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Para analistas, modelo não tira interesse estrangeiro
Eficiência do sistema de partilha, no entanto, é alvo de questionamentos
Para especialistas, importante é ter havido definição para o modelo do pré-sal, que
permite o planejamento de investimentos no setor
SAMANTHA LIMA
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
A instituição do modelo de
partilha para exploração da nova fronteira petrolífera na camada abaixo do sal já era dada
como certa pelo mercado.
Especialistas se dividem em
relação ao modelo em termos
de eficiência na produção e nos
benefícios para o país. Mas concordam que o interesse das empresas estrangeiras em entrar
nessas áreas se manterá.
Para Ivan simões, diretor de
Exploração e Produção do IBP
(Instituto Brasileiro de Petróleo), a indústria de petróleo trabalha tanto com o modelo de
partilha de produção como
com o atual regime de concessão e pode se adaptar às regras
anunciadas ontem.
O que o setor quer, diz, "são
regras estáveis e de longo prazo", que assegurem um retorno
ao investimento compatível ao
risco assumido.
O IBP vinha criticando a demora na tomada de decisão sobre o novo modelo. Por isso, Simões achou positiva a definição, o que permite o planejamento de investimentos.
Para Simões, o fato de a Exxon ter perfurado o primeiro
poço seco do pré-sal, no qual
não houve descoberta, não reduz o interesse pela região. "O
pré-sal continua a ser bastante
promissor", disse.
Já para Adriano Pires, especialista do CBIE (Centro Brasileiro de Infraestrutura), o poço
seco deveria levar o governo a
repensar o modelo e optar pelo
regime de concessão, uma vez
que toda a defesa do sistema de
partilha de produção se baseou
no risco zero (com descobertas
em todas as perfurações) do
pré-sal até então.
Pires avalia que o governo
correu para divulgar o modelo
com dois objetivos políticos:
criar uma bandeira de campanha para a ministra Dilma
Rousseff e evitar um desgaste
maior da CPI da Petrobras, que
deve ser instalada hoje.
"A CPI vai dividir espaço no
noticiário agora com as regras
do pré-sal", diz.
Na visão dele, o novo marco
regulatório do pré-sal "dificilmente" será aprovado ainda no
governo Lula e deve ser desfigurado no Congresso. Por isso,
diz, a sua divulgação atendeu à
necessidade de lançar uma
"bandeira nacionalista" para
Dilma, provável candidata do
PT à Presidência.
O pesquisador Giuseppe Bacoccoli, do Instituto Coppe, da
UFRJ, teme que as discussões
no Congresso, ao se arrastarem, atrasem mais ainda o início da produção no pré-sal.
As áreas identificadas pela
Petrobras com potencial de
ocorrência de petróleo no pré-sal foram tiradas em 2007 do
processo de licitação que a ANP
(Agência Nacional do Petróleo)
realizava anualmente, por determinação do governo. Nenhuma delas foi oferecida nos
leilões de 2007 e 2008.
"Não havia necessidade de
mudar o modelo. Ninguém sabe o que esperar do Congresso,
quais brigas essa discussão levantará. Servirá para criar turbulência para o modelo e atrasará ainda mais a exploração e a
produção dessas áreas."
Também ex-funcionário da
Petrobras por décadas e ex-presidente da empresa, o consultor Armando Guedes se
mostrou favorável à mudança.
Para ele, o novo modelo é a forma encontrada pelo governo de
preservar a Petrobras.
"Se o modelo de concessão
fosse mantido, a Petrobras não
teria fôlego financeiro para entrar em novas áreas no pré-sal,
já que o que ela tem para fazer
lá, hoje, demandará investimentos altos", diz Guedes.
O raciocínio, segundo Guedes, é que, com o novo modelo,
o governo terá prerrogativa de
escolher a Petrobras.
Segundo Guedes, o modelo
premia a companhia. "Se não
fosse a Petrobras, toda essa história do pré-sal não existiria."
A Petrobras não quis comentar o anúncio do modelo para o
pré-sal.
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