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BENJAMIN STEINBRUCH
A bola está quicando
A área ambiental é uma oportunidade para o Brasil se
apresentar como parceiro
desejável ao mercado dos EUA
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A INVASÃO americana no Iraque, para combater e eliminar
o terrorismo, feita em nome
da paz, já sacrificou quase três vezes
mais pessoas do que as duas bombas
atômicas detonadas sobre o Japão
na Segunda Guerra Mundial.
Talvez isso justifique a avalanche
democrata que atingiu os EUA na
semana passada. Nas eleições legislativas, o partido republicano de
George W. Bush perdeu a maioria
que mantinha havia 12 anos na Câmara e no Senado. Além disso, os democratas passaram a ter 28 governadores, e os republicanos, 22. Para
a totalidade dos analistas, a principal causa da derrota republicana foi
a intervenção militar de Bush no
Iraque, que, além de provocar centenas de milhares de mortes, expôs
um esquema de desvios milionários
de recursos para a reconstrução do
Iraque.
A derrota acachapante de Bush
não foi boa notícia para o Brasil. Ela
veio no momento em que o reeleito
governo Lula prepara uma reaproximação comercial com os EUA, para
corrigir um erro cometido nos últimos anos, quando buscou ampliar o
intercâmbio com o mundo emergente e perdeu terreno no mercado
americano.
Por definição, os democratas, que
agora vão dominar o Congresso, são
mais protecionistas que os republicanos. Essa é a lógica, embora ela
nem sempre prevaleça. Bush, por
exemplo, no seu primeiro mandado,
foi mais protecionista do que o democrata Bill Clinton e impôs pesadas taxações sobre a importação de
aços, que prejudicaram diversos países exportadores, entre eles o Brasil.
De qualquer forma, no próximo biênio, uma fase de preparação para as
eleições presidenciais de 2008, os
democratas tenderão a bloquear
qualquer iniciativa generosa de
Bush em relação a parceiros comerciais emergentes. Falarão sempre
mais alto os lobbies regionais, principalmente agrícolas.
Um tema que afeta diretamente o
Brasil é a renovação do SGP (Sistema Geral de Preferências), programa comercial que expira em 31 de
dezembro e beneficia países em desenvolvimento com isenções tarifárias em suas exportações para os
EUA. No ano passado, produtos brasileiros no valor total de US$ 3,5 bilhões foram exportados para o mercado americano via SGP. Esse fluxo
comercial poderá ser prejudicado se
o programa não for renovado pelo
Congresso americano, porque as exportações passarão a ser taxadas em
8% para ingressar nos EUA.
Alguns líderes republicanos já defendiam a exclusão do Brasil do
SGP. Com a maioria democrata,
mesmo que Bush se empenhe em
manter o Brasil entre os países que
recebem a preferência comercial -o
que é pouco provável, porque o tema
não desperta interesse na diplomacia comercial americana-, enfrentará dificuldades no Congresso.
Será, portanto, um biênio difícil,
no qual o bloqueio de iniciativas do
presidente Bush poderá se tornar
uma constante no Congresso. Os
acordos comerciais de livre comércio, que Bush procurou estimular na
América Latina, podem entrar em
compasso de espera, e um eventual
entendimento com o Mercosul torna-se totalmente improvável.
Caberá então ao Brasil, nesse período, um esforço comercial redobrado para se apresentar como parceiro desejável ao mercado americano. Há oportunidades, por exemplo,
na área ambiental. Bush não perdeu
as eleições apenas por causa do Iraque. Entre outras razões, está a política que adotou na área ambiental.
Em sua gestão, os EUA se recusaram
a aderir ao Protocolo de Kyoto, pelo
qual os países aceitam reduzir as
emissões de gases que provocam o
aquecimento global em 12% até
2012.
A questão ambiental entrou no foco das preocupações do cidadão
americano. Arnold Schwarzenegger, republicano, foi reeleito governador da Califórnia porque se afastou de Bush e adotou ambiciosa legislação ambiental em seu Estado
para reduzir o efeito estufa. Dez em
cada dez personalidades dos EUA
que visitam o Brasil elogiam o programa brasileiro do etanol. Nessa
área, a bola está quicando para o
Brasil.
BENJAMIN STEINBRUCH , 53, empresário, é diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional, presidente do
conselho de administração da empresa e primeiro vice-presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de
São Paulo).
bvictoria@psi.com.br
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