São Paulo, terça-feira, 14 de novembro de 2006

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Meirelles se vê como "goleiro criticado por não fazer gol"

Presidente do BC chama de "pajelança" pressão para queda rápida dos juros

Ele diz ainda que valor do dólar é "uma das maneiras de expressar o problema" da competitividade dos produtos brasileiros

EPAMINONDAS NETO
DA FOLHA ONLINE

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, rebateu as críticas à política monetária e chamou de "pajelança" medidas que procurem derrubar os juros "de uma vez".
Em uma resposta velada à autoproclamada ala "desenvolvimentista" do governo, que acusa o BC de só se preocupar com a inflação, e não com o crescimento, ele disse ser um caso em que "o goleiro é criticado por não fazer gol".
As afirmações foram feitas ontem após palestra a empresários em São Paulo. Também ontem o BC divulgou que o mercado prevê um crescimento do PIB de 2,97% neste ano (leia texto abaixo).
O baixo crescimento dá munição à ala que se diz mais "desenvolvimentista" no governo, formada pelos ministros Guido Mantega (Fazenda), Dilma Rousseff (Casa Civil) e Tarso Genro (Relações Institucionais), entre outros. Em conversas reservadas, esses ministros reclamam do BC porque consideram lenta a queda dos juros.
Questionado por que o país manteria uma das maiores taxas de juros do mundo apesar de a inflação estar bem abaixo da meta neste ano, Meirelles disse que "os juros são apenas parte de uma equação" para garantir o crescimento.
"Na medida em que a inflação é imprevisível ou instável ou o país não tenha compromisso com as metas de inflação, a taxa de juros de qualquer país, inclusive do Brasil, tende a ser alta", disse ele. "No momento em que o país tem um compromisso, uma capacidade para que a inflação fique constantemente na meta, os juros tendem a cair, como têm caído nos últimos dez anos", afirmou.
Meirelles, que não respondeu a perguntas de jornalistas sobre sua continuidade no cargo, também disse que o papel do Estado na economia é garantir as condições para que as empresas cresçam. "É importante que o país mostre que não vai colocar em risco suas conquistas, como o balanço de pagamentos equilibrado, o saldo comercial importante, uma inflação constantemente na meta, uma relação dívida-PIB equilibrada e cadente."
Na palestra, Meirelles afirmou que o país está em condições "únicas" de crescimento porque, diferentemente dos últimos 50 anos, não precisa tomar decisões importantes em meio a uma crise. "Inflação baixa e juros ao longo do tempo cadentes, esta, sim, é a melhor equação para que o país cresça", disse ele.
"Todos nós precisamos de juros mais baixos, inclusive os bancos. As maiores instituições financeiras do mundo não vivem em países de juros altos."
O presidente do BC também foi questionado sobre o patamar da taxa de câmbio, criticada por exportadores e economistas por supostamente contribuir para a desindustrialização do país. Para Meirelles, o preço do dólar é "uma das maneiras de expressar o problema" da competitividade dos produtos brasileiros. Para o país, é importante que o câmbio flutue bem, que o mercado funcione bem e que o governo não tente medidas artificiais ou mágicas de tentar fixar preços, nem preços de câmbio", disse.


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