São Paulo, terça-feira, 14 de outubro de 2008

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Krugman ganha o Nobel de Economia

Crítico da administração Bush e colunista do "New York Times", economista recebeu prêmio por teoria sobre comércio

Segundo Real Academia Sueca de Ciências, prêmio é pelas suas pesquisas econômicas, e não pelos seus comentários políticos

DA ASSOCIATED PRESS

Paul Krugman, acadêmico da Universidade Princeton, colunista do "New York Times" e de posições mais à esquerda, recebeu ontem o Prêmio Nobel de Economia por sua análise de como as economias de escala podem afetar os padrões do comércio internacional.
Krugman tem feito críticas contundentes à administração de George W. Bush e ao Partido Republicano no "New York Times", onde escreve uma coluna regular e tem blog (krugman.blogs.nytimes.com).
Ele também cobrou a responsabilidade da administração Bush pelo derretimento financeiro atual, atribuindo a crise que ameaça a economia global de recessão a sua busca da desregulamentação e à políticas fiscais sem restrições.
Krugman, que talvez seja mais conhecido do público como colunista que como economista, também vem se manifestando fortemente contra John McCain durante o derretimento econômico, dizendo que o candidato presidencial republicano "é mais assustador agora do que era algumas semanas atrás". Ele também ironizou os republicanos, dizendo que estão se convertendo no "partido da estupidez".
Tore Ellingsen, um dos membros do comitê do Nobel, reconheceu que Krugman é "formador de opiniões", mas acrescentou que ele está sendo homenageado por suas pesquisas econômicas, e não pelos seus comentários políticos.
"Damos atenção unicamente aos méritos científicos", disse.
Krugman, 55, que não é afeito a moderar suas opiniões, já comparou a crise financeira atual à devastação dos anos 1930. "Estamos testemunhando uma crise que é tão grave quanto a crise que atingiu a Ásia na década de 1990. Esta crise guarda alguma semelhança com a Grande Depressão."
Mas ele estava otimista quando ao esforço global para estancar a hemorragia financeira. "Estou um pouco menos apavorado hoje [ontem] do que estava na sexta-feira."
A Real Academia Sueca de Ciências elogiou Krugman por formular uma nova teoria para responder a perguntas sobre o livre comércio e disse que sua teoria inspirou um campo de pesquisas enorme. Pelo prêmio, ele receberá 10 milhões de coroas suecas (US$ 1,4 milhão).
"Quais são os efeitos do livre comércio e da globalização?
Quais são as forças que movem a urbanização mundial? Paul Krugman formulou uma teoria nova para responder essas perguntas", disse a Academia. "Com isso, ele integrou os campos de pesquisa antes díspares do comércio internacional e da geografia econômica."
Krugman obteve seu bacharelado na Universidade Yale em 1974 e em 1977 recebeu um Ph.D. do MIT. Além de lecionar em Yale e no MIT, deu aulas na Universidade Stanford.
A citação do Nobel disse que a abordagem de Krugman é baseada na premissa de que muitos bens e serviços podem ser produzidos a um custo menor em uma série longa -conceito conhecido como economia de escala. Sua pesquisa mostrou os efeitos disso sobre os padrões comerciais.
"A teoria do comércio, assim como boa parte da ciência econômica, antigamente era discutida no contexto da concorrência perfeita: milhares de agricultores e milhares de consumidores encontrando-se num mercado", com a oferta e a demanda regendo os preços, disse Avinash Dixit, professor de Princeton especializado em teoria comercial.
Pouco a pouco as pessoas começaram a entender que as condições do mercado são menos que perfeitas, e o número pequeno de empresas em alguns setores criava algumas economias de escala que modificavam a equação comercial.
"Krugman foi o principal responsável por juntar toda a teoria, reconhecer sua importância para o mundo real e produzir uma grande ampliação da teoria do comércio internacional", afirmou Dixit.
Krugman apresentou sua teoria do comércio em 1979. O artigo postulou que, pelo fato de os consumidores quererem uma diversidade de produtos e de a economia de escala baratear a produção, muitos países podem fabricar um produto como o automóvel. Um país pode fabricar suas marcas próprias de veículos tanto para exportação como para a venda interna, e, ao mesmo tempo, importar carros de outros países.


Leia cobertura do Nobel
www.folha.com.br/082873



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