador para calcular o desempenho do PIB. Segundo a consultoria, a série histórica desses dois dados apresenta uma correlação muito elevada. O M1 pode ser usado como indicador com elevado grau de acerto para medir o desempenho do PIB com antecedência.

Contraponto
As conclusões da LCA contrastam, no entanto, com as do Itaú. Segundo o Informativo Econômico Semanal do departamento econômico do banco, até o começo de março ainda havia dúvidas sobre a necessidade de elevação dos juros para manter a inflação em trajetória coerente com as metas.
O documento assinala, no entanto, que, desde a última reunião do Copom, as novas informações não foram tranqüilizadoras. Os dados do último trimestre de 2007 evidenciaram o aquecimento da economia. O consumo das famílias, que crescia num ritmo de 6% ao ano, acelerou-se para 8,6%.
Além disso, o informativo assinala que, embora o investimento tenha se expandido a taxas ainda mais altas, o temor de um descompasso futuro entre a oferta e a demanda se justifica. As informações sobre os primeiros meses de 2008 não sugerem arrefecimento significativo no nível de atividade.
O quadro, na opinião da equipe do Itaú, também piorou no que diz respeito às expectativas de inflação. A projeção do mercado para 2008 subiu de 4,41% no começo de março para 4,5%.
"Nessas circunstâncias, restam poucas dúvidas sobre a necessidade de ajuste da política monetária", diz o documento.


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