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ARGENTINA
Governo recorre da decisão
Tribunal determina que "corralito" é ilegal
JOÃO SANDRINI
DE BUENOS AIRES
O governo argentino sofreu ontem um novo golpe na Justiça que
complica ainda mais a situação
econômica do país e dificulta
avanços em um novo acordo com
o FMI. A Câmara Federal de Litígio Administrativo, um tribunal
de segunda instância, declarou inconstitucionais a "pesificação"
dos depósitos bancários e o "corralito" (nome dado às restrições
para saques bancários, vigentes
desde dezembro).
De acordo com a sentença, os
depósitos em dólares, que haviam
sido convertidos em pesos pela
cotação de 1,40 peso por US$ 1 no
começo do ano, deverão ser redolarizados. A aplicação da medida
não será imediata porque o governo tem o direito de recorrer à
Corte Suprema, como já anunciou que vai fazer.
Para o governo, o fim da "pesificação" poderia quebrar todos os
bancos do país porque, como o
dólar fechou ontem a 3,67 pesos,
as instituições financeiras não teriam condições de arcar com o
aumento do valor desses depósitos em moeda local.
O governo sofreu ainda outro
revés judicial ontem. Uma associação de correntistas entrou com
um processo criminal na Justiça
espanhola para recuperar US$ 100
milhões presos nos bancos.
A ação, impetrada na Audiência
Nacional (o máximo tribunal espanhol), acusa o membros do
atual governo argentino e do governo do ex-presidente Fernando
de la Rúa (1999-2001), além dos
bancos espanhóis BBVA e Santander, de apropriação indébita
de bens. Segundo o chefe de gabinete, Alfredo Atanasof, a Justiça
"não pode alterar todas as regras
do jogo quando o país está se estabilizando".
De acordo com o jornal argentino "Clarín", o governo vai reagir
criando uma comissão técnica de
juristas para se antecipar a sentenças judiciais desfavoráveis, recorrer rapidamente a instâncias
superiores e evitar que a Justiça
trave o acordo com o FMI.
Além de não conseguir avançar
na implementação das políticas
exigidas, a maioria das decisões
judiciais também impede o cumprimento das promessas feitas à
instituição financeira.
Ontem, o governo divulgou o
Orçamento de 2003, que prevê
uma inflação de 22,7%. O dado,
considerado otimista por analistas, foi calculado com base em
uma cotação do dólar estável em
3,70 pesos até dezembro de 2003.
Já o PIB deve crescer 3% no próximo ano, e a arrecadação, 42%.
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