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São Paulo, quarta-feira, 14 de maio de 2003

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BALANÇOS

Estudo mostra que empresas passaram a dever mais no 1º trimestre e que débitos já equivalem a 93% do patrimônio

Bens quase não pagam dívidas de empresas

ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

A corrida das empresas ao mercado, no final de 2002, na busca por dólares para o pagamento de dívidas não surtiu o efeito esperado em suas contas. A conclusão faz parte de levantamento sobre os resultados do setor privado nos primeiros meses do governo Lula.
A busca pela moeda estrangeira, para liquidar empréstimos, até chegou a reduzir a dívida total das companhias em dólares. Mas, como a moeda fechou o primeiro trimestre valorizada, aos R$ 3,35, as dívidas acumuladas em reais, na safra de balanços de janeiro a março, permaneceram elevadas.
Mais do que isso: o patrimônio encolheu e, como o total da dívida em reais cresceu, a relação entre dívida e patrimônio passou de 73,6% em março de 2002 para 93% em igual período de 2003.
Aí é que está a questão: a dívida pode até crescer, mas o problema está em como pagá-la. Esses dados mostram que, se as empresas precisassem quitar os débitos hoje, teriam de fechar as portas.
Os números fazem parte do levantamento da Economática com 60 empresas -23% do total de grupos com ações em Bolsas de Valores no país.

Na ponta do lápis
Segundo o levantamento, as dívidas em reais estavam altas até março, mas caíram depois.
Explicação: 70% dos empréstimos totais das empresas, em média, são dolarizados. A pesquisa mostra que, em 31 de março de 2003, esse volume atingiu US$ 20,3 bilhões. Um ano antes, estava em US$ 29 bilhões.
O valor caiu pois elas quitaram pendências no exterior no ano passado. Porém, se precisassem pagar a dívida no fechamento do primeiro trimestre, teriam de desembolsar uma alta soma em reais.
Isso por causa da valorização do dólar até março. Em reais, os US$ 20,3 bilhões em dívidas financeiras equivaliam a R$ 68 bilhões em 31 de março de 2003. Em igual período de 2002, os US$ 29 bilhões respondiam por uma dívida até menor, de R$ 67,4 bilhões.
Porém, após março, com a valorização do real, as coisas mudaram. Partindo do pressuposto de que esse estoque de dívida de US$ 20,3 bilhões não tenha se alterado até maio, as dívidas em reais das empresas estão menores hoje (com base na cotação do dólar ontem), em R$ 58 bilhões.
De março a maio, no entanto, algumas empresas voltaram a captar recursos no exterior. Isso pode elevar o montante de dívidas em dólares no segundo trimestre. Mas, se a empresa que capta mantiver a capacidade de gerar receita e garantir a estabilidade em seu patrimônio, não haverá problema nesse aumento.
"Sem pensar nas expectativas futuras, mas com base nos dados já fechados, vemos que as empresas ficaram menos expostas em dólar com a quitação das dívidas em 2002", diz Fernando Exel, da Economática. "O problema é que, se a cotação da moeda americana continuar em queda, vai ficar claro que elas quitaram a dívida em momento equivocado, quando o dólar estava caro."
Dados da pesquisa, finalizada ontem, mostram ainda que o patrimônio líquido das 60 empresas encolheu 20% -passou de R$ 130 bilhões em março de 2002 para R$ 104 bilhões em março de 2003. Como o patrimônio caiu, a dívida em relação a ele subiu, de 73,6% para 93% no período. O débito abocanhou uma parcela maior do lucro operacional: de 6,6% para 8,8%. Ou seja, elas precisam lucrar mais para quitar os débitos.


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