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Mais isolado, Copom deve elevar os juros
Órgão faz nesta semana reunião mais importante do 2º mandato de Lula, sem o apoio unânime do mercado financeiro
Paulo Bernardo, ministro que costumava se alinhar com
o Banco Central, ressalta agora não ver motivos
para elevação da taxa
SHEILA D'AMORIM
VALDO CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Depois de elevar o tom no
discurso por uma alta dos juros,
o BC terá nesta semana a reunião mais importante do Copom (Comitê de Política Monetária) do segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da
Silva. Mais isolado do que nunca na defesa de alta dos juros, o
presidente da instituição, Henrique Meirelles, pavimentou o
caminho político dentro e fora
do governo para uma eventual
elevação da taxa Selic.
Desta vez, não se trata apenas da conhecida rixa com o
ministro Guido Mantega (Fazenda) ou das divergências com
o pensamento dito desenvolvimentista da ministra Dilma
Rousseff (Casa Civil).
Segundo a Folha apurou, nas
últimas reuniões da equipe
econômica, colegas que costumavam se alinhar com o BC,
como o ministro Paulo Bernardo (Planejamento), ressaltaram não ver motivos para elevação os juros agora e que era
possível aguardar a próxima
reunião do Copom, em junho.
Lula é contra aumento de juros, mas vem publicamente
manifestando apoio à política
de Meirelles no BC. Nos últimos dias, deu declarações ambíguas sobre o tema. Na sexta,
disse que um corte de 0,25
ponto não traria "transtorno" à
economia. Anteontem, negou
que tenha dado aval a uma hipotética elevação.
Desta vez, porém, o BC não
conta nem com o aval unânime
do mercado financeiro, tradicionalmente a base de apoio
nos embates com a Fazenda
(que tem a simpatia do empresariado). A aposta de banqueiros, economistas e investidores
é que os juros subirão. As preocupações do BC com a aceleração do consumo já foram digeridas, mas não convencem.
Nas palavras de um importante banqueiro interlocutor
do BC com o mercado, ao endurecer o discurso na defesa da
alta dos juros, o diretor da instituição Mário Mesquita (Política Econômica) mostrou "certeza demais" para um cenário
"com dúvidas em excesso".
Além disso, ele destaca que a
situação no Brasil ainda é confortável e que o BC teria condições de esperar, sem risco de
um descontrole de preços.
Na equipe econômica, há
uma avaliação de que o medo
demonstrado pelo BC com a
inflação é resquício das divergências internas vividas pelo
Copom, em 2007. Na época,
houve embate entre o grupo de
Mesquita e o liderado pelo diretor Alexandre Tombini em
relação ao ritmo dos cortes na
Selic. Mesquita quis, sem sucesso, antecipar a diminuição
das quedas promovidas e Tombini defendeu a manutenção.
Como há uma defasagem entre a redução nos juros e o impacto que essa decisão tem na
economia real, o crescimento
verificado no início deste ano
estava sob influência dos cortes promovidos naquela época.
No BC, além do crédito
abundante que tem financiado
o consumo, outra fonte de
preocupação é o gasto do governo. A política fiscal tem sido
expansionista, e o corte de R$
19,4 bilhões divulgado não mudará isso -veio acompanhado
de uma elevação de R$ 16,9 bilhões nos gastos da União.
A avaliação é que, mesmo
que esse aumento não tivesse
sido promovido, a medida não
ajudaria a influenciar as expectativas dos agentes financeiros
imediatamente. A inflação esperada por empresários, investidores e analistas é importante porque influencia os reajustes no curto prazo.
Ao contrário do que acontecia no passado, porém, hoje
ninguém duvida que a economia para pagar juros da dívida
(superávit primário) equivalente a 3,8% do PIB será cumprida. Assim, o simples anúncio de que o governo faria um
superávit maior não teria mais
o efeito imediato de antes,
quando essa medida melhorava a avaliação do país, o câmbio
se apreciava e a inflação caía.
Para o BC, agora, o efeito seria mais lento e defasado. Seria
necessário esperar até que a redução das despesas públicas se
traduzisse numa queda na demanda. Há uma semana, em
encontro com investidores em
Miami, nos EUA, Meirelles
chamou a atenção de presentes
à reunião pela defesa da taxa de
juros como o melhor instrumento para controlar a demanda. Segundo relato à Folha de
duas pessoas que ouviram a palestra, ele ainda descartou medidas para controlar o crédito.
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