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Fracasso de reunião em Cancún levará à desintegração, diz premiê
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A LONDRES
Em debate entre governantes
rotulados de "progressistas", presente Luiz Inácio Lula da Silva, a
reunião ministerial da OMC (Organização Mundial do Comércio)
em Cancún, prevista para setembro, foi tratada em tons dramáticos, quase apocalípticos.
A primeira-ministra neozelandesa, Helen Clark, chegou a prever que um fracasso em Cancún
levaria à "desintegração" do sistema multilateral, com a consequente busca de acordos bilaterais, que "prejudicam os países
mais fracos".
O governo brasileiro, sem chegar a adjetivos tão pesados, também coloca suas fichas no sucesso
das negociações em Cancún, a
ponto de o próprio Lula ter dito à
BBC que, se a Alca não der certo, o
Brasil fica com a OMC.
Helen Clark jogou a responsabilidade por um êxito ou fracasso de
Cancún nos EUA, ao dizer que a
União Européia dera "passos críticos" para reformar sua política
agrícola. Até agora, os europeus
eram os vilões porque subsidiam
pesadamente seus agricultores e
não se mostravam dispostos a liberalizar o setor agrícola.
Clark admitiu que se pode dizer
que a reforma proposta pelos europeus "não é nem tão rápida
nem tão profunda quando o desejável", mas um passo foi dado.
"O desafio agora é o que os EUA
vão pôr à mesa em Cancún", afirmou a premiê da Nova Zelândia,
país que, como o Brasil, faz parte
do Grupo de Cairns (os grandes
exportadores agrícolas).
Lula não parece tão convencido
dos "passos críticos" dados pela
Europa. Tanto que, na conversa
bilateral com o premiê Tony Blair
(Reino Unido), mencionou a importância de que "haja um esforço" para a mudança das políticas
agrícolas no contexto da negociação entre o Mercosul e a UE.
Blair apoia, há muito tempo, alterações de fundo na política agrícola européia, assim como a Suécia, cujo primeiro-ministro, Goran Person, também foi superlativo na análise da reunião: "Não haverá sinal mais importante para a
economia mundial do que um sucesso em Cancún", disse.
O sul-africano Thabo Mbeki e a
própria Helen Clark acreditam
que o êxito em Cancún dependa
de movimentos em instâncias
mais poderosas. Mbeki sugeriu a
intervenção do G8, o grupo dos
sete países mais ricos do mundo e
a Rússia, enquanto Clark pediu
engajamento dos líderes, em vez
de deixar apenas para os ministros (instância máxima na OMC)
desatarem o nó que ainda persiste
para Cancún.
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