São Paulo, terça-feira, 14 de abril de 2009

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BENJAMIN STEINBRUCH

Redução de custos


Além do corte geral de impostos, há que apressar a redução de juros, via Selic e via "spread" bancário


TENHO DEFENDIDO a ideia de que, na atual crise, é muito importante evitar a disseminação do medo. Mantenho essa opinião, mas considero que chegou o momento de medidas corajosas para impedir o aprofundamento da queda de produção e do emprego.
Sem tentar maximizar a gravidade da crise, seria prudente pensar com serenidade em uma ampla redução de custos no país. E a primeira medida nessa direção seria um corte geral de impostos e outros encargos.
Nunca houve dúvidas sobre o impacto positivo da desoneração tributária na atividade econômica. Mas foi preciso que o país vivesse a experiência feita com a indústria automobilística nos últimos quatro meses para constatar o efeito prático dessa medida.
Com a redução do IPI sobre os veículos, a indústria automobilística recuperou-se rapidamente. A produção cresceu em janeiro, fevereiro e março e hoje opera em nível próximo ao de seu recorde histórico -272 mil veículos em março. Nenhum outro setor importante no mundo teve desempenho semelhante no primeiro trimestre, no olho do furacão da crise global.
Além da indústria veículos, outros setores já foram beneficiados por desonerações tributárias, como os segmentos de material de construção e de algumas atividades na região da Sudam. Foram medidas corretas, que poderiam atingir também material escolar, geladeiras, fogões e outros eletrodomésticos.
No atual estágio da crise, porém, faz sentido pensar em medidas com efeitos gerais, de aplicação mais simples que as ações pontuais e que possam beneficiar toda a economia. Uma redução ampla de impostos, inclusive com desoneração das folhas de pagamento, certamente traria benefícios maiores à reativação da atividade e à criação de empregos.
Para não comprometer as contas públicas, essa redução teria de ser acompanhada por um corte geral de gastos correntes (não de investimentos). Infelizmente, o governo não age nessa direção. Para compensar as perdas de receitas decorrentes das desonerações que já fez, estimadas em R$ 2,5 bilhões de dezembro a junho no caso do IPI, optou pelo aumento da alíquota de IPI sobre cigarros. Agora, pretende taxar mais também as bebidas. Essas medidas são corretas, mas insuficientes.
Atuação mais eficiente exige também o controle de gastos correntes, entre eles os reajustes de salários de servidores, nos três níveis de governo. Quem se der ao trabalho de fazer uma busca no Google Notícias, escrevendo a expressão "reajuste dos servidores", verá que, só na última semana, o site registrou 879 notícias sobre esse tema, numa constatação de que as reivindicações de reajustes se espalham por todo o país, em Estados e municípios. Nos últimos dois anos, segundo levantamento da Folha, os gastos com servidores do Executivo cresceram 25,2% nos Estados e 26% nos municípios, para uma inflação de 10,6% no período.
Na maioria dos casos, os pedidos de aumentos dos servidores são justificáveis, dadas as remunerações historicamente baixas. Mas, na atual situação de crise, cabe também aos servidores a responsabilidade de zelar pela condição financeira do setor público. Até porque não adianta conseguir gordos reajustes se depois o Estado vier a quebrar.
Além do corte geral de impostos, há que apressar a redução de juros, via Selic e via "spread" bancário. Está certo o governo ao pressionar os bancos públicos a liderarem o corte do "spread". A redução geral de custos no país é uma exigência inadiável.

BENJAMIN STEINBRUCH, 55, empresário, é diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional, presidente do conselho de administração da empresa e primeiro vice-presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).

bvictoria@psi.com.br


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