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bastidores
BC ganhou tempo para administrar pressão sobre juro
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Banco Central afrouxou
mais as regras sobre o depósito compulsório dos bancos
por três motivos principais,
segundo apurou a Folha: 1)
As medidas anteriores nesse
sentido não destravaram o
crédito; 2) A esperança de
que, com mais dinheiro em
caixa, os bancos refinanciem
contratos de empresas que
apostaram no real valorizado e se surpreenderam com
a disparada do dólar, e 3) Estratégia a fim de amenizar as
pressões do próprio governo
para que reduza os juros.
O novo afrouxamento do
compulsório começou a ser
amadurecido na sexta-feira
passada, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva
conversou com o ministro da
Fazenda, Guido Mantega, e
com o presidente do Banco
Central, Henrique Meirelles.
Nas conversas, Mantega
demonstrou preocupação
com a quantidade de empresas que apostaram que o dólar ficaria num patamar baixo na comparação com o
real. Segundo ele, essas empresas poderiam representar um "subprime" brasileiro
-ou seja, a fragilidade econômica do país estaria na
área produtiva.
Meirelles relatou a resistência de grandes bancos em
comprar carteiras de crédito
de pequenas instituições.
Também deixou claro que as
instituições estavam desconfiadas e que a concessão
de crédito estava parada. Daí
a necessidade de mexer novamente na regra dos depósitos compulsórios -que
obriga as instituições a recolher ao Banco Central, todos
os dias, parte do dinheiro dos
seus correntistas.
Com afrouxamento das regras do compulsório, o quinto na crise, o Banco Central
busca injetar dinheiro na
economia, um efeito parecido com uma queda da taxa
básica de juros, a Selic, hoje
em 13,75% ao ano.
Para o BC, é incerto o efeito da valorização do dólar
em termos inflacionários.
Assim, ao injetar dinheiro na
economia via compulsório, o
BC ganha tempo para administrar as pressões pela queda dos juros.
Efeito colateral
A crise mundial produziu
um efeito inusitado em Brasília: melhorou a relação entre Mantega e Meirelles. Eles
ficaram mais afinados, por
exigência da situação e devido às cobranças de Lula.
Meirelles tem tido uma
avaliação cautelosa, insistindo nos bons fundamentos da
economia para dizer que o
Brasil será afetado, mas que
saberá administrar a crise.
Mantega faz uma avaliação
pessimista, preocupado com
a situação das empresas que
apostaram no real valorizado. Apesar das nuances, ambos deram uma trégua nas
críticas recíprocas e melhoraram o entrosamento, segundo auxiliares de Lula que
acompanham há tempos essa delicada relação.
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