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"Ortodoxo", Meirelles defende BC
Presidente do banco volta a apoiar autonomia operacional da entidade e afirma adotar a ortodoxia
Anteontem, o presidente do PT, Ricardo Berzoini, chegou a dizer que dar autonomia "seria retirar o controle democrático da sociedade"
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em audiência pública realizada ontem no Senado, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, voltou a defender a política de juros que tem
sido conduzida recentemente e
expôs, ainda que indiretamente, suas divergências com o PT
e com o ministro da Fazenda,
Guido Mantega.
Meirelles defendeu a autonomia do BC -medida que o próprio PT já descarta num eventual segundo mandato do presidente Lula-, disse que as metas de inflação adotadas no Brasil são as mais altas do mundo
-sinalizando a possibilidade
de reduzi-las, o que significaria
menos espaço para queda dos
juros- e, respondendo indiretamente a Mantega, disse que
se considera um "ortodoxo",
apesar das críticas que recebe
por isso.
A autonomia do Banco Central é uma medida que, em alguns países, consiste na concessão de mandatos fixos à diretoria da instituição. Seus defensores dizem que se trata de
uma maneira de reduzir as influências políticas sobre as decisões sobre juros. "A autoridade monetária precisa de autonomia operacional para cumprir suas metas", disse.
Os críticos a essa medida, por
sua vez, afirmam que o governo
deve ter o poder de, sempre que
julgar necessária uma mudança na política econômica, substituir o comando do BC. Documento elaborado pelo PT -e
que deve servir de base para o
programa de governo de um
eventual segundo mandato do
presidente Lula- descarta a
possibilidade de conceder autonomia ao Banco Central. Anteontem, o presidente do partido, Ricardo Berzoini, chegou a
dizer que "isso seria retirar o
controle democrático da sociedade".
Questionado por jornalistas
após a audiência, Meirelles não
quis comentar o assunto e disse
que a autonomia do BC deve
ser debatida no Congresso Nacional, onde tramita um projeto de lei sobre o assunto.
"Um ortodoxo"
Ainda durante a audiência,
Meirelles disse que se considera "um ortodoxo".
"Às vezes se fala essa palavra
como se fosse uma crítica. É
uma outra palavra para católico, que é uma outra palavra para aquele que segue as leis, sejam as leis de Deus, sejam as
leis dos homens", afirmou o
presidente do BC.
O termo "ortodoxo" costuma
ser usado por aqueles que criticam a demora do BC em reduzir os juros -e um desses críticos é justamente o ministro da
Fazenda. Para Mantega, o conceito de "ortodoxo" é diferente
do apresentado por Meirelles:
"Eu não sou ortodoxo. Eles são
aquelas pessoas que não gostam dos programas sociais que
o governo faz", afirmou ele, em
abril, ao comentar as críticas
que alguns economistas têm
feito ao nível atual dos gastos
públicos.
Metas
Meirelles também aproveitou para rebater as críticas sobre o nível das metas de inflação fixadas no Brasil -para alguns economistas, elas são baixas demais e dificultam a redução dos juros. O presidente do
BC disse que os objetivos fixados por aqui são os mais altos
entre os países que utilizam esse sistema.
No final do mês, o Conselho
Monetário Nacional (formado
pelo presidente do Banco Central e pelos ministros da Fazenda e do Planejamento) vai se
reunir para definir a meta para
2008. Ontem, Meirelles apresentou uma lista de 15 países
que usam o sistema de metas de
inflação, e em todos eles o objetivo a ser seguido é menor do
que os 6,5% fixados pelo teto da
meta brasileira.
Depois da audiência, Meirelles negou que defenda uma redução da meta de inflação brasileira. "Isso é meramente uma
constatação. Essa é uma questão a ser decidida pelo Conselho Monetário Nacional."
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