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Plano francês cria estatal para socorrer setor
CÍNTIA CARDOSO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE PARIS
Um dia após o anuncio conjunto de apoio aos bancos dos
países da zona do euro, o presidente Nicolas Sarkozy detalhou a parte francesa do plano.
De acordo com Sarkozy, o pacote de ajuda francês é dividido
em duas partes : 1) o Estado poderá desembolsar 320 bilhões
de euros para garantir os empréstimos interbancários no
país ; 2) mais 40 bilhões de euros suplementares poderão ser
alocados para a recapitalização
dos bancos em dificuldades.
"O Estado francês não deixará nenhum estabelecimento
bancário entrar em falência",
disse Sarkozy.
O anúncio do presidente foi
feito ao término do Conselho
Ministerial extraordinário convocado ontem em Paris. Na
avaliação de Sarkozy, os fundos
mobilizados pela França são
comparáveis aos esforços da
Alemanha e do Reino Unido. "A
Europa reunida fez mais que os
Estados Unidos", disse, em entrevista no Palácio do Eliseu.
O plano francês, alinhado à
decisão conjunta do Eurogrupo, é inspirado na solução do
Reino Unido para socorrer o
setor financeiro. Mas, diferentemente do pacote de ajuda britânico, o governo francês decidiu criar uma empresa estatal
para administrar o refinanciamento para os bancos. Essa
companhia ficará sob a gestão
conjunta do Banco da França e
do Tesouro.
O refinanciamento para dar
um novo fôlego às atividades
bancarias poderá ser solicitado
pelas instituições financeiras
até 31 dezembro de 2009 e por
um período de até 5 anos.
Essa injeção de liquidez, disse a ministra da Economia da
França Christine Lagarde, vai
permitir que "os bancos façam
o seu trabalho. Ou seja, que emprestem dinheiro para as empresas".
Essa é, alias, uma das contrapartidas do financiamento estatal. Os estabelecimentos de
crédito que participarem desse
programa deverão financiar a
economia linhas de crédito para empresas e pessoas físicas.
Um relatório periódico das atividades do banco deverá ser enviado ao governo. "Queremos
um capitalismo empreendedor. Queremos fundar um outro sistema financeiro", afirmou o presidente francês.
Sarkozy afirmou ainda que os
empréstimos vão seguir as taxas de mercado. "Antes do final
da semana, nós teremos os instrumentos legislativos que nos
permitirão assumir todas as
conseqüências das nossas decisões", disse.
O outro pilar do pacote francês é a recapitalização dos bancos em dificuldade. O Estado
poderá comprar ações, podendo até se tornar sócio majoritário. "Depois da crise, poderemos vender as ações [dos bancos] e talvez até com algum lucro", afirmou Sarkozy. "Isso
não vai representar um peso
para os contribuintes."
Tanto para as instituições
que participarem do programa
de financiamento para empréstimos interbancários quanto
para aquelas que fizerem parte
do programa de recapitalização
estatal, o governo francês enfatizou que eles deverão adotar
um código de "boa conduta".
O código exige mais transparência e inclui a possibilidade
de redução das indenizações
milionárias concedidas para altos executivos.
O plano tem que passar ainda
pela aprovação do Senado e da
Câmara dos Deputados, mas
deverá contar com o apoio da
bancada. O partido socialista,
principal partido da oposição,
afirmou que não irá votar contra o pacote.
Impacto
A reação ao anúncio do Eurogrupo e ao pacote francês foi
imediata na Bolsa. O Índice
CAC 40 da Bolsa de Paris teve
uma alta de 11,18% ontem, a
maior em 20 anos. Uma recuperação parcial após a queda
acumulada de 22,2% na semana passada.
Já nas contas publicas, o impacto é ainda desconhecido.
Para financiar esse pacote, o
governo francês terá que emitir
mais títulos, o que vai pressionar a já alta dívida pública do
país. No final do segundo trimestre, ela representava 1,27
trilhão de euros, o que equivale
a 65,7% do PIB (Produto Interno Bruto).
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