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Com US$ 64 bi, Londres nacionaliza bancos
Estatização parcial de três grandes instituições reanima Bolsa londrina, que sobe 8,2%, segunda maior alta da história
Governo coloca restrições aos bancos que aceitaram o socorro, como congelar a distribuição de dividendos e cancelar bônus a executivos
PEDRO DIAS LEITE
DE LONDRES
O governo do Reino Unido
anunciou ontem a estatização
parcial de três bancos do país,
ao injetar 37 bilhões de libras
(US$ 64,4 bilhões ou R$ 148,9
bilhões) nas instituições para
tentar conter os efeitos devastadores da atual crise financeira.
A compra das ações de Royal
Bank of Scotland, Lloyds TSB e
HBOS é o primeiro passo concreto de um megapacote de ao
menos 500 bilhões de libras
(US$ 870 bilhões, o equivalente
a dois terços do PIB brasileiro)
lançado na quinta passada.
O Barclays, instituição que
participou das negociações até
o último momento, decidiu
tentar captar com investidores
o dinheiro necessário para se
recapitalizar e não deve usar os
fundos do governo no momento. Mas não descartou a ajuda,
se sua tentativa fracassar, o que
pode elevar o valor do socorro
para mais de 40 bilhões de libras.
Em contrapartida pelo pacote e como meio de não se tornar
ainda mais impopular, o governo impôs uma série de duras
restrições aos bancos que aceitaram o socorro, como congelar
a distribuição de dividendos até
repagar o governo e cancelar os
bônus de executivos. O Tesouro terá também diretores nas
instituições.
A Bolsa londrina fechou com
uma alta de 8,2%, a segunda
maior da história, mas as ações
dos bancos envolvidos no pacote caíram. Os papéis de outros
bancos que não pegaram dinheiro do governo, como o
HSBC, subiram.
"Ainda não dá para saber se o
pacote vai funcionar, mas está
claro que o governo tem dinheiro para resolver o problema e demonstrou determinação para isso, que é o principal",
disse à Folha o professor Jon
Danielsson, da LSE (London
School of Economics and Political Science), especialista em
crises financeiras.
O primeiro-ministro britânico, o trabalhista Gordon
Brown, justificou o pacote afirmando ontem que em momentos como o atual o Estado tem
de ser uma "rocha de estabilidade".
O governo deve comprar 20
bilhões de libras em ações do
RBS (Royal Bank of Scotland)
-15 bilhões em ações ordinárias, com direito a voto, e 5 bilhões em ações preferenciais-,
o que o deixaria com uma fatia
de 60% da instituição.
Ainda não está claro o total
exato que ficará em mãos do
governo porque, pela regra, as
novas ações têm de ser oferecidas aos atuais acionistas. Se
não houver interesse, como a
maior parte do mercado tem
quase certeza de que não haverá e como a queda na Bolsa onde indica, as ações ficam com o
governo.
Fusão
Os outros 17 bilhões de libras
do pacote serão divididos entre
o Lloyds e o HBOS (Halifax
Bank of Scotland), que vão levar adiante uma fusão fechada
no mês passado. O Lloyds deve
pegar 5,5 bilhões de libras do
governo (4,5 bilhões de ordinárias e 1 bilhão de preferenciais),
e o HBOS terá 11,5 bilhões de libras (8,5 bi em ordinárias e o
restante em preferenciais).
Quando a fusão for completada, o governo deve terminar
com uma fatia em torno de 40%
do novo banco, que será um gigante de crédito imobiliário e
do varejo.
Apesar de na prática ser uma
estatização, ela não guarda semelhanças com anteriores, disse o professor da LSE. "Essa estatização é diferente. No passado, o governo estatizava por ter
uma ideologia socialista ou
porque achava que administraria de modo mais eficiente.
Agora, é só uma ajuda, para
vender assim que for possível",
afirmou Danielsson.
Outros bancos
O Barclays anunciou que vai
tentar captar 6,6 bilhões de libras com investidores e acionistas. Disse já ter um compromisso de 1 bilhão de libras de
um investidor. Além disso, não
vai pagar dividendos que estavam programados e cortar outros custos, numa tentativa de
chegar a uma injeção total de
dinheiro de cerca de 10 bilhões.
O Abbey também anunciou
aumento de capital de 1 bilhão
de libras, por meio do Santander.
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