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Perda cambial atinge mais de 200 empresas, diz governo
Previsão é que novos prejuízos milionários com derivativos sejam anunciados
Grandes companhias como Sadia, Votorantim e Aracruz já informaram prejuízos com apostas erradas
no mercado futuro
MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A NOVA DÉLI
O governo tem informações
de que pelo menos 220 empresas estão em situação de risco
devido a apostas erradas feitas
no mercado de câmbio e poderão sofrer perdas milionárias, a
exemplo do que ocorreu com a
Votorantim, a Sadia e a Aracruz, entre outras. Não é possível ainda precisar o número de
companhias expostas à desvalorização do real, já que nem todas as operações foram registradas no Banco Central e nenhuma delas procurou o governo em busca de socorro.
Fontes da comitiva do governo à conferência do Ibas (grupo
formado por Índia, Brasil e
África do Sul), que teve início
ontem em Nova Déli, repetiram a crítica feita pelo presidente Lula às empresas que
transformaram suas tesourarias em "instrumentos de especulação". E disseram que não
haverá resgate do governo a
quem deixou de lado sua atividade produtiva para se lançar
em ações especulativas.
O governo tem recebido informações de que o número de
empresas que enfrentam dificuldades por apostar que o dólar continuaria em queda estaria entre 220 e 250, bem mais
que o estimado inicialmente.
Na última sexta-feira, o grupo Votorantim comunicou que
teve perdas de R$ 2,2 bilhões
em operações de câmbio, o
maior prejuízo divulgado por
uma empresa brasileira desde o
início da crise de crédito. Antes
disso, a Sadia já havia reconhecido prejuízo de R$ 760 milhões pelo mesmo motivo, e a
Aracruz, de R$ 1,9 bilhão.
Crédito "empoçado"
Alguns setores no Brasil já
sentem com mais força o impacto da crise do crédito e da
desvalorização do real. Segundo o ministro do Desenvolvimento, Miguel Jorge, um dos
mais castigados é o das montadoras de automóveis.
Elas sofrem duas vezes em
sua relação com as locadoras,
explicou o ministro, que ontem
abriu a conferência do Ibas. No
primeiro golpe, pela queda na
demanda. No segundo, porque
as locadoras revendem os carros que haviam comprado com
o objetivo de alugar, competindo de forma desleal com as
montadoras no mercado de
carros usados.
O ministro criticou os bancos
por estarem retendo recursos
que deveriam estar "irrigando"
o mercado de crédito. Miguel
Jorge lembrou que o governo
tomou medidas como a redução do depósito compulsório
para aumentar a liquidez no
mercado, mas o dinheiro continua sendo retido pelos bancos,
agravando a crise do crédito.
"Os bancos estão empoçando
o dinheiro que deveria estar irrigando o mercado de crédito",
disse Jorge. Já a valorização do
dólar abala os setores que têm
forte dependência de produtos
cotados na moeda americana,
como é o caso do farmacêutico.
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