São Paulo, quinta-feira, 14 de agosto de 2008

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Para BC, queda das commodities é apenas um alívio

Autoridade monetária ainda vê superaquecimento da economia, o principal motivo que a levou a subir os juros

Nova dosagem no aumento de juros, que colocou a Selic em 13% ao ano, vem sendo vista pelo BC como eficaz

LEANDRA PERES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A queda nas cotações internacionais dos alimentos e do petróleo traz algum um alívio para a inflação, mas não ajuda a resolver o principal problema que levou o Banco Central a elevar os juros: o superaquecimento da economia.
O diagnóstico feito pelo próprio BC não permite concluir, porém, que será mantido o ritmo de maior aperto monetário, como ocorreu na última reunião do Copom, em julho, quando o BC elevou os juros em 0,75 ponto percentual. Isso porque a nova dosagem, que colocou a Selic em 13% ao ano, vem sendo vista pela autoridade monetária como eficaz.
As primeiras reações do mercado mostram que a decisão de subir a Selic mais do que o 0,50 ponto esperado foi suficiente para fazer com que as projeções de inflação para 2009 não continuassem piorando, como ocorreu ao longo de junho.
No sistema brasileiro de metas para a inflação, as expectativas pesam muito na decisão do BC sobre os juros. Se as pessoas acreditam que os juros vão desacelerar a economia e a inflação vai cair no futuro, o BC pode manter mais baixa a dose de novos aumentos. Se esse efeito não é alcançado, a elevação nos juros tem que ser maior.
Depois de subirem de 4,6% ao ano para 5% ao ano entre o início de junho e o começo de julho, as expectativas de inflação para 2009 se estabilizaram em 5% ao ano, o que indica que o BC conseguiu influenciar na tendência de aumento das taxas que vinha se consolidando.
Essa melhora nas expectativas tampouco autoriza apostas seguras em um aumento de 0,50 na Selic na reunião marcada para setembro, apesar de Lula já haver sinalizado ao BC que não gostaria de nova elevação da Selic em 0,75 ponto.
É que, na visão do BC, os indicadores de crédito, renda e produção industrial, entre outros, espelham melhor o que acontece com a demanda interna. Como esses índices ainda registram crescimento elevado, o banco não vê motivos para mudar o diagnóstico de que a economia continua aquecida.
O crédito, por exemplo, cresceu 14% no primeiro semestre do ano. Houve sinais de que os financiamentos a pessoas físicas frearam, mas as empresas tomaram mais crédito.
O mesmo ocorreu com a renda dos trabalhadores. O IBGE registrou aumento de 2,3% nos rendimentos no primeiro semestre ante o mesmo período de 2007. Em relação a maio, porém, a renda cresceu só 0,3%.
A queda no preço internacional das commodities e do petróleo é vista como um efeito positivo que alivia a pressão sobre os preços internos. O BC entende que, num momento em que a economia está aquecida e há um choque nos preços de alimentos, as chances de esses reajustes serem repassados para preços é muito maior. Dessa forma, a melhora nos preços internacionais diminui o trabalho, mas não muda o problema a ser enfrentado.
Os próximos passos do BC em relação à taxa de juros serão guiados por dois princípios. O primeiro é que há uma defasagem de aproximadamente nove meses entre a alta de juros e o impacto sobre a economia. Dessa forma, os primeiros resultados da elevação na Selic só serão sentidos no final do ano.
O outro é que o BC não age levando em conta os índices de inflação corrente. Por isso, a queda na inflação esperada para agosto e setembro pela própria autoridade monetária não deve influenciar diretamente as decisões sobre os juros.


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