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OPINIÃO ECONÔMICA
O desmonte da Petrobras
JOSÉ CARLOS ALELUIA
A petrobras comemora
neste ano meio século de
existência. Desde que foi criada,
pelo presidente Getúlio Vargas, a
empresa faz parte do cotidiano
dos brasileiros. Do gás de cozinha,
que aquece nossas refeições, ao
diesel, que move nossa frota de
ônibus e caminhões, passando
pela gasolina e até um simples saco plástico ou embalagem de refrigerante, a Petrobras está presente em cada lar, em cada esquina, nos produtos mais simples,
transformando petróleo bruto em
desenvolvimento econômico e
bem-estar social.
Nestes 50 anos, a companhia foi
responsável pela geração de milhões de empregos. Eles fazem
parte de uma extensa malha, que
inclui desde o petroleiro que arranca o óleo das profundezas da
terra e do mar, o operário qualificado da indústria petroquímica,
os engenheiros que comandam
refinarias, o frentista do posto de
gasolina, o motorista de caminhão, os comerciantes, até os executivos do mercado de capitais. A
Petrobras é o combustível do nosso desenvolvimento. A partir da
Petrobras, o Brasil pesquisou e
desenvolveu tecnologia mundialmente pioneira de prospecção de
óleo em águas profundas, entrou
no mercado de fertilizantes e matérias-primas para os mais diversos segmentos da indústria.
Se há no país uma empresa que
integra a espinha dorsal da dignidade nacional, é a Petrobras. O
Brasil é um dos mais importantes
"players" internacionais do sofisticado mercado de petróleo.
O governo FHC deu um passo
histórico, ao permitir que os trabalhadores usassem o dinheiro
do FGTS para comprar ações da
Petrobras. Nada menos do que
310.218 trabalhadores decidiram
investir em busca de segurança e
rentabilidade. Eles seguiram o caminho de milhares de outros investidores e tornaram-se sócios
da companhia.
A Petrobras vive hoje um momento sombrio, que ameaça a sua
reputação de competência e eficiência. O sonho de centenas de
milhares de investidores corre o
risco de virar um pesadelo.
Embalada pelo ritmo administrativo do governo passado, a Petrobras registrou um lucro recorde de R$ 5,5 bilhões no primeiro
trimestre. Embora seja uma marca histórica, os trabalhadores que
investiram o dinheiro do FGTS
não têm o que comemorar. O novo governo está transformando a
Petrobras num cabide de emprego do sindicalismo petista.
O primeiro passo foi dado pelo
presidente da República, ao nomear para a presidência da Petrobras o ex-sindicalista e ex-senador José Eduardo Dutra, candidato do PT ao governo de Sergipe,
derrotado por João Alves, do PFL.
Sem experiência administrativa,
Dutra recebeu o cargo como prêmio de consolação pelo fraco desempenho eleitoral. Mal acomodou-se na cadeira de presidente,
iniciou um desmonte na administração da estatal. Num desrespeito aos acionistas -principalmente aos mais de 300 mil trabalhadores que trocaram o FGTS por
ações-, técnicos competentes e
com larga experiência são substituídos por sindicalistas, que não
têm intimidade com a rotina de
tarefas sofisticadas e complexas,
para as quais é necessário preparo
e experiência.
Um exemplo da balbúrdia administrativa criada por Dutra:
afastado há dez anos da Petrobras
e dedicado a atividades classistas,
o engenheiro Antônio José Pinheiro Rivas foi nomeado gerente-geral da unidade da Bahia. Do
dia para a noite passou a comandar 20 mil funcionários. Quem indicou Rivas? Petroleiros do sindicado baiano. No currículo de Rivas, segundo a revista "Exame",
não consta experiência administrativa na Petrobras.
Há outros exemplos para ilustrar o desmanche promovido por
Dutra, que distribui cargos de
chefia e bons salários a uma casta
privilegiada de sindicalistas.
Transformaram cargos estratégicos em sinecuras. Se o presidente
da República quer ajudar amigos
sem competência profissional, a
Petrobras não pode ser o desaguadouro. É inaceitável transformar a mais importante estatal
brasileira em sinecura.
O mais surpreendente é o pensamento do diretor de exploração
e produção, Guilherme Estrella,
para quem acionista da empresa
não passa de especulador. Há dez
anos o senhor Estrella vestiu o pijama da aposentadoria e matou o
tempo presidindo o microscópico
diretório do PT de Nova Friburgo,
no Estado do Rio. Premiado com
uma diretoria, cujo orçamento
para investimentos, em 2003, chega a R$ 6 bilhões (maior investimento do que o da maioria dos
municípios brasileiros), trocou o
pijama pela gravata e seguiu à risca o desmonte iniciado por Dutra.
Como consequência desse desatino, Dutra e seus companheiros
comprometem a alma da Petrobras. Não é por acaso que o mercado de capitais reagiu negativamente e as ações da empresa não
tiveram a valorização esperada,
mesmo com lucro recorde. Qualquer estagiário de Bolsa de Valores sabe que o estilo imposto por
José Eduardo Dutra é de alto risco, semeia o nervosismo, tanto na
Bovespa como em Wall Street, e
favorece concorrentes estrangeiros ávidos por quebrar a hegemonia da Petrobras no nosso mercado interno. No jargão do mercado, essa situação criada pelo PT é
rotulada de crise de confiança.
Os 310.218 trabalhadores que
investiram nas ações da companhia, utilizando o FGTS, acreditavam que ela jamais sairia dos trilhos da seriedade administrativa.
Não podem, como os demais
acionistas, serem ameaçados por
uma gestão temerária, que tem
como único objetivo usar a companhia para criar um grande aparelho do sindicalismo de palácio.
Não é honesto que se transforme
em pesadelo o sonho de quem
confiou e trabalhou pelo sucesso
da Petrobras durante meio século.
José Carlos Aleluia (BA) é líder do PFL
na Câmara dos Deputados.
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