São Paulo, quarta-feira, 14 de junho de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"Ortodoxo", Meirelles defende BC

Presidente do banco volta a apoiar autonomia operacional da entidade e afirma adotar a ortodoxia

Anteontem, o presidente do PT, Ricardo Berzoini, chegou a dizer que dar autonomia "seria retirar o controle democrático da sociedade"


DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em audiência pública realizada ontem no Senado, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, voltou a defender a política de juros que tem sido conduzida recentemente e expôs, ainda que indiretamente, suas divergências com o PT e com o ministro da Fazenda, Guido Mantega.
Meirelles defendeu a autonomia do BC -medida que o próprio PT já descarta num eventual segundo mandato do presidente Lula-, disse que as metas de inflação adotadas no Brasil são as mais altas do mundo -sinalizando a possibilidade de reduzi-las, o que significaria menos espaço para queda dos juros- e, respondendo indiretamente a Mantega, disse que se considera um "ortodoxo", apesar das críticas que recebe por isso.
A autonomia do Banco Central é uma medida que, em alguns países, consiste na concessão de mandatos fixos à diretoria da instituição. Seus defensores dizem que se trata de uma maneira de reduzir as influências políticas sobre as decisões sobre juros. "A autoridade monetária precisa de autonomia operacional para cumprir suas metas", disse.
Os críticos a essa medida, por sua vez, afirmam que o governo deve ter o poder de, sempre que julgar necessária uma mudança na política econômica, substituir o comando do BC. Documento elaborado pelo PT -e que deve servir de base para o programa de governo de um eventual segundo mandato do presidente Lula- descarta a possibilidade de conceder autonomia ao Banco Central. Anteontem, o presidente do partido, Ricardo Berzoini, chegou a dizer que "isso seria retirar o controle democrático da sociedade".
Questionado por jornalistas após a audiência, Meirelles não quis comentar o assunto e disse que a autonomia do BC deve ser debatida no Congresso Nacional, onde tramita um projeto de lei sobre o assunto.

"Um ortodoxo"
Ainda durante a audiência, Meirelles disse que se considera "um ortodoxo".
"Às vezes se fala essa palavra como se fosse uma crítica. É uma outra palavra para católico, que é uma outra palavra para aquele que segue as leis, sejam as leis de Deus, sejam as leis dos homens", afirmou o presidente do BC.
O termo "ortodoxo" costuma ser usado por aqueles que criticam a demora do BC em reduzir os juros -e um desses críticos é justamente o ministro da Fazenda. Para Mantega, o conceito de "ortodoxo" é diferente do apresentado por Meirelles: "Eu não sou ortodoxo. Eles são aquelas pessoas que não gostam dos programas sociais que o governo faz", afirmou ele, em abril, ao comentar as críticas que alguns economistas têm feito ao nível atual dos gastos públicos.

Metas
Meirelles também aproveitou para rebater as críticas sobre o nível das metas de inflação fixadas no Brasil -para alguns economistas, elas são baixas demais e dificultam a redução dos juros. O presidente do BC disse que os objetivos fixados por aqui são os mais altos entre os países que utilizam esse sistema.
No final do mês, o Conselho Monetário Nacional (formado pelo presidente do Banco Central e pelos ministros da Fazenda e do Planejamento) vai se reunir para definir a meta para 2008. Ontem, Meirelles apresentou uma lista de 15 países que usam o sistema de metas de inflação, e em todos eles o objetivo a ser seguido é menor do que os 6,5% fixados pelo teto da meta brasileira.
Depois da audiência, Meirelles negou que defenda uma redução da meta de inflação brasileira. "Isso é meramente uma constatação. Essa é uma questão a ser decidida pelo Conselho Monetário Nacional."


Texto Anterior: Bolsa segue exterior e cai 2,1%; perda no ano é de 1,8%
Próximo Texto: IGP-M indica alta de 0,27% nos preços
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.