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BALANÇOS
Estudo mostra que empresas passaram a dever mais no 1º trimestre e que débitos já equivalem a 93% do patrimônio
Bens quase não pagam dívidas de empresas
ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
A corrida das empresas ao mercado, no final de 2002, na busca
por dólares para o pagamento de
dívidas não surtiu o efeito esperado em suas contas. A conclusão
faz parte de levantamento sobre
os resultados do setor privado nos
primeiros meses do governo Lula.
A busca pela moeda estrangeira,
para liquidar empréstimos, até
chegou a reduzir a dívida total das
companhias em dólares. Mas, como a moeda fechou o primeiro
trimestre valorizada, aos R$ 3,35,
as dívidas acumuladas em reais,
na safra de balanços de janeiro a
março, permaneceram elevadas.
Mais do que isso: o patrimônio
encolheu e, como o total da dívida
em reais cresceu, a relação entre
dívida e patrimônio passou de
73,6% em março de 2002 para
93% em igual período de 2003.
Aí é que está a questão: a dívida
pode até crescer, mas o problema
está em como pagá-la. Esses dados mostram que, se as empresas
precisassem quitar os débitos hoje, teriam de fechar as portas.
Os números fazem parte do levantamento da Economática com
60 empresas -23% do total de
grupos com ações em Bolsas de
Valores no país.
Na ponta do lápis
Segundo o levantamento, as dívidas em reais estavam altas até
março, mas caíram depois.
Explicação: 70% dos empréstimos totais das empresas, em média, são dolarizados. A pesquisa
mostra que, em 31 de março de
2003, esse volume atingiu US$
20,3 bilhões. Um ano antes, estava
em US$ 29 bilhões.
O valor caiu pois elas quitaram
pendências no exterior no ano
passado. Porém, se precisassem
pagar a dívida no fechamento do
primeiro trimestre, teriam de desembolsar uma alta soma em
reais.
Isso por causa da valorização do
dólar até março. Em reais, os US$
20,3 bilhões em dívidas financeiras equivaliam a R$ 68 bilhões em
31 de março de 2003. Em igual período de 2002, os US$ 29 bilhões
respondiam por uma dívida até
menor, de R$ 67,4 bilhões.
Porém, após março, com a valorização do real, as coisas mudaram. Partindo do pressuposto de
que esse estoque de dívida de US$
20,3 bilhões não tenha se alterado
até maio, as dívidas em reais das
empresas estão menores hoje
(com base na cotação do dólar
ontem), em R$ 58 bilhões.
De março a maio, no entanto,
algumas empresas voltaram a
captar recursos no exterior. Isso
pode elevar o montante de dívidas em dólares no segundo trimestre. Mas, se a empresa que
capta mantiver a capacidade de
gerar receita e garantir a estabilidade em seu patrimônio, não haverá problema nesse aumento.
"Sem pensar nas expectativas
futuras, mas com base nos dados
já fechados, vemos que as empresas ficaram menos expostas em
dólar com a quitação das dívidas
em 2002", diz Fernando Exel, da
Economática. "O problema é que,
se a cotação da moeda americana
continuar em queda, vai ficar claro que elas quitaram a dívida em
momento equivocado, quando o
dólar estava caro."
Dados da pesquisa, finalizada
ontem, mostram ainda que o patrimônio líquido das 60 empresas
encolheu 20% -passou de R$ 130
bilhões em março de 2002 para R$
104 bilhões em março de 2003.
Como o patrimônio caiu, a dívida
em relação a ele subiu, de 73,6%
para 93% no período. O débito
abocanhou uma parcela maior do
lucro operacional: de 6,6% para
8,8%. Ou seja, elas precisam lucrar mais para quitar os débitos.
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