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São Paulo, segunda-feira, 14 de julho de 2003

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Fracasso de reunião em Cancún levará à desintegração, diz premiê

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A LONDRES

Em debate entre governantes rotulados de "progressistas", presente Luiz Inácio Lula da Silva, a reunião ministerial da OMC (Organização Mundial do Comércio) em Cancún, prevista para setembro, foi tratada em tons dramáticos, quase apocalípticos.
A primeira-ministra neozelandesa, Helen Clark, chegou a prever que um fracasso em Cancún levaria à "desintegração" do sistema multilateral, com a consequente busca de acordos bilaterais, que "prejudicam os países mais fracos".
O governo brasileiro, sem chegar a adjetivos tão pesados, também coloca suas fichas no sucesso das negociações em Cancún, a ponto de o próprio Lula ter dito à BBC que, se a Alca não der certo, o Brasil fica com a OMC.
Helen Clark jogou a responsabilidade por um êxito ou fracasso de Cancún nos EUA, ao dizer que a União Européia dera "passos críticos" para reformar sua política agrícola. Até agora, os europeus eram os vilões porque subsidiam pesadamente seus agricultores e não se mostravam dispostos a liberalizar o setor agrícola.
Clark admitiu que se pode dizer que a reforma proposta pelos europeus "não é nem tão rápida nem tão profunda quando o desejável", mas um passo foi dado.
"O desafio agora é o que os EUA vão pôr à mesa em Cancún", afirmou a premiê da Nova Zelândia, país que, como o Brasil, faz parte do Grupo de Cairns (os grandes exportadores agrícolas).
Lula não parece tão convencido dos "passos críticos" dados pela Europa. Tanto que, na conversa bilateral com o premiê Tony Blair (Reino Unido), mencionou a importância de que "haja um esforço" para a mudança das políticas agrícolas no contexto da negociação entre o Mercosul e a UE.
Blair apoia, há muito tempo, alterações de fundo na política agrícola européia, assim como a Suécia, cujo primeiro-ministro, Goran Person, também foi superlativo na análise da reunião: "Não haverá sinal mais importante para a economia mundial do que um sucesso em Cancún", disse.
O sul-africano Thabo Mbeki e a própria Helen Clark acreditam que o êxito em Cancún dependa de movimentos em instâncias mais poderosas. Mbeki sugeriu a intervenção do G8, o grupo dos sete países mais ricos do mundo e a Rússia, enquanto Clark pediu engajamento dos líderes, em vez de deixar apenas para os ministros (instância máxima na OMC) desatarem o nó que ainda persiste para Cancún.


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