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OPERAÇÃO NARCISO
Prejuízo causado por negócios da Daslu "está na casa dos milhões de dólares", afirma acusação
Operação começava nos EUA, diz procurador
DA REPORTAGEM LOCAL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O esquema de sonegação fiscal
da loja Daslu começava ainda nos
Estados Unidos, com o refaturamento e o subfaturamento de notas fiscais feito por uma empresa
exportadora chamada Horacy, segundo informou o procurador da
República em Guarulhos (SP),
Matheus Baraldi Magnani.
De acordo com ele, a própria
Daslu fazia as negociações com as
fabricantes das marcas famosas
na Europa e nos EUA, mas não
participava, formalmente, do
processo de exportação e importação das mercadorias que era feito por outras empresas. O procurador afirmou que na operação de
ontem foram encontrados e-mails de membros da Daslu se comunicando com representantes
das grifes.
De acordo com o procurador, o
prejuízo causado pela sonegação
de impostos "está na casa dos milhões de dólares".
A Receita Federal disse não ter
ainda como precisar o montante.
Isso dependerá da análise dos documentos colhidos na operação
de ontem.
Segundo Baraldi, a empresa exportadora fazia um refaturamento das notas, trocando as faturas
verdadeiras por outras que não
correspondiam ao valor real do
produto. Na substituição da nota,
era feito o subfaturamento do
preço da mercadoria informando
numa fatura falsa um valor muito
abaixo do que é cobrado no mercado.
Magnani afirma que isso era feito "para que assim não se pague
imposto ou se pague muito menos do que deveria se pagar", afirmou. "Vestidos que a Daslu vende por R$ 4.000, R$ 5.000 eram
importados com valor declarado
de US$ 10, US$ 15", disse.
Nas faturas analisadas pelo Ministério Público Federal, o procurador disse que foram encontradas notas de gravata da grife Ermenegildo Zegna por apenas US$
5. A reportagem apurou que o
produto era vendido por cerca de
R$ 230.
De acordo com o promotor,
cerca de dez empresas no Brasil
faziam importações para a Daslu.
Segundo Magnani, pelo menos
duas dessas empresas não tinham
endereço e não existiam de fato.
Uma delas, a Multiimporte, registrava prejuízo todo mês e revertia
cerca de 95% de tudo o que importava para a Daslu. "Um dado
típico da contabilidade de uma laranja", declarou o procurador.
Ainda não se sabe se a empresa
americana é legalizada, é uma laranja ou se ela faz exportação para
outras lojas do Brasil ou de outros
países.
Há a possibilidade de o Ministério Público Federal fazer contato
com procuradores dos EUA e juízes italianos para investigar como
eram feitas as transações nesses
países.
Por enquanto não pesam suspeitas sobre as fabricantes das grifes. No ano passado, a Receita Federal apreendeu uma carga que
chegava ao aeroporto de Guarulhos com sapatos Gucci e bolsas
de marcas também internacionalmente conhecidas.
Dentro das embalagens dos
produtos estavam as notas verdadeiras emitidas pelas fabricantes.
No mesmo contêiner, a Receita
Federal encontrou as notas falsificadas subfaturadas.
Na antiga sede da Daslu, a Polícia Federal apreendeu várias caixas lacradas com a primeira via de
notas fiscais ao consumidor que
não foram entregues. Como havia
a inscrição "incinerar", a polícia
suspeita que a empresa escondia
o lucro efetivo.
Na antiga sede da Daslu, a Polícia Federal apreendeu várias caixas lacradas com a primeira via de
notas fiscais ao consumidor que
não foram entregues. Como havia
a inscrição "incinerar", a polícia
suspeita que a empresa escondia
o lucro efetivo. Com base nas informações já disponíveis, a polícia
e a Receita Federal avaliam que a
Daslu e as importadoras com as
quais a empresa trabalha teria cometido os seguintes crimes: contrabando, descaminho, sonegação e falsificação de documentos.
Outros Estados
Policiais federais e auditores fiscais cumpriram em Santos (litoral
de São Paulo) um mandado de
busca e apreensão no escritório
da empresa By Brasil Trading
Ltda., localizado em um edifício
comercial na Vila Mathias. A empresa prestaria consultoria de importação para a Daslu.
Segundo o delegado da Polícia
Federal José Roberto Sagrada da
Hora, na operação foram apreendidos documentos e cinco computadores. Todo o material foi encaminhado para São Paulo.
A polícia afirma que a By Brasil
Trading Ltda. é suspeita de sonegação fiscal, contrabando, lavagem de dinheiro e formação de
quadrilha. A Folha foi até o escritório da By Brasil, em Santos, mas
não encontrou ninguém. Ninguém atendeu no número de telefone informado à reportagem na
portaria do edifício comercial.
No Paraná, a Operação Narciso
realizou buscas em uma importadora de Maringá (noroeste do Estado), cujo nome não foi revelado
pela delegacia da Polícia Federal
na cidade.
No braço da operação encarregado do Espírito Santo, cinco policiais federais cumpriram mandado de busca e apreensão numa
empresa de importação e exportação no bairro de Santa Lúcia, na
capital Vitória. O nome da empresa não foi revelado.
Foram apreendidos três discos
rígidos de computador, notas fiscais, contratos e documentos de
transações de importação e exportação, que encheram dois sacos de lixo de 50 litros. Ninguém
foi preso.
Em Santa Catarina, a PF cumpriu mandado de busca e apreensão em Itajaí (102 km de Florianópolis), em uma empresa que prestaria serviços à Daslu.
De acordo com a assessoria do
órgão na capital catarinense, não
havia telefone, luz nem qualquer
tipo de documentação no local. A
PF trabalha com a hipótese de que
seja apenas uma importadora de
fachada.
Colaborou a Agência Folha
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