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Caos tributário do país
estimula irregularidade
BRUNO LIMA
DA REPORTAGEM LOCAL
Não há empresa no país que não
cometa alguma irregularidade fiscal. É o que afirma o IBPT (Instituto Brasileiro de Planejamento
Tributário), que atribui a responsabilidade por esse fenômeno ao
sistema tributário brasileiro,
apontado como "o mais complexo e o mais caro do mundo".
O país, segundo a entidade, tem
cerca de 3.200 normas tributárias,
e tanto o desconhecimento dessas
regras quanto a dificuldade de
cumprir todas elas levam -muito mais do que a desonestidade e a
má-fé- ao desrespeito da lei.
"Independentemente do porte e
do ramo, duvido que exista empresa no Brasil que não tenha alguma irregularidade tributária.
Isso significa que todo mundo é
desonesto? Não. Tem muita gente
que nem sabe que está desrespeitando a legislação, que também
depende da interpretação de cada
fiscal", afirma Gilberto Luiz do
Amaral, presidente do instituto.
O advogado Luiz Antonio Caldeira Miretti, presidente da Comissão de Assuntos Tributários
da OAB-SP (Ordem dos Advogados do Brasil, seccional São Paulo), lembra que não se pode confundir sonegação com planejamento tributário, que reúne um
conjunto de maneiras legais de
obter a elisão fiscal. "O grau de
exigência do sistema é muito
grande, mas não dá legitimidade à
conduta. Mesmo no caso das empresas que fazem isso [ilegalidades fiscais] para obter um resultado positivo momentâneo, essa é
uma saída que não pode ser tratada com naturalidade", diz.
Para Roy Martelanc, professor
de finanças da FEA-USP (Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo), as irregularidades intencionais e criminosas
têm diminuído. "O grau de formalização e de cumprimento da
legislação vem crescendo, pois
[sonegar] ficou mais caro e arriscado. Apesar disso, ainda estamos
lá embaixo. Não é todo mundo
[que sonega], mas muitas pessoas
fazem um pouquinho cada uma."
Segundo a opinião dos especialistas, à medida que fica mais caro
e arriscado sonegar, só aposta na
corrupção quem realmente pode
obter grandes vantagens com ela.
O mais complexo
Cinco pontos levam o IBPT a
considerar o sistema brasileiro o
mais complexo e o mais caro do
mundo, segundo Amaral. O primeiro deles é o número de tributos -o país tem 62 deles, entre
impostos, taxas e contribuições.
Em seguida, a entidade ressalta
a quantidade de normas tributárias que regem o sistema nacional.
"Se fôssemos imprimir toda a legislação, teríamos cinco quilômetros e meio, se a impressão fosse
feita em papel A4 com fonte Arial
12. São 55 mil artigos [de leis e outras normas], é praticamente impossível conhecer tudo isso", afirma o presidente do IBPT.
Há as obrigações acessórias: entre livros, guias, formulários e declarações que têm de ser feitas pelas empresas, são 95 burocracias
do tipo. O custo médio delas é de
1,5% do faturamento.
A entidade cita ainda o chamado "efeito cascata", que se refere à
multiincidência de tributos, e o
custo financeiro para pagar essa
carga, calculado em 2,88% ao
mês- já que as empresas vendem a prazo e têm de pagar os tributos no início do mês.
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