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Divergências acabam por expor fraquezas da equipe econômica
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Mais do que novamente dividir o governo entre os que são
contra e a favor de um aumento
dos juros, a recente discussão
sobre o nível de atividade e da
alta na inflação expôs as fraquezas da equipe econômica e
as dificuldades que as divergências internas trazem para a formulação de uma política comum que consiga administrar
o crescimento mais forte da
economia, sem perder o controle dos preços.
Enquanto o ministro Guido
Mantega (Fazenda) e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, digladiam-se internamente e tentam posar publicamente como bons amigos,
o presidente Luiz Inácio Lula
da Silva assumiu o controle e
abriu bastante o espaço para
outros conselheiros de fora do
governo, como o economista
Luiz Gonzaga Belluzzo e o ex-deputado Delfim Netto.
Mantega trabalhou nas últimas semanas para tentar mostrar ao BC que há alternativas
ao aumento dos juros para controlar o consumo e chegou a defender até que a receita extra
esperada em razão do maior
crescimento da economia ficasse temporariamente retida
nos cofres do Tesouro.
O argumento do ministro e
sua equipe era que isso daria
mais tranqüilidade para o BC
esperar até junho os desdobramentos da inflação, antes de
optar por uma alta da Selic. No
segundo semestre, se fosse
confirmado o cenário de arrefecimento da inflação, seria
possível liberar novos gastos.
A estratégia não deu certo.
Lula, por sinal, não gostou do
debate público em torno da taxa de juros promovido por seu
ministro da Fazenda. Acabou
convocando Mantega em seu
gabinete há dez dias e ordenou
o fim das divergências públicas
sobre o tema. Nessa reunião, o
presidente disse que cabia somente a ele convocar reuniões
sobre o assunto.
Corte e gasto
A Fazenda até emplacou um
corte maior (R$ 19,4 bilhões)
no Orçamento deste ano. Mas
junto veio uma elevação de R$
16,9 bilhões nos gastos públicos
no período. Na equação econômica, o dinheiro que deixará de
movimentar o consumo com o
contingenciamento será compensado pelos recursos que serão injetados com mais despesas públicas.
No final das contas, perdeu
Mantega e também o BC, que
fica com a responsabilidade de
calibrar, sozinho, preço, consumo e investimento contando
basicamente com um único
instrumento: a taxa de juros.
Segundo interlocutores do
presidente Lula, não há por que
fazer um ajuste fiscal "maior
nem menor" do que os 3,8% do
PIB já acertados, assim como
não há necessidade de o BC elevar os juros.
O mais "prudente" seria deixar a taxa Selic como está. A
preocupação do Planalto, afirmam, é outra: a taxa de câmbio.
Assim, o governo está mais
preocupado em encontrar formas para evitar apreciação do
real, assegurando os ganhos
dos exportadores.
(VC e SDA)
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