São Paulo, terça-feira, 14 de outubro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Com US$ 64 bi, Londres nacionaliza bancos

Estatização parcial de três grandes instituições reanima Bolsa londrina, que sobe 8,2%, segunda maior alta da história

Governo coloca restrições aos bancos que aceitaram o socorro, como congelar a distribuição de dividendos e cancelar bônus a executivos

PEDRO DIAS LEITE
DE LONDRES

O governo do Reino Unido anunciou ontem a estatização parcial de três bancos do país, ao injetar 37 bilhões de libras (US$ 64,4 bilhões ou R$ 148,9 bilhões) nas instituições para tentar conter os efeitos devastadores da atual crise financeira.
A compra das ações de Royal Bank of Scotland, Lloyds TSB e HBOS é o primeiro passo concreto de um megapacote de ao menos 500 bilhões de libras (US$ 870 bilhões, o equivalente a dois terços do PIB brasileiro) lançado na quinta passada.
O Barclays, instituição que participou das negociações até o último momento, decidiu tentar captar com investidores o dinheiro necessário para se recapitalizar e não deve usar os fundos do governo no momento. Mas não descartou a ajuda, se sua tentativa fracassar, o que pode elevar o valor do socorro para mais de 40 bilhões de libras.
Em contrapartida pelo pacote e como meio de não se tornar ainda mais impopular, o governo impôs uma série de duras restrições aos bancos que aceitaram o socorro, como congelar a distribuição de dividendos até repagar o governo e cancelar os bônus de executivos. O Tesouro terá também diretores nas instituições.
A Bolsa londrina fechou com uma alta de 8,2%, a segunda maior da história, mas as ações dos bancos envolvidos no pacote caíram. Os papéis de outros bancos que não pegaram dinheiro do governo, como o HSBC, subiram.
"Ainda não dá para saber se o pacote vai funcionar, mas está claro que o governo tem dinheiro para resolver o problema e demonstrou determinação para isso, que é o principal", disse à Folha o professor Jon Danielsson, da LSE (London School of Economics and Political Science), especialista em crises financeiras.
O primeiro-ministro britânico, o trabalhista Gordon Brown, justificou o pacote afirmando ontem que em momentos como o atual o Estado tem de ser uma "rocha de estabilidade".
O governo deve comprar 20 bilhões de libras em ações do RBS (Royal Bank of Scotland) -15 bilhões em ações ordinárias, com direito a voto, e 5 bilhões em ações preferenciais-, o que o deixaria com uma fatia de 60% da instituição.
Ainda não está claro o total exato que ficará em mãos do governo porque, pela regra, as novas ações têm de ser oferecidas aos atuais acionistas. Se não houver interesse, como a maior parte do mercado tem quase certeza de que não haverá e como a queda na Bolsa onde indica, as ações ficam com o governo.

Fusão
Os outros 17 bilhões de libras do pacote serão divididos entre o Lloyds e o HBOS (Halifax Bank of Scotland), que vão levar adiante uma fusão fechada no mês passado. O Lloyds deve pegar 5,5 bilhões de libras do governo (4,5 bilhões de ordinárias e 1 bilhão de preferenciais), e o HBOS terá 11,5 bilhões de libras (8,5 bi em ordinárias e o restante em preferenciais). Quando a fusão for completada, o governo deve terminar com uma fatia em torno de 40% do novo banco, que será um gigante de crédito imobiliário e do varejo.
Apesar de na prática ser uma estatização, ela não guarda semelhanças com anteriores, disse o professor da LSE. "Essa estatização é diferente. No passado, o governo estatizava por ter uma ideologia socialista ou porque achava que administraria de modo mais eficiente. Agora, é só uma ajuda, para vender assim que for possível", afirmou Danielsson.

Outros bancos
O Barclays anunciou que vai tentar captar 6,6 bilhões de libras com investidores e acionistas. Disse já ter um compromisso de 1 bilhão de libras de um investidor. Além disso, não vai pagar dividendos que estavam programados e cortar outros custos, numa tentativa de chegar a uma injeção total de dinheiro de cerca de 10 bilhões.
O Abbey também anunciou aumento de capital de 1 bilhão de libras, por meio do Santander.


Texto Anterior: Ajuda: Hungria e Islândia negociam com FMI
Próximo Texto: Plano francês cria estatal para socorrer setor
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.