São Paulo, quarta-feira, 14 de maio de 2008

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BC lamenta ação de fundo no câmbio

Formato final tenta superar as divergências entre a autoridade monetária e o Ministério da Fazenda

Luciano Coutinho sai vitorioso ao convencer Lula de que banco precisa de mais recursos para financiar empresas no exterior


VALDO CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O formato final do fundo soberano anunciado ontem pelo governo busca superar divergências entre os dois principais nomes da equipe econômica do presidente Lula: o ministro Guido Mantega (Fazenda) e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles.
Enquanto Meirelles conseguiu barrar a idéia inicial de usar dinheiro das reservas internacionais no caixa do fundo, Mantega colocou o mecanismo sob a responsabilidade do Tesouro Nacional e poderá usá-lo para operar no mercado de câmbio.
Além disso, a elevação do superávit primário para formar o caixa do fundo também tenta conciliar as posições divergentes dos dois ministros. Meirelles preferia fazer um ajuste fiscal maior destinado simplesmente ao pagamento da dívida pública, mas sabia que politicamente seria impossível. Lula não aprovaria a idéia.
Mantega concordava com o aumento do superávit primário, mas na operação casada que destinava o excedente para o fundo soberano estimular operações de empresas brasileiras no exterior.
Dentro do BC, a frase que sintetiza o pensamento dos técnicos é que "pelo menos se faz uma poupança externa, e o aumento da arrecadação não vira gasto". Na Fazenda, que o Banco Central não poderá "dizer que está trabalhando sozinho contra a inflação e que há, sim, uma política econômica equilibrada no governo", principal crítica de economistas no momento diante da decisão da equipe de Meirelles de subir a taxa de juros.
A idéia original do fundo soberano surgiu no Banco Central, mas foi adotada posteriormente pelo Ministério da Fazenda numa composição que permitiria seu uso para atuar no mercado de câmbio. Uma idéia da equipe de Mantega para tentar segurar a desvalorização do dólar, um dos principais fatores da queda acentuada no superávit da balança comercial.
A tese prevaleceu no formato final divulgado ontem, mas não agrada ao BC porque ele terá de dividir com o Tesouro Nacional o papel de intervir no mercado de câmbio. Além disso, perde a exclusividade de lidar com a aplicação de recursos da União no exterior.
Não foi nem Mantega nem Meirelles, contudo, que fizeram a cabeça do presidente Lula sobre o fundo. Foi o presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), Luciano Coutinho, em busca de mais recursos para sua instituição aplicar no exterior.
Ele mostrou ao presidente que o fundo soberano poderia ser um mecanismo do BNDES para fortalecer a atuação de empresas brasileiras em outros países, o que ajudaria a estancar o processo de deterioração das contas externas.


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