São Paulo, quarta-feira, 14 de julho de 2004

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CONSUMO

Cresce a expectativa de que companhias aproveitem o aumento na demanda para repassar custos ao varejo

Indústria eletroeletrônica negocia reajustes

ADRIANA MATTOS
CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL

A expectativa de expansão no consumo e a pressão em custos internos abrem espaço para que a indústria acelere o ritmo de reajustes a partir de julho. Há uma nova rodada de negociação neste mês entre lojas e fabricantes para discutir aumentos de 3% a 6% em eletrônicos e eletrodomésticos
O que ocorre é que as empresas não querem perder chances de repassar para a frente as pressões em seus custos fixos (energia, transporte). Ao mesmo tempo, isso não poderá ser feito numa tacada só. Tanto que esse reajuste pedido em julho ao varejo só reflete parte do aumento total requisitado pela indústria no início de 2004.
"Novas rodadas de reajustes, principalmente em setores muito voltados para a venda interna, vão pipocar mais. E volta a expectativa de que ganhem força os pedidos de recomposição de margens de algumas indústrias", disse Lucien Mulder Belmonte, superintendente da Abividro, que representa os fabricantes de vidro para o setor de carros e de alimentos.
Segundo ele, no entanto, "enquanto as empresas não tiverem mais claro se a expansão atual na demanda é só "vôo de galinha" ou não, não há risco de inflação de demanda".
A inflação de demanda existe se o aumento no consumo ganha força a ponto de as empresas reajustarem suas tabelas por conta do excesso na procura. O risco de que isso ocorra no setor eletroeletrônico preocupa empresários do setor, apurou a Folha.
Isso ocorre em razão do atual aumento na procura por componentes eletrônicos. Não há capacidade de produção para atender todos os pedidos de fabricantes de linha marrom (TV, DVD) e telefonia celular -a demanda disparou no mundo. O que pode inflar os preços dos insumos e, logo, do produto final.
No caso dos automóveis, a situação é semelhante. A venda de carros no país cresceu a partir de maio, e não há insumo barato e em grande quantidade à venda hoje porque as companhias são fortemente exportadoras.
A CSN, por exemplo, acelerou neste ano o seu movimento de aumentos de preços do aço aos seus clientes, como montadoras de carros e linha branca (geladeiras e refrigeradores).
Na BSH Continental, o aumento do custo da chapa de aço -em torno de 10% a 15% em junho- deve ter impacto de até 2% nos preços finais de produtos da linha branca, segundo a Folha apurou.
Como a procura pelo aço subiu no mercado externo -principalmente em razão das exportações para a China-, as indústrias que dependem desse insumo tiveram de "buscar na praça" o produto. Algumas empresas de eletrodomésticos tiveram de buscar com distribuidores até 30% do aço necessário porque não conseguiram comprar direto das siderúrgicas.
"A partir de 1º de agosto, teríamos de repassar aos produtos cerca de 8,5% de aumento em razão dos aumentos nos custos. Só que teremos de negociar esse repasse caso a caso", afirmou Synésio Batista da Costa, vice-presidente de relações institucionais da CCE.
Na construção civil, pesquisa com cem empresas do Estado de São Paulo mostrou que, em junho, de 28 matérias-primas usadas pelas construtoras, 15 tiveram reajuste acima da inflação (IGP-M). "Cobre, aço e alumínio foram os produtos que mais subiram. No nosso caso, não há como repassar custos. O setor está em crise há três anos", diz Carlos Barbara, da Barbara Engenharia e Construtora.


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