São Paulo, sábado, 14 de setembro de 2002

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FILOSOFIA

Em debate no BNDES, Malan cita Marx, diz que não é contra o Estado e que acha bobagem definir o que é política industrial

Malan diz que não é e nunca foi neoliberal

CHICO SANTOS
DA SUCURSAL DO RIO

O ministro da Fazenda, Pedro Malan, disse ontem que não é nem nunca foi neoliberal e citou Karl Marx, o "pai" das teorias comunistas, para afirmar que a realidade não é como as pessoas gostariam que fosse.
"Nós não somos neoliberais. Nunca fomos. Nós, por exemplo, defendemos que uma economia em desenvolvimento tem que ter um Estado eficiente. E um Estado eficiente do tamanho que seja necessário para que seja eficiente. O Estado pode ser pequeno e eficiente, médio e eficiente, enorme e eficiente. Ou pode ser enorme e ineficiente", afirmou.
As afirmações do ministro foram feitas no final de um painel presidido por ele no seminário "Novos Rumos do Desenvolvimento no Mundo", promovido pelo BNDES. Os três palestrantes do painel e um dos dois debatedores haviam criticado com veemência a globalização e políticas ditas neoliberais, como a idéia de um Estado mínimo.
Em citação que envolveu também nome do ex-ministro do Planejamento Celso Furtado, que acabara de ser homenageado na sessão, Malan disse que "o mundo, infelizmente, não é aquele que gostaríamos que fosse", destacando o título de um livro de Furtado, "A Fantasia Organizada".
Em seguida Malan afirmou que Furtado, um economista de pensamento identificado com as correntes de esquerda, "é leitor de Marx" e que sabe que o sociólogo alemão pensou sobre o ideal e o possível, lembrando o "18 Brumário de Luiz Bonaparte", de Marx, sobre o fato de os homens fazerem a própria história, mas não nas condições em que escolhem e sob o peso do passado.
O ministro disse que considera "uma bobagem perder tempo em definir o que é política industrial", um dos temas favoritos dos críticos do neoliberalismo. Para Malan, quando faz seus empréstimos o BNDES está fazendo "política de investimentos" e criticou as antigas câmaras setoriais que, segundo ele, funcionavam muitas vezes como instrumentos de "acesso privilegiado a certas instâncias do poder público".

Metas estruturais
O presidente do BC (Banco Central), Armínio Fraga, que também participou do seminário, disse, sem citar nomes, que "vem sendo amadurecida nas discussões no Brasil" a adoção de "metas estruturais", como a necessidade de um superávit fiscal sustentável que assegure um tendência decrescente da relação entre a dívida pública e o PIB.
Armínio disse que o maior desafio para o próximo governo na área econômica é conseguir que o assuntos como inflação e contas públicas "saiam das primeiras páginas dos jornais" e que o governo possa montar uma estratégia de desenvolvimento "sem cair nas armadilhas que uma história bem-sucedida nos deixou".
Essas armadilhas teriam sido geradas na industrialização brasileira. Essas estruturas, diz Armínio, às vezes dificultam uma mudança de mentalidade quando se pensa em partir para um modelo baseado na produtividade.


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