São Paulo, segunda-feira, 14 de abril de 2008

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Divergências acabam por expor fraquezas da equipe econômica

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Mais do que novamente dividir o governo entre os que são contra e a favor de um aumento dos juros, a recente discussão sobre o nível de atividade e da alta na inflação expôs as fraquezas da equipe econômica e as dificuldades que as divergências internas trazem para a formulação de uma política comum que consiga administrar o crescimento mais forte da economia, sem perder o controle dos preços.
Enquanto o ministro Guido Mantega (Fazenda) e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, digladiam-se internamente e tentam posar publicamente como bons amigos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assumiu o controle e abriu bastante o espaço para outros conselheiros de fora do governo, como o economista Luiz Gonzaga Belluzzo e o ex-deputado Delfim Netto.
Mantega trabalhou nas últimas semanas para tentar mostrar ao BC que há alternativas ao aumento dos juros para controlar o consumo e chegou a defender até que a receita extra esperada em razão do maior crescimento da economia ficasse temporariamente retida nos cofres do Tesouro.
O argumento do ministro e sua equipe era que isso daria mais tranqüilidade para o BC esperar até junho os desdobramentos da inflação, antes de optar por uma alta da Selic. No segundo semestre, se fosse confirmado o cenário de arrefecimento da inflação, seria possível liberar novos gastos.
A estratégia não deu certo. Lula, por sinal, não gostou do debate público em torno da taxa de juros promovido por seu ministro da Fazenda. Acabou convocando Mantega em seu gabinete há dez dias e ordenou o fim das divergências públicas sobre o tema. Nessa reunião, o presidente disse que cabia somente a ele convocar reuniões sobre o assunto.

Corte e gasto
A Fazenda até emplacou um corte maior (R$ 19,4 bilhões) no Orçamento deste ano. Mas junto veio uma elevação de R$ 16,9 bilhões nos gastos públicos no período. Na equação econômica, o dinheiro que deixará de movimentar o consumo com o contingenciamento será compensado pelos recursos que serão injetados com mais despesas públicas.
No final das contas, perdeu Mantega e também o BC, que fica com a responsabilidade de calibrar, sozinho, preço, consumo e investimento contando basicamente com um único instrumento: a taxa de juros.
Segundo interlocutores do presidente Lula, não há por que fazer um ajuste fiscal "maior nem menor" do que os 3,8% do PIB já acertados, assim como não há necessidade de o BC elevar os juros.
O mais "prudente" seria deixar a taxa Selic como está. A preocupação do Planalto, afirmam, é outra: a taxa de câmbio. Assim, o governo está mais preocupado em encontrar formas para evitar apreciação do real, assegurando os ganhos dos exportadores. (VC e SDA)


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