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ANO DO DRAGÃO
Descompasso entre quedas de preços no atacado e no varejo preocupa analistas e justificaria manutenção
Inflação cai, mas corte nos juros é incerto
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
Índice oficial de inflação e principal referência para a política
monetária do governo, o IPCA
(Índice de Preços ao Consumidor
Amplo) teve queda em abril: ficou
em 0,97%, contra 1,23% em março. A inflação desacelerou, mas
ainda não o suficiente para justificar uma redução dos juros na
próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), nos
dias 20 e 21 de maio.
Os motivos que apontam para
essa direção estão na própria ata
da última reunião do Copom. O
texto alertava para a inércia inflacionária (contaminação de índices recentes por aumentos antigos) e para a queda dos indicadores em ritmo inferior ao esperado.
Além desses motivos, há também
um descompasso entre as quedas
dos preços no atacado e no varejo.
Ontem também foi divulgada a
taxa do IGP-DI (Índice Geral de
Preços - Disponibilidade Interna), que recuou em abril e atingiu
0,41%, segundo a FGV (Fundação
Getúlio Vargas). Foi a menor taxa
desde março do ano passado,
quando ficou em 0,11%.
O IPA (Índice de Preços no Atacado) apresentou variação de
apenas 0,07% em abril, contra
1,93% no mês anterior. Já o IPC
(Índice de Preços ao Consumidor) subiu ligeiramente e passou
de 1,06% em março para 1,12%
em abril.
De sete economistas consultados ontem pela Folha, cinco afirmam que ainda não é hora de baixar os juros, pois a inflação se
mantém em um nível elevado e o
recuo dos preços em abril não se
deu de forma generalizada. Dois
apostam numa queda discreta já
em maio (de meio a um ponto
percentual), dizendo que a inflação já cedeu e que a tendência é a
de queda contínua.
Nos últimos 12 meses, o IPCA
acumula alta de 16,77%. No ano, a
inflação oficial está em 6,15%. A
meta oficial é de 8,5% neste ano,
mas o próprio Banco Central admite que sua mira está dirigida
para o final de 2004, quando espera alcançar uma taxa de 5,5%.
Dólar no consumidor
Ao comentar o recuo do IPCA,
Eulina Nunes dos Santos, economista do IBGE, afirmou: "A queda do dólar já chegou ao consumidor, não só nos alimentos, como já havia acontecido no mês
passado [março", mas também
em outros preços".
Luiz Afonso Lima, do BBV. "O
BC teve uma postura correta de
não reduzir os juros até agora.
Ainda não é o caso de um relaxamento da política monetária",
afirmou. Tanto Lima quanto
Marcela Prada, da Tendências,
afirmam que o núcleo da inflação
ainda está alto demais para um
corte de juros neste momento.
O IBGE não calcula o núcleo do
IPCA, mas, de acordo com Prada,
a queda teria sido muito pequena:
de 1,23% em março para 1,10%
em abril. Por isso, Lima e Prada
prevêem uma redução da taxa Selic só daqui a um ou dois meses.
Luiz Suzigam, da consultoria
LCA, e Carlos Thadeu de Freitas
Filho, do Instituto de Economia
da UFRJ, defendem uma redução
ainda que modesta já em maio.
Seria, dizem, um sinal para o setor
produtivo de que a tendência é essa e será mantida.
Freitas Filho aponta que os preços dos serviços, mais sensíveis à
política monetária, estão em queda livre -de 1,16% em abril para
0,60%-, o que justificaria uma
diminuição da Selic.
Para Luiz Roberto Cunha, da
Fecomércio-RJ e da PUC-RJ, um
corte de meio ponto não reativaria a economia. "É melhor esperar
um ou dois meses e fazer uma redução mais significativa, o que teria mais impacto no lado real da
economia [setor produtivo]."
Luciana Sá, economista da Firjan (Federação das Indústrias do
Estado do Rio de Janeiro), disse
que o recuo do dólar e a maior
confiança na política econômica
permitem cortar a Selic ainda no
primeiro semestre.
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