São Paulo, segunda-feira, 14 de agosto de 2006

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Analistas já vêem queda dos juros nos EUA

Redução da taxa norte-americana deve estimular o fluxo de dólares para os países emergentes, entre os quais o Brasil

Entre as razões para o fim do ciclo de altas promovido pelo Fed está a pressão deflacionária da barata mão-de-obra chinesa


MARIA CRISTINA FRIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

Analistas afirmam se preparar para o fim da alta de juros nos Estados Unidos. E há quem já projete uma futura queda da taxa básica da economia norte-americana.
"A discussão agora é para quanto vai cair a taxa de juros nos Estados Unidos, em 2007", diz Paulo Tenani, estrategista do UBS Wealth Management. Mesmo que o Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA) volte a subir mais 0,25 ponto percentual, o banco estrangeiro não alterará a previsão agressiva de juros a 4%, ou 4,25%, no final de 2007.
Quanto menor a taxa nos EUA, maior é a atratividade de aplicações externas, e, portanto, o fluxo em dólares para emergentes, como o Brasil.
Segundo o estrategista, o mundo não agüenta taxas reais muito altas. Mas a principal razão para a queda dos juros são as forças deflacionárias por causa da China, onde há excesso de mão-de-obra. Há uma pressão para não subir salário e custos, caso contrário, empresas transferem sua produção para se valer de mão-de-obra mais barata.
O que poderá "modificar o desejo do Fed de ficar parado" serão os indicadores de atividade, caso se mostrem mais vigorosos que o previsto, segundo relatório da equipe econômica do Bradesco. A taxa de juros de 5,25% pode ser suficiente, "se o PIB cair para abaixo do potencial (que deve estar em 3%)".

Emergentes
Para Tenani, a desaceleração norte-americana pode se mostrar forte, e há riscos de recessão. Mas o UBS não trabalha com um cenário muito pessimista para a economia global.
"Deverá haver um rebalanceamento. Europa e Japão vão pegar um pouco desse crescimento, que ocorria nos Estados Unidos, e os emergentes também." Segundo o estrategista, a demanda de commodities deverá continuar positiva.
"Países desenvolvidos crescem a metade dos emergentes. Se esses crescerem o dobro, haverá uma compensação [para a desaceleração dos EUA]", diz Tenani. Pelos cálculos do UBS, com dados do FMI, os emergentes, incluindo a China, representam 19% do PIB mundial. À Europa corresponde uma fatia de 22%, enquanto os EUA respondem por 28%.
Mantida a demanda por commodities e o alto diferencial entre os juros que o Brasil paga e os praticados no exterior, o fluxo de dólares deverá crescer, avalia Tenani.
"O dólar vai acabar derrubando a taxa Selic para 10% no fim de 2007, é inexorável", destaca o analista. "O quanto pode cair depende de quanto o país paga lá fora em dólares. O Brasil paga 6,8% em dólares no exterior, e aqui, atualmente, 14,75%. Uma taxa de 10%, que é cerca de 45% a mais do que se paga fora, na dívida externa soberana, compensa os custos e todo o risco de investir no mercado doméstico."
Segundo Tenani, a Selic, nesse que seria o menor patamar da história recente do país, não embute o risco de bolha especulativa no mercado de dólar, com enfraquecimento do real, nem pressões inflacionárias, como aconteceu em 2002.
No México, não compensa tomar risco cambial, diz, porque o diferencial de juros pagos pelo país é muito pequeno: 7% na taxa doméstica e 6,8% fora.
"Estamos recomendando que investidores entrem cada vez mais no Brasil em renda fixa, depois em crédito, renda variável, imóveis, que no Brasil é mais arriscado que ações, private equity e venture cap, que devem crescer nos próximos cinco anos", diz.


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