São Paulo, sexta-feira, 14 de julho de 2006

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Recorde do petróleo eleva temor de crise

Conflito no Oriente Médio acentua tensão nos mercados mundiais, que vêem risco de inflação e desaquecimento econômico

Barril atingiu US$ 76,70 em Nova York e já há previsões de alta para US$ 100; para analista, "mapa do mundo sacode por todos os lados"

VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
DE NOVA YORK


O conflito entre Israel e Líbano e a onda de explosões em oleodutos na Nigéria levaram o barril do petróleo a atingir ontem um novo recorde em Nova York -US$ 76,70, alta de 2,33%- e criaram mais um cenário de nervosismo nos mercados mundiais. As Bolsas de Wall Street registraram a maior baixa em mais de um mês. No Brasil, a Bovespa seguiu a tendência e também teve queda (leia texto abaixo).
No mercado de Londres, o barril do tipo Brent, referência na União Européia, fechou em US$ 77,50 para entrega em agosto, também novo recorde.
Para reforçar o pessimismo, segue a tensão provocada pela incerteza quanto ao desfecho da crise nuclear no Irã. Investidores temem que Teerã possa responder a eventuais sanções do Conselho de Segurança da ONU com restrições às exportações. Tal ação teria o efeito de elevar ainda mais o preço do barril da commodity.
Ao longo do dia, o barril do petróleo atingiu US$ 76,85, maior valor desde a abertura da Nymex (Bolsa Mercantil de Nova York), em março de 1983. Foi o terceiro dia de alta.
"Israel, Iraque, Nigéria e a tensão nuclear com o Irã estão dando nos nervos. O aumento da violência entre Israel e seus vizinhos eleva a tensão no Oriente Médio, que é o principal fornecedor de petróleo do mundo", avalia Adam Sieminski, economista-chefe do setor de energia do Deutsche Bank Securities AG em Nova York.
O aumento dos preços do combustível pode gerar um aumento da inflação e um efeito cascata com elevação dos juros e desaquecimento da economia global. Daí o nervosismo que provoca nos mercados.
"O preço do petróleo tornou-se registro de tensões geopolíticas", diz o analista Daniel Yergin da Cambridge Energy Research Associates. "A economia entrou no ritmo do barril a US$ 50. Mas é pouco provável que consiga se acomodar nos US$ 75. É um ajuste muito mais difícil", completa. "Podemos dizer que o mapa do mundo está sacudindo por todos os lados. O mercado avança a todo o vapor e em uma única direção, a da alta", avalia Ed Meir, analista do banco Man Financial.
O Banco Central Europeu também contribuiu para aumentar a tensão internacional. Relatório divulgado ontem afirma que a autoridade monetária exercerá "forte vigilância" sobre o comportamento dos preços, indicação de que uma nova alta de juros está por vir. A sinalização ocorreu enquanto acontece reunião do Banco do Japão, segunda maior economia do mundo, que pode elevar pela primeira vez em seis anos a taxa básica de juros.
Analistas ouvidos pela Folha crêem que o preço do barril vá chegar a US$ 100, caso o conflito no Oriente Médio se acirre.
"Dois anos atrás, diria que o barril só chegaria a US$ 70 ou US$ 75 em caso extremo. Agora não tenho tanta certeza", diz Nariman Behravesh, economista-chefe da Global Insight.
"Com a pequena perspectiva de boas notícias na Nigéria e no Irã aliada à demanda mundial, o risco de romper a barreira dos US$ 80 é iminente", afirma Paul J. Harris, do Bank of Ireland Global Markets.


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