São Paulo, terça-feira, 14 de outubro de 2008

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bastidores

BC ganhou tempo para administrar pressão sobre juro

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Banco Central afrouxou mais as regras sobre o depósito compulsório dos bancos por três motivos principais, segundo apurou a Folha: 1) As medidas anteriores nesse sentido não destravaram o crédito; 2) A esperança de que, com mais dinheiro em caixa, os bancos refinanciem contratos de empresas que apostaram no real valorizado e se surpreenderam com a disparada do dólar, e 3) Estratégia a fim de amenizar as pressões do próprio governo para que reduza os juros.
O novo afrouxamento do compulsório começou a ser amadurecido na sexta-feira passada, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva conversou com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e com o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles.
Nas conversas, Mantega demonstrou preocupação com a quantidade de empresas que apostaram que o dólar ficaria num patamar baixo na comparação com o real. Segundo ele, essas empresas poderiam representar um "subprime" brasileiro -ou seja, a fragilidade econômica do país estaria na área produtiva.
Meirelles relatou a resistência de grandes bancos em comprar carteiras de crédito de pequenas instituições. Também deixou claro que as instituições estavam desconfiadas e que a concessão de crédito estava parada. Daí a necessidade de mexer novamente na regra dos depósitos compulsórios -que obriga as instituições a recolher ao Banco Central, todos os dias, parte do dinheiro dos seus correntistas.
Com afrouxamento das regras do compulsório, o quinto na crise, o Banco Central busca injetar dinheiro na economia, um efeito parecido com uma queda da taxa básica de juros, a Selic, hoje em 13,75% ao ano.
Para o BC, é incerto o efeito da valorização do dólar em termos inflacionários. Assim, ao injetar dinheiro na economia via compulsório, o BC ganha tempo para administrar as pressões pela queda dos juros.

Efeito colateral
A crise mundial produziu um efeito inusitado em Brasília: melhorou a relação entre Mantega e Meirelles. Eles ficaram mais afinados, por exigência da situação e devido às cobranças de Lula.
Meirelles tem tido uma avaliação cautelosa, insistindo nos bons fundamentos da economia para dizer que o Brasil será afetado, mas que saberá administrar a crise. Mantega faz uma avaliação pessimista, preocupado com a situação das empresas que apostaram no real valorizado. Apesar das nuances, ambos deram uma trégua nas críticas recíprocas e melhoraram o entrosamento, segundo auxiliares de Lula que acompanham há tempos essa delicada relação.


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