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BC lamenta ação de fundo no câmbio
Formato final tenta superar as divergências entre a autoridade monetária e o Ministério da Fazenda
Luciano Coutinho sai vitorioso ao convencer Lula de que banco precisa de mais recursos para financiar empresas no exterior
VALDO CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O formato final do fundo soberano anunciado ontem pelo
governo busca superar divergências entre os dois principais
nomes da equipe econômica do
presidente Lula: o ministro
Guido Mantega (Fazenda) e o
presidente do Banco Central,
Henrique Meirelles.
Enquanto Meirelles conseguiu barrar a idéia inicial de
usar dinheiro das reservas internacionais no caixa do fundo,
Mantega colocou o mecanismo
sob a responsabilidade do Tesouro Nacional e poderá usá-lo
para operar no mercado de
câmbio.
Além disso, a elevação do superávit primário para formar o
caixa do fundo também tenta
conciliar as posições divergentes dos dois ministros. Meirelles preferia fazer um ajuste fiscal maior destinado simplesmente ao pagamento da dívida
pública, mas sabia que politicamente seria impossível. Lula
não aprovaria a idéia.
Mantega concordava com o
aumento do superávit primário, mas na operação casada
que destinava o excedente para
o fundo soberano estimular
operações de empresas brasileiras no exterior.
Dentro do BC, a frase que
sintetiza o pensamento dos técnicos é que "pelo menos se faz
uma poupança externa, e o aumento da arrecadação não vira
gasto". Na Fazenda, que o Banco Central não poderá "dizer
que está trabalhando sozinho
contra a inflação e que há, sim,
uma política econômica equilibrada no governo", principal
crítica de economistas no momento diante da decisão da
equipe de Meirelles de subir a
taxa de juros.
A idéia original do fundo soberano surgiu no Banco Central, mas foi adotada posteriormente pelo Ministério da Fazenda numa composição que
permitiria seu uso para atuar
no mercado de câmbio. Uma
idéia da equipe de Mantega para tentar segurar a desvalorização do dólar, um dos principais
fatores da queda acentuada no
superávit da balança comercial.
A tese prevaleceu no formato
final divulgado ontem, mas não
agrada ao BC porque ele terá de
dividir com o Tesouro Nacional
o papel de intervir no mercado
de câmbio. Além disso, perde a
exclusividade de lidar com a
aplicação de recursos da União
no exterior.
Não foi nem Mantega nem
Meirelles, contudo, que fizeram a cabeça do presidente Lula sobre o fundo. Foi o presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social), Luciano
Coutinho, em busca de mais recursos para sua instituição
aplicar no exterior.
Ele mostrou ao presidente
que o fundo soberano poderia
ser um mecanismo do BNDES
para fortalecer a atuação de
empresas brasileiras em outros
países, o que ajudaria a estancar o processo de deterioração
das contas externas.
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