São Paulo, terça-feira, 14 de outubro de 2008

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Perda cambial atinge mais de 200 empresas, diz governo

Previsão é que novos prejuízos milionários com derivativos sejam anunciados

Grandes companhias como Sadia, Votorantim e Aracruz já informaram prejuízos com apostas erradas no mercado futuro

MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A NOVA DÉLI

O governo tem informações de que pelo menos 220 empresas estão em situação de risco devido a apostas erradas feitas no mercado de câmbio e poderão sofrer perdas milionárias, a exemplo do que ocorreu com a Votorantim, a Sadia e a Aracruz, entre outras. Não é possível ainda precisar o número de companhias expostas à desvalorização do real, já que nem todas as operações foram registradas no Banco Central e nenhuma delas procurou o governo em busca de socorro.
Fontes da comitiva do governo à conferência do Ibas (grupo formado por Índia, Brasil e África do Sul), que teve início ontem em Nova Déli, repetiram a crítica feita pelo presidente Lula às empresas que transformaram suas tesourarias em "instrumentos de especulação". E disseram que não haverá resgate do governo a quem deixou de lado sua atividade produtiva para se lançar em ações especulativas.
O governo tem recebido informações de que o número de empresas que enfrentam dificuldades por apostar que o dólar continuaria em queda estaria entre 220 e 250, bem mais que o estimado inicialmente.
Na última sexta-feira, o grupo Votorantim comunicou que teve perdas de R$ 2,2 bilhões em operações de câmbio, o maior prejuízo divulgado por uma empresa brasileira desde o início da crise de crédito. Antes disso, a Sadia já havia reconhecido prejuízo de R$ 760 milhões pelo mesmo motivo, e a Aracruz, de R$ 1,9 bilhão.

Crédito "empoçado"
Alguns setores no Brasil já sentem com mais força o impacto da crise do crédito e da desvalorização do real. Segundo o ministro do Desenvolvimento, Miguel Jorge, um dos mais castigados é o das montadoras de automóveis.
Elas sofrem duas vezes em sua relação com as locadoras, explicou o ministro, que ontem abriu a conferência do Ibas. No primeiro golpe, pela queda na demanda. No segundo, porque as locadoras revendem os carros que haviam comprado com o objetivo de alugar, competindo de forma desleal com as montadoras no mercado de carros usados.
O ministro criticou os bancos por estarem retendo recursos que deveriam estar "irrigando" o mercado de crédito. Miguel Jorge lembrou que o governo tomou medidas como a redução do depósito compulsório para aumentar a liquidez no mercado, mas o dinheiro continua sendo retido pelos bancos, agravando a crise do crédito.
"Os bancos estão empoçando o dinheiro que deveria estar irrigando o mercado de crédito", disse Jorge. Já a valorização do dólar abala os setores que têm forte dependência de produtos cotados na moeda americana, como é o caso do farmacêutico.


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