DO "FINANCIAL TIMES"

A Suprema Corte argentina sinalizou ontem que pretende sustentar o decreto governamental que, em 2002, converteu compulsoriamente bilhões de dólares depositados nos bancos em pesos desvalorizados ao decidir contra um cliente que pedia indenização.
Geronimo Cabrera queria ser indenizado pelo saque de sua poupança em dólares, em 2002, usando uma fórmula governamental de conversão que resultava em câmbio a dois terços do valor de mercado para o dólar.
Mas, em julgamento que pode se tornar histórico, os juízes da Suprema Corte ontem rejeitaram sua petição. Centenas de simpatizantes de Cabrera reagiram com uma invasão do edifício do tribunal, soprando apitos e batendo nas grades do prédio com barras.
Os analistas dizem que a decisão certamente servirá para impedir que centenas de pessoas abram processos semelhantes.
A notícia será recebida com bons olhos pelo setor bancário, que foi severamente prejudicado pela desvalorização. Um economista estimou, ontem, que solicitações semelhantes à de Cabrera poderiam custar dezenas de milhões de pesos ao setor.
Um mês após o governo de Eduardo Duhalde ser forçado a suspender o vínculo fixo entre o dólar e o peso argentino, que durou uma década, a administração decidiu que os empréstimos bancários denominados em dólares seriam convertidos em pesos à razão de um por um, mas que os depósitos bancários denominados em dólares seriam convertidos em pesos à razão de 1,4 por um.
Isso gerou um enorme rombo nos balanços bancários. As instituições financeiras também perderam milhares de poupadores decidiram recorrer à Justiça muitas vezes com sucesso a fim de recuperar o pleno valor de mercado de suas contas de poupança originais, já que a taxa de câmbio àquela altura havia atingido quase quatro pesos por dólar.