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Piratas atacam navios perto de portos brasileiros
Em 15 meses, 18 embarcações foram invadidas em Santos, porto mais visado no país
Criminosos arrombam contêineres e levam cargas de navios, quase sempre sem violência, embora atuem armados nos assaltos
SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO
Por medo de ataque de piratas nas proximidades dos mais
importantes portos do país, navios da Marinha Mercante
aguardam a ordem de atracação a quilômetros da costa. A
precaução tem sido tomada no
litoral do Rio de Janeiro, de
Santos e de Rio Grande (RS).
Os piratas dos portos nacionais diferem muito dos criminosos que atuam no oceano Índico, em especial na costa da
Somália (leste da África). Estes
capturam embarcações, fazem
reféns e pedem resgate. Os nacionais arrombam contêineres
e roubam cargas, quase sempre
sem violência, embora atuem
armados.
A situação considerada mais
preocupante pelas empresas de
navegação e pelos oficiais da
Marinha Mercante é a do porto
de Santos -o maior da América
do Sul, com movimento de cargas, no ano passado, de 81 milhões de toneladas.
Em 15 meses de 2007 e 2008,
18 embarcações foram atacadas
na costa da cidade paulista pelos piratas brasileiros, definição adotada por policiais, portuários e profissionais de marinha do país.
Um dos navios atacados foi o
cargueiro Flamengo, no fim de
fevereiro do ano passado. O comandante Francisco Gondar
disse à Folha que a ação dos piratas aconteceu em uma madrugada escura, sem que a tripulação de 20 homens, recolhida nos dormitórios, percebesse
o assalto.
"Eles subiram pelo costado,
arrombaram 16 contêineres até
encontrarem a carga que lhes
interessava -um carregamento de TVs de plasma. Foi uma
ação rápida", afirmou Gondar,
56, que atua na Marinha Mercante há 35 anos.
Por causa de assaltos anteriores, o comandante mantinha o Flamengo ancorado a
13 km da barra de Santos. "Julgava ser uma área segura."
Mesmo assim foi atacado. Agora, fica a até 50 km, enquanto a
entrada no porto não é autorizada. Quando está no Rio, ele
para a 20 km, depois da ilha Rasa, pois considera a baía de
Guanabara vulnerável.
Medidas de segurança
Outro procedimento de segurança recomendado pelas
empresas de navegação é o de o
barco nem ancorar enquanto a
ordem de atracar não for emitida. Ele circula pelo litoral até
receber a determinação. O gasto de combustível é maior, mas,
na avaliação dos oficiais, a ação
pirata torna-se mais difícil
quando o navio não para.
No caso do cargueiro Independente, em março de 2008,
os tripulantes perceberam a
chegada dos piratas, mas, como
na Marinha Mercante os profissionais não portam armas,
receberam do comandante
Leonardo Nicodemus de Castro, 41, ordem para trancarem-
-se no interior do navio e não
reagir.
"A gente não tem armamento nem preparo para enfrentá-
-los. Uma reação poderia ser
pior", disse o oficial, atacado
também ao largo do porto de
Santos. Os três piratas avistados pelos 20 tripulantes violaram dez contêineres e roubaram uma carga de sandálias.
Para orientar os oficiais sobre como agir quando vitimados por atos de pirataria, o Sindicato Nacional dos Oficiais da
Marinha Mercante criou um
curso de navegação defensiva,
com simulações, em equipamentos, da ação dos invasores e
ladrões de carga.
"No Brasil não há e não vejo
condições efetivas de termos
uma pirataria clássica. Isso não
quer dizer que não temos roubos. Esses nossos piratas chegam aos navios como ratos e
desaparecem como ratos", disse o presidente da entidade, Severino Almeida Filho.
No mês passado, em Santos, a
PF (Polícia Federal) prendeu
seis homens e uma mulher acusados de pirataria. Segundo o
delegado federal Luiz Carlos de
Oliveira, há um mês houve um
ataque frustrado a um navio na
área do porto santista. Os tripulantes conseguiram chamar os
policiais federais.
Patrulhas preventivas
Oliveira disse que não vê vantagem em manter o navio afastado por segurança até a ordem
de vir ao cais.
"Há mais de um ano não registramos casos importantes.
Os que aconteceram foram a
três milhas da costa [cerca de
5,5 km] ou mais. Na região do
porto, realizamos patrulhas
preventivas e ostensivas."
Para o capitão dos portos do
Rio, capitão de mar e guerra
Wilson Pereira Lima Filho, o
que existe nas imediações do
porto e ao longo da costa são
apenas assaltos.
"Pirataria é em alto-mar. Na
área da capitania, onde estou
há pouco mais de dois anos, não
registro ações do tipo. Apenas
alguns casos em terminais no
fundo da baía de Guanabara",
disse ele, para quem as companhias que optam por manter os
barcos afastados visam, na verdade, evitar o pagamento de taxas portuárias -no Rio de Janeiro, R$ 2.000 por até dez dias
de ancoragem na baía.
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