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Meirelles se vê como "goleiro criticado por não fazer gol"
Presidente do BC chama de "pajelança" pressão para queda rápida dos juros
Ele diz ainda que valor do dólar é "uma das maneiras de expressar o problema" da competitividade dos produtos brasileiros
EPAMINONDAS NETO
DA FOLHA ONLINE
O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, rebateu as críticas à política monetária e chamou de "pajelança"
medidas que procurem derrubar os juros "de uma vez".
Em uma resposta velada à
autoproclamada ala "desenvolvimentista" do governo, que
acusa o BC de só se preocupar
com a inflação, e não com o
crescimento, ele disse ser um
caso em que "o goleiro é criticado por não fazer gol".
As afirmações foram feitas
ontem após palestra a empresários em São Paulo. Também
ontem o BC divulgou que o
mercado prevê um crescimento do PIB de 2,97% neste ano
(leia texto abaixo).
O baixo crescimento dá munição à ala que se diz mais "desenvolvimentista" no governo,
formada pelos ministros Guido
Mantega (Fazenda), Dilma
Rousseff (Casa Civil) e Tarso
Genro (Relações Institucionais), entre outros. Em conversas reservadas, esses ministros
reclamam do BC porque consideram lenta a queda dos juros.
Questionado por que o país
manteria uma das maiores taxas de juros do mundo apesar
de a inflação estar bem abaixo
da meta neste ano, Meirelles
disse que "os juros são apenas
parte de uma equação" para garantir o crescimento.
"Na medida em que a inflação é imprevisível ou instável
ou o país não tenha compromisso com as metas de inflação,
a taxa de juros de qualquer país,
inclusive do Brasil, tende a ser
alta", disse ele. "No momento
em que o país tem um compromisso, uma capacidade para
que a inflação fique constantemente na meta, os juros tendem a cair, como têm caído nos
últimos dez anos", afirmou.
Meirelles, que não respondeu a perguntas de jornalistas
sobre sua continuidade no cargo, também disse que o papel
do Estado na economia é garantir as condições para que as
empresas cresçam. "É importante que o país mostre que não
vai colocar em risco suas conquistas, como o balanço de pagamentos equilibrado, o saldo
comercial importante, uma inflação constantemente na meta, uma relação dívida-PIB
equilibrada e cadente."
Na palestra, Meirelles afirmou que o país está em condições "únicas" de crescimento
porque, diferentemente dos últimos 50 anos, não precisa tomar decisões importantes em
meio a uma crise. "Inflação baixa e juros ao longo do tempo cadentes, esta, sim, é a melhor
equação para que o país cresça", disse ele.
"Todos nós precisamos de juros mais baixos, inclusive os
bancos. As maiores instituições
financeiras do mundo não vivem em países de juros altos."
O presidente do BC também
foi questionado sobre o patamar da taxa de câmbio, criticada por exportadores e economistas por supostamente contribuir para a desindustrialização do país. Para Meirelles, o
preço do dólar é "uma das maneiras de expressar o problema" da competitividade dos
produtos brasileiros. Para o
país, é importante que o câmbio flutue bem, que o mercado
funcione bem e que o governo
não tente medidas artificiais ou
mágicas de tentar fixar preços,
nem preços de câmbio", disse.
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