São Paulo, segunda-feira, 14 de abril de 2008

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Mais isolado, Copom deve elevar os juros

Órgão faz nesta semana reunião mais importante do 2º mandato de Lula, sem o apoio unânime do mercado financeiro

Paulo Bernardo, ministro que costumava se alinhar com o Banco Central, ressalta agora não ver motivos para elevação da taxa

SHEILA D'AMORIM
VALDO CRUZ

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Depois de elevar o tom no discurso por uma alta dos juros, o BC terá nesta semana a reunião mais importante do Copom (Comitê de Política Monetária) do segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Mais isolado do que nunca na defesa de alta dos juros, o presidente da instituição, Henrique Meirelles, pavimentou o caminho político dentro e fora do governo para uma eventual elevação da taxa Selic.
Desta vez, não se trata apenas da conhecida rixa com o ministro Guido Mantega (Fazenda) ou das divergências com o pensamento dito desenvolvimentista da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil).
Segundo a Folha apurou, nas últimas reuniões da equipe econômica, colegas que costumavam se alinhar com o BC, como o ministro Paulo Bernardo (Planejamento), ressaltaram não ver motivos para elevação os juros agora e que era possível aguardar a próxima reunião do Copom, em junho.
Lula é contra aumento de juros, mas vem publicamente manifestando apoio à política de Meirelles no BC. Nos últimos dias, deu declarações ambíguas sobre o tema. Na sexta, disse que um corte de 0,25 ponto não traria "transtorno" à economia. Anteontem, negou que tenha dado aval a uma hipotética elevação.
Desta vez, porém, o BC não conta nem com o aval unânime do mercado financeiro, tradicionalmente a base de apoio nos embates com a Fazenda (que tem a simpatia do empresariado). A aposta de banqueiros, economistas e investidores é que os juros subirão. As preocupações do BC com a aceleração do consumo já foram digeridas, mas não convencem.
Nas palavras de um importante banqueiro interlocutor do BC com o mercado, ao endurecer o discurso na defesa da alta dos juros, o diretor da instituição Mário Mesquita (Política Econômica) mostrou "certeza demais" para um cenário "com dúvidas em excesso".
Além disso, ele destaca que a situação no Brasil ainda é confortável e que o BC teria condições de esperar, sem risco de um descontrole de preços.
Na equipe econômica, há uma avaliação de que o medo demonstrado pelo BC com a inflação é resquício das divergências internas vividas pelo Copom, em 2007. Na época, houve embate entre o grupo de Mesquita e o liderado pelo diretor Alexandre Tombini em relação ao ritmo dos cortes na Selic. Mesquita quis, sem sucesso, antecipar a diminuição das quedas promovidas e Tombini defendeu a manutenção.
Como há uma defasagem entre a redução nos juros e o impacto que essa decisão tem na economia real, o crescimento verificado no início deste ano estava sob influência dos cortes promovidos naquela época.
No BC, além do crédito abundante que tem financiado o consumo, outra fonte de preocupação é o gasto do governo. A política fiscal tem sido expansionista, e o corte de R$ 19,4 bilhões divulgado não mudará isso -veio acompanhado de uma elevação de R$ 16,9 bilhões nos gastos da União.
A avaliação é que, mesmo que esse aumento não tivesse sido promovido, a medida não ajudaria a influenciar as expectativas dos agentes financeiros imediatamente. A inflação esperada por empresários, investidores e analistas é importante porque influencia os reajustes no curto prazo.
Ao contrário do que acontecia no passado, porém, hoje ninguém duvida que a economia para pagar juros da dívida (superávit primário) equivalente a 3,8% do PIB será cumprida. Assim, o simples anúncio de que o governo faria um superávit maior não teria mais o efeito imediato de antes, quando essa medida melhorava a avaliação do país, o câmbio se apreciava e a inflação caía.
Para o BC, agora, o efeito seria mais lento e defasado. Seria necessário esperar até que a redução das despesas públicas se traduzisse numa queda na demanda. Há uma semana, em encontro com investidores em Miami, nos EUA, Meirelles chamou a atenção de presentes à reunião pela defesa da taxa de juros como o melhor instrumento para controlar a demanda. Segundo relato à Folha de duas pessoas que ouviram a palestra, ele ainda descartou medidas para controlar o crédito.


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