|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ANÁLISE
Setor do agronegócio foi pego no contrapé
MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO
A liderança do agronegócio
na lista de recuperações judiciais ocorre porque a crise internacional pegou o setor no
contrapé. Em constante expansão para atender a uma crescente demanda externa, parte
do agronegócio sentiu retração
internacional da demanda e total ausência de crédito.
Os setores sucroenergético e
de carnes foram os mais afetados. Apesar dessa liderança indesejável, o agronegócio mostra nessa crise uma recuperação acima da prevista. É o que
ocorre com o setor de grãos.
O setor de carnes, que somou
41% do total do faturamento
das empresas envolvidas em
recuperação judicial, vinha em
uma corrida desenfreada por
novas participações nos mercados interno e externo.
Alguns negócios, como as
compras de frigoríficos na região do Mercosul -inclusive as
internas-, foram feitos por valores bem acima do real. Com
isso, as indústrias mais descapitalizadas, e que dependiam
do crescimento das vendas para girar o caixa, foram duramente afetadas.
Além de sentir retração nas
vendas externas, os frigoríficos,
que tinham crescido no período favorável de matérias-primas com preços baixos, passaram a ter gastos maiores com a
recuperação das cotações do
boi, antes defasadas.
No setor sucroenergético
não foi diferente. A perspectiva
de um grande avanço do mercado externo do álcool combustível, principalmente nos
Estados Unidos, gerou investimentos históricos no setor.
As usinas ficaram prontas e o
mercado externo não respondeu como o esperado. Ao contrário, houve uma inversão da
tendência externa. O açúcar
passou a ser valorizado, e o álcool, apesar da demanda interna forte, está sendo negociado
abaixo do custo de produção.
Enquanto as exportações de
açúcar crescem, as de álcool
não avançam. Sem crédito, as
empresas estão com dificuldades para gerar caixa.
As empresas mais afetadas
são exatamente as que têm os
projetos mais modernos e optaram apenas pela produção de
álcool, em que perdem dinheiro. Já as que têm flexibilidade
elevaram a produção de açúcar,
que rende mais no momento.
Produzir açúcar neste momento rende 100% mais do que
álcool anidro e 119% mais do
que o hidratado, diz o Cepea.
Principal polo de produção
sucroenergético e de carnes,
São Paulo foi o Estado mais afetado, respondendo por 71% do
faturamento das empresas que
pediram recuperação judicial.
A falta de crédito afetou,
também, vários outros projetos
agropecuários, muitos montados em cima de endividamento
e de esperanças de constante
evolução do setor.
Texto Anterior: Crise revela falhas na regra de recuperação Próximo Texto: Foco: Banco abriu mão de fábrica alienada e pôs dinheiro novo para viabilizar recuperação Índice
|