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Recorde do petróleo eleva temor de crise
Conflito no Oriente Médio acentua tensão nos mercados mundiais, que vêem risco de inflação e desaquecimento econômico
Barril atingiu US$ 76,70 em Nova York e já há previsões de alta para US$ 100; para analista, "mapa do mundo sacode por todos os lados"
VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
DE NOVA YORK
O conflito entre Israel e Líbano e a onda de explosões em
oleodutos na Nigéria levaram o
barril do petróleo a atingir ontem um novo recorde em Nova
York -US$ 76,70, alta de
2,33%- e criaram mais um cenário de nervosismo nos mercados mundiais. As Bolsas de
Wall Street registraram a
maior baixa em mais de um
mês. No Brasil, a Bovespa seguiu a tendência e também teve
queda (leia texto abaixo).
No mercado de Londres, o
barril do tipo Brent, referência
na União Européia, fechou em
US$ 77,50 para entrega em
agosto, também novo recorde.
Para reforçar o pessimismo,
segue a tensão provocada pela
incerteza quanto ao desfecho
da crise nuclear no Irã. Investidores temem que Teerã possa
responder a eventuais sanções
do Conselho de Segurança da
ONU com restrições às exportações. Tal ação teria o efeito de
elevar ainda mais o preço do
barril da commodity.
Ao longo do dia, o barril do
petróleo atingiu US$ 76,85,
maior valor desde a abertura da
Nymex (Bolsa Mercantil de
Nova York), em março de 1983.
Foi o terceiro dia de alta.
"Israel, Iraque, Nigéria e a
tensão nuclear com o Irã estão
dando nos nervos. O aumento
da violência entre Israel e seus
vizinhos eleva a tensão no
Oriente Médio, que é o principal fornecedor de petróleo do
mundo", avalia Adam Sieminski, economista-chefe do setor
de energia do Deutsche Bank
Securities AG em Nova York.
O aumento dos preços do
combustível pode gerar um aumento da inflação e um efeito
cascata com elevação dos juros
e desaquecimento da economia
global. Daí o nervosismo que
provoca nos mercados.
"O preço do petróleo tornou-se registro de tensões geopolíticas", diz o analista Daniel Yergin da Cambridge Energy Research Associates. "A economia
entrou no ritmo do barril a US$
50. Mas é pouco provável que
consiga se acomodar nos US$
75. É um ajuste muito mais difícil", completa. "Podemos dizer
que o mapa do mundo está sacudindo por todos os lados. O
mercado avança a todo o vapor
e em uma única direção, a da alta", avalia Ed Meir, analista do
banco Man Financial.
O Banco Central Europeu
também contribuiu para aumentar a tensão internacional.
Relatório divulgado ontem
afirma que a autoridade monetária exercerá "forte vigilância"
sobre o comportamento dos
preços, indicação de que uma
nova alta de juros está por vir. A
sinalização ocorreu enquanto
acontece reunião do Banco do
Japão, segunda maior economia do mundo, que pode elevar
pela primeira vez em seis anos
a taxa básica de juros.
Analistas ouvidos pela Folha
crêem que o preço do barril vá
chegar a US$ 100, caso o conflito no Oriente Médio se acirre.
"Dois anos atrás, diria que o
barril só chegaria a US$ 70 ou
US$ 75 em caso extremo. Agora
não tenho tanta certeza", diz
Nariman Behravesh, economista-chefe da Global Insight.
"Com a pequena perspectiva
de boas notícias na Nigéria e no
Irã aliada à demanda mundial,
o risco de romper a barreira
dos US$ 80 é iminente", afirma
Paul J. Harris, do Bank of Ireland Global Markets.
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