São Paulo, segunda-feira, 14 de julho de 2008

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Deflação é nova ameaça, alertam bancos

Estouro da "bolha" de commodities e recessão mundial derrubariam preços no mundo e obrigariam BCs a reduzir juros

SIMON KENNEDY
DA BLOOMBERG

DA REDAÇÃO Albert Edwards, funcionário do banco francês Société Générale SA que previu a crise cambial da Ásia há uma década, está alertando os bancos centrais mundiais de que a deflação poderá em breve superar a alta dos preços na posição de maior ameaça à economia mundial.
"A preocupação com a inflação é exagerada e a ameaça da deflação pode reaparecer, estimulada pela recessão mundial e pelo colapso da bolha das commodities", disse Edwards, 47, que trabalha em Londres.
Edwards foi considerado o melhor estrategista mundial da Europa nos últimos sete anos, de acordo com a pesquisa Thomson Extel, realizada com investidores.
Apesar de sua previsão -segundo a qual os preços nos Estados Unidos e na Europa cairão até o final do próximo ano -ser descartada pela maioria dos economistas, ela reflete a opinião emitida há duas semanas pelo Banco de Compensações Internacionais (BIS, na sigla em inglês).
A instituição que reúne bancos centrais de vários países avaliou que uma desaceleração mundial "de maior porte" pode acarretar deflação. Num momento em que os bancos centrais de Mumbai, na Índia, a Frankfurt, na Alemanha, elevam seus juros, os responsáveis pelas políticas monetárias poderão ser obrigados a voltar atrás, dizem economistas do Deutsche Bank AG.
"Tão absurdo quanto possa parecer neste momento, o receio da deflação poderá retornar e as taxas de juros poderão cair novamente e se posicionarem rumo aos baixos níveis alcançados no início desta década", disseram os economistas Peter Hooper, Thomas Mayer e Torsten Slok em relatório de 7 de julho passado.
Apesar de não fazer parte de sua estimativa central, um período de queda nos preços é mais provável do que um de inflação desgovernada, dizem.
Há apenas quatro anos, a taxa básica de juros do Fed estava em seu mais baixo patamar de 45 anos, em 1% ao ano, enquanto o BC norte-americano combatia a última onda de pânico em relação à deflação.
Mas a ameaça de uma escalada nos preços levou o Fed a elevar os juros em uma série de reuniões a partir de meados de 2004, para uma taxa que chegou a 5,25% dois anos depois. Naquele momento, a crise de crédito e da própria economia era uma ameaça distante.
Mas, neste ano, a desaceleração econômica começa a se espalhar. Para muitos analistas, os EUA, embora tenham crescido 1% no primeiro trimestre, ainda podem entrar em recessão no segundo semestre. Projeções apontam que a zona do euro pode ter sofrido contração no segundo trimestre pela primeira vez em sua história.
Mesmo a vitória do Japão contra uma década de recuo nos preços se mantém frágil e os preços locais -excluindo os de alimentos e combustíveis, categorias mais voláteis- caíram 0,1% em maio passado.
"O fato de agora as pessoas estarem preocupadas com a inflação não significa que elas não estarão preocupadas com a deflação dentro de um ano", disse Edwards, do Société.
De qualquer forma, a maioria dos economistas ainda está elevando suas previsões para os índices de inflação ao consumidor, num momento em que os preços de alimentos e combustíveis alcançam recordes.
Larry Kantor, chefe do setor de pesquisa do Barclays Capital em Nova York, estima que a taxa de inflação mundial ficará em 5% neste ano, o ritmo mais acelerado desde 1983.


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