São Paulo, terça-feira, 14 de julho de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Para Lula, demissão no fisco foi precipitada

Planalto avalia que saída da atual secretária da Receita só deveria ter sido concretizada após escolha de um substituto

Governo queria desvincular demissão de Lina Maria Vieira de teses sobre suposta ingerência política e não dar fôlego à CPI da Petrobras

Lula Marques - 31.jul.2008/Folha Imagem
Guido Mantega e Lina Vieira na posse dela, em julho de 2008; vazamento da demissão irritou Lula

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Lula criticou reservadamente seu ministro Guido Mantega (Fazenda) por causa do vazamento da demissão da secretária da Receita Federal, Lina Maria Vieira, antes da escolha de seu sucessor.
A decisão da saída de Lina estava tomada desde o início da semana passada, mas ainda não havia sido anunciada exatamente pela falta de um nome substituto que combinasse conhecimento técnico com jogo de cintura político.
Dentro do governo, a avaliação é a de que Mantega conduziu a troca de forma errada. Deveria ter conversado com a secretária apenas quando já tivesse escolhido seu sucessor e montado uma nova equipe, pelo menos com os assessores mais importantes.
A preocupação é que a substituição atabalhoada dê mais fôlego para a oposição, que instalará hoje, no Congresso, uma CPI para apurar irregularidades na Petrobras (leia mais no caderno Brasil). A secretária bateu de frente com a estatal ao questionar um procedimento contábil que permitiu reforçar o caixa da empresa com cerca de R$ 4 bilhões.
Tudo o que o governo queria era desvincular a saída da secretária de teses sobre possível ingerência política no fisco. As sucessivas quedas na arrecadação eram a justificativa que mais agradava ao governo e ajudariam tornar a substituição mais tranquila.

Vazamento
Na última quinta-feira, Mantega informou Lina sobre a decisão de tirá-la do cargo. O vazamento da demissão da secretária, porém, provocou um movimento contrário por parte de seus subordinados mais próximos. Sete dos dez superintendentes ameaçam entregar o cargo se a demissão não for revertida.
Os auxiliares diretos da secretária, contudo, já davam ontem como certa sua saída, pensando, inclusive, na forma como será a feita a transição para a nova administração. Ligados ao movimento sindical, eles temem que o substituto de Lina seja ligado ao ex-secretário Jorge Rachid.
A pressão levou o ministro da Fazenda a evitar confirmar a saída da secretária. "Não tenho obrigação de confirmar nada", disse o ministro.
Questionado se o presidente Lula está insatisfeito com a arrecadação federal, Mantega respondeu que Lula só teceu elogios à equipe econômica, mais uma vez evitando falar sobre a Receita Federal.
"O presidente não reclamou. Só parabenizou a equipe econômica e disse que está satisfeito com o resultado [da economia]", disse o ministro, ao final da reunião ministerial realizada ontem com o presidente.

Fritura
A assessoria de imprensa do Ministério da Fazenda limitou-se, ao longo de todo o dia, a informar que não havia posição oficial do governo sobre o assunto, aumentando o constrangimento e a fritura da atual secretária.
A própria Lina deu sinais de que não pretende sair como "incompetente". Desde a semana passada, assim que foi avisada de que seria substituída, a secretária prepara um levantamento sobre as ações na sua gestão.
O documento servirá para rebater as críticas sobre a suposta paralisação da Receita Federal e quedas nas receitas em função de problemas administrativos dentro do órgão. Segundo a Folha apurou, a ideia é reunir dados para derrubar a tese de que a demissão teve apenas motivos técnicos.
Ontem, a secretária passou o dia reunida com seus assessores mais próximos trabalhando no balanço que será entregue a Mantega. Hoje, ela deverá se reunir com o ministro.


LEIA MAIS sobre a CPI da Petrobras em Brasil


Texto Anterior: Para Fazenda, economia global demonstra sinais de melhora
Próximo Texto: Frase
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.