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VIZINHOS EM CRISE
"Lógica empresarial não é a da integração", afirma assessor
Governo Lula pede "paciência e calma"
ELIANE CANTANHÊDE
DIRETORA DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O assessor internacional da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia, ratificou ontem o
tom conciliador adotado pelo governo brasileiro em relação à
atual crise com a Argentina, ao
distinguir "a lógica empresarial
da lógica da integração" e pedir
"paciência e calma" nas negociações com os vizinhos.
Ou seja: Garcia considera "natural" haver duras cobranças e negociações para defender interesses comerciais legítimos dos dois
lados, mas acha que os governos
precisam manter uma posição
"mais estratégica", porque o mais
importante é o fortalecimento e a
ampliação do Mercosul.
Segundo ele, a Argentina cresceu muito entre 2003 e 2004 e tem
motivos para reclamar: "Não são
problemas artificiais, são problemas reais que nós temos de entender. Aliás, entender e estar preparados, porque esse tipo de problema tende a ocorrer até com certa
freqüência. É normal".
A reação brasileira, portanto, se
mantém cautelosa: "Temos de ter
paciência e calma, porque sabemos que há objetivos maiores a
serem alcançados. Já imaginou
uma zona integrada desde a Amazônia até a Antártida?".
Garcia falou à Folha no fim da
tarde, mais ou menos à mesma
hora em que o ministro da Economia da Argentina, Roberto Lavagna, dava declarações condenando
o Brasil por fazer uma tempestade
em copo d'água pela decisão de
impor barreiras a produtos brasileiros.
Para o assessor do presidente
Luiz Inácio Lula da Silva, não é
bem assim: "Nós valorizamos
muito a aliança com a Argentina e
o processo do Mercosul. Nossa
tendência é não transformar esses
episódios pequenos, como nós os
vemos, em maiores do que realmente são. Ao contrário, estamos
dando a eles sua real dimensão".
Na sua versão, o Planalto e o Itamaraty não gostaram, "evidentemente", de o anúncio das barreiras aos produtos da linha branca
ter sido feito por Lavagna, na semana passada, às vésperas da reunião de cúpula do Mercosul. Mas
isso não abalou as relações.
Para enfatizar a "tranqüilidade"
como o governo brasileiro vê a
questão, Garcia disse que não
acompanhará a reunião de hoje
entre empresários dos dois países
na Argentina, com a intermediação, pelo lado brasileiro, do Itamaraty e do Ministério do Desenvolvimento. "É a parte técnica",
relevou. "O Brasil precisa ter
grandeza para entender as dificuldades que eles [o governo argentino] enfrentam com seus industriais", defendeu.
Indústria
"E os industriais brasileiros?",
perguntou-lhe a Folha. Resposta:
"Ter grandeza não significa fazer
todas as concessões, mas ter compreensão com as dificuldades e
negociar de forma equilibrada".
Quanto à informação de que a
Secretaria de Transportes da Argentina pretendia restringir o tráfego de caminhões entre o Brasil e
o Chile, via seu território, Garcia
menosprezou: "Foi cogitado durante algumas horas e se desfez.
Não era nada importante".
O impasse, entretanto, durou
mais do que algumas horas. A resolução da secretaria fora baixada
no último dia 5, e o recuo só foi
anunciado ontem.
Para Garcia, a autoria foi de escalões inferiores do governo de
Néstor Kirchner: "Às vezes, o
guarda da esquina é mais radical
do que o comandante do quartel",
ironizou.
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