São Paulo, quinta-feira, 14 de julho de 2005

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MARCHA LENTA

Segundo sondagem da FGV, 29% dos industriais acham que o nível de demanda está fraco; só 8% vêem forte procura

Pessimismo da indústria é o maior em 2 anos

CÍNTIA CARDOSO
DA REPORTAGEM LOCAL

O ânimo dos empresários industriais está no patamar mais baixo em dois anos. Segundo a Sondagem Trimestral da Indústria de Transformação divulgada ontem pela Fundação Getulio Vargas, para 29% dos entrevistados o nível de demanda está fraco. Apenas 8% disseram que a demanda está forte. No mesmo mês do ano passado, 19% afirmavam que a demanda estava forte.
"A situação em julho é de desânimo. Há uma grande quantidade de empresas com níveis excessivos de estoque e pouca demanda", avaliou Aloísio Campelo, coordenador da sondagem da FGV. Para 19% das companhias ouvidas pela sondagem -foram 462 no total- o nível de estoque está muito alto.
"Dado o acúmulo de estoques no segundo trimestre, decorrente da combinação de produção industrial aquecida e demanda em declínio, temos no terceiro trimestre deste ano uma tendência de arrefecimento da produção industrial", diz relatório do banco Bradesco divulgado ontem.
Esse resultado nos estoques parece indicar, diz Campelo, que houve um erro de planejamento das próprias empresas que apostaram numa redução, que não veio, da taxa de juros. Na sondagem trimestral realizada entre abril e junho, 49% dos pesquisados disseram esperar um aumento da demanda, fato que não se confirmou. "O nível alto de estoques é um fator redutor da produção industrial nos próximos meses", disse Campelo.
No item do levantamento "situação atual dos negócios", 33% a consideram fraca, o maior percentual desde julho de 2003. Para 16%, a situação está boa. "Os números dão a entender que há um quadro de estagnação", afirmou Campelo. Para o economista da FGV, esses dados refletem uma diminuição do ritmo da economia brasileira e um recuo das margens de lucro das empresas.
Esse retrato da indústria no mês de julho mostrado pela FGV ecoa os dados de produção industrial regional apresentados pelo IBGE para maio deste ano. Na maioria dos Estados brasileiros, a atividade desacelerou, embora tenha mantido crescimento.

Futuro
A parte da sondagem que indaga sobre os prognósticos da indústria para os próximos meses também mostra desalento.
De acordo com a pesquisa da FGV, 20% declararam que deve haver uma diminuição da produção no entre julho e setembro deste ano. O dado causa certa apreensão no setor porque, historicamente, esse é um período de aquecimento da atividade por causa das encomendas de final de ano. No período entre julho e setembro de 2004, 8% achavam que a produção iria cair.
No trimestre julho-setembro deste ano, 43% das empresas estimam aumento da demanda por produtos industriais no período e, 19%, aumento.
Quanto à situação do emprego, as perspectivas também se deterioraram. Neste terceiro trimestre, 16% das empresas disseram que pretendem contratar, no entanto 20% disseram que pretendem reduzir o número de empregados. Na série histórica da pesquisa, é a primeira vez que esse saldo fica negativo desde o mês de abril de 2002.
"A pesquisa corrobora com o que também temos sentido no chão de fábrica. Entre os trabalhadores, já há uma nítida percepção de desesperança e desânimo", afirmou ontem em nota Paulo Pereira da Silva, presidente da Força Sindical.


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