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Oi pode ter de renegociar valores com BrT
Se for obrigatória a criação de empresas de telefonia fixa e banda larga, valor de cada uma sofrerá redução devido à separação de ativos
Para Telefônica, modelo
caminha na contramão da
convergência; "resolveram
um problema e criaram
outro", afirma consultor
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA REPORTAGEM LOCAL
A proposta de mudança no
PGO (Plano Geral de Outorgas), que será publicada na terça, manteve a incerteza da fusão entre Oi (Telemar) e BrT
(Brasil Telecom). Por um lado,
a decisão dos conselheiros em
permitir que uma operadora de
uma região possa comprar outra que atua em área diferente
viabilizou a operação. Mas a decisão de obrigar as concessionárias a promoverem a separação entre o Serviço Telefônico
Fixo Comutado -a rede de telefonia- e o SCM (Serviço de
Comunicação Multimídia)
-basicamente, o acesso à banda larga- emperrou de novo as
negociações entre Oi e BrT.
Na semana passada, o presidente da Oi, Luiz Eduardo Falco, afirmou que, caso a separação saísse do papel, a fusão ficaria inviabilizada. Isso porque a
nova situação cria um complicador. A Oi terá de renegociar
os valores pagos aos acionistas
da BrT porque, com a divisão
das empresas, o valor de cada
uma das empresas sofre redução com a separação dos ativos.
"Resolveram um problema
[permitindo a fusão], mas criaram outro [a separação dos ativos]", diz Eduardo Tude, presidente da Teleco, consultoria de
telecomunicações.
Pelo texto aprovado ontem,
negociado entre os conselheiros para dar início ao processo
de fusão da BrT e da Oi, a separação é necessária porque os
serviços de telefonia fixa são
concessão e fazem parte de um
regime público de outorga.
Os serviços de comunicação
multímida são classificados como regime privado e as empresas atuam como autorizadas, e
não como concessionárias.
Outra medida relevante proposta é que, ao determinar que
haja a separação das empresas,
a Anatel também reforçou que
uma concessionária que adquirir outra terá que cumprir metas de infra-estrutura de universalização do acesso à banda
larga, ainda que esteja impedida de explorar comercialmente
os serviços de comunicação
multimídia.
Ao determinar a separação
entre as empresas, a alegação
dos conselheiros da Anatel foi a
de que a empresa que detém
uma concessão de telefonia fixa
detém também a infra-estrutura de transmissão da banda larga e que permitir que essas empresas atuassem de forma consolidada representaria concentração de mercado. Também
representaria riscos para a concorrência e atuação das médias
e pequenas empresas no crescente uso da internet entre a
população.
Descontentamento
Essa proposta da Anatel, que
não agradou ao governo Lula
nem às empresas do setor, será
submetida a consulta pública
pelo prazo de 30 dias. Depois
desse prazo, a Anatel terá de
aprovar o texto final, que será
enviado ao governo. Cabe ao
presidente Lula baixar um decreto mudando o PGO. Ele pode ou não seguir as recomendações da agência reguladora.
O Ministério das Comunicações espera alterar a proposta
na fase de discussão pública do
texto e alega que há uma tendência mundial de convergência digital e de incorporação de
empresas no setor.
As condições dessa nova forma de atuação farão parte deregras específicas que serão elaboradas pela Anatel no prazo
de até 180 dias após a publicação do decreto com a versão
atualizada do PGO.
Outro ponto importante na
proposta de revisão da Anatel
para a lei das concessões é que
uma concessionária ao adquirir
outra concessionária está impedida de comprar uma terceira. Por outro lado, ao passar a
atuar em uma segunda área de
concessão (no país o total são
quatro áreas de concessão), a
concessionária de telefonia fixa
terá que ter atuação nacional.
Ou seja, como concessionária
poderá atuar em até duas regiões, mas terá que atuar como
autorizada nas duas regiões de
concessão restantes. Ao estabelecer esses limites, a Anatel alega que está estimulando a competição.
Fernando Freitas, diretor de
relações institucionais da Telefônica, acredita que a decisão
da Anatel contraria a sua própria proposta de estimular a
convergência entre voz, dados,
vídeo e acesso à internet. "Ela
[a proposta] dificulta a oferta
de produtos combinados, como
pacotes que reúnem voz, vídeo
e acesso à banda larga," diz.
Para Freitas, a venda de pacotes combinados, por exemplo, ficará mais complicada
porque a Telefônica teria (caso
as medidas sejam aprovadas)
de montar uma nova estrutura
para as empresas do SCM e isso, inevitavelmente, acarretará
aumento de tarifas.
No exterior
No Reino Unido, onde esse
processo também ocorreu, a
BT (British Telecom) teve de
separar suas operações (telefonia e banda larga) e o resultado
é que ela está dando mais lucro.
"Sua rede estava ociosa", diz
Luiz Cuza, presidente da Telcomp (Associação Brasileira
das Prestadoras de Serviços de
Telecomunicações Competitivas). "Hoje existem cerca de 30
outras operadoras pagando à
BT pelo uso de sua rede." Ainda
segundo ele, sem o compartilhamento das redes, o preço da
tarifa só tende a crescer. "Em
2000, a assinatura básica no
Brasil era R$ 19,77. Hoje, ela
saltou para R$ 41", diz.
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