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Gordon Brown foi no cerne do problema
PAUL KRUGMAN
DO "NEW YORK TIMES"
SERÁ que o primeiro-ministro britânico, Gordon
Brown, salvou o sistema
financeiro mundial?
Está bem, a questão é prematura ainda não estamos informados sobre a forma exata
dos resgates planejados ao setor financeiro da Europa, ou,
aliás, dos EUA, menos ainda
se eles irão funcionar. O que
sabemos, porém, é que
Brown e Alistair Darling, o
ministro das Finanças, definiram o caráter do esforço
mundial de resgate, e os demais países ricos estão se esforçando para acompanhar
os exemplos deles.
Trata-se de uma reviravolta
inesperada. O governo britânico, afinal, não ocupa posição grandiosa nos assuntos
econômicos mundiais. A economia britânica é muito menor que a americana, e o Banco da Inglaterra (BC do Reino
Unido) de forma alguma dispõe de influência semelhante
à do Fed (o BC dos EUA) ou
do Banco Central Europeu
(BCE). Por isso, poucos esperavam ver o país desempenhando papel de liderança.
Mas o governo Brown se
provou disposto a pensar com
clareza sobre a crise financeira, e agir com rapidez baseado
naquilo que concluiu. E essa
combinação de clareza e de
espírito de decisão não foi
acompanhada por nenhum
outro governo ocidental, especialmente o dos EUA.
Qual é a natureza da crise?
Os detalhes podem ser insanamente complexos, mas ela
é basicamente muito simples.
O estouro da bolha imobiliária gerou imensos prejuízos
para todos aqueles que adquiriram títulos lastreados em
hipotecas. Esses prejuízos geraram endividamento excessivo em muitas instituições financeiras e as deixaram desprovidas do capital para fornecer o crédito que a economia precisa. As instituições
em dificuldades tentaram saldar seus compromissos e reforçar seu capital pela venda
de ativos, mas isso resultou
em queda nos preços dos ativos, o que por sua vez diminuiu ainda mais o capital.
O que se pode fazer para
conter a crise? Assistência
aos proprietários de imóveis,
ainda que desejável, não bastaria para impedir prejuízos
pesados com maus empréstimos, e de qualquer jeito demoraria demais a fazer efeito,
tendo em vista o pânico vigente. A coisa natural a fazer,
portanto, e a solução adotada
em muitas crises do passado,
seria lidar com o problema da
capitalização inadequada do
setor financeiro por meio de
injeções de capital realizadas
pelo governo, em troca de
participações acionárias nas
empresas beneficiadas.
Mas, quando Henry Paulson, o secretário do Tesouro,
anunciou seu plano para um
pacote de resgate financeiro
de US$ 700 bilhões, ele rejeitou esse caminho óbvio, declarando que "isso é o se faz
em caso de quebras". Em vez
disso, ele defendia a compra
de títulos podres lastreados
por hipotecas, com base na
teoria de que... na verdade,
não se sabe ao certo que teoria ele estava propondo.
Enquanto isso, o governo
britânico foi direto ao cerne
do problema e agiu para resolvê-lo com rapidez espantosa. Na quarta-feira, os funcionários do governo Brown
anunciaram um plano para
grandes injeções de capital
nos bancos britânicos. E o
primeiro desembolso pesado
aconteceu ontem, cinco dias
depois do anúncio do plano.
Em encontro anteontem,
as principais economias da
Europa continental se declararam dispostas a seguir o
exemplo britânico, injetando
centenas de bilhões de euros
nos bancos e garantindo seus
passivos. E, quem diria, Paulson - depois de possivelmente ter desperdiçado semanas
preciosas- também reverteu
o curso e agora planeja adquirir participações acionárias.
Como disse, ainda não se
sabe se as medidas funcionarão. Mas as decisões políticas
estão por fim sendo propelidas por uma visão clara quanto ao que deve ser feito. O que
suscita a questão: por que essa visão clara veio de Londres,
e não de Washington?
É difícil evitar a sensação de
que a resposta inicial de Paulson foi distorcida pela ideologia. Lembrem-se de que ele
trabalha para uma administração cuja filosofia pode ser
resumida como "privado
bom, público ruim".
Também fico ponderando
se a inclinação do governo
Bush por utilizar os serviços
de amadores pode ter contribuído para o tropeço. Os profissionais mais experientes
terminaram escorraçados e
talvez não reste qualquer pessoa no Tesouro com a estatura e a experiência necessárias
para dizer a Paulson que sua
proposta não fazia sentido.
Para sorte da economia
mundial, porém, Brown e
seus funcionários estão fazendo sentido. E podem ter
nos apontado o caminho para
que escapemos a essa crise.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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