|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
VINICIUS TORRES FREIRE
Previdência: uma outra história
Economista Amir Khair conta
outra versão da crise do INSS;
defende gestão mais rigorosa
e aumento dos benefícios
|
QUANDO SE DISCUTE a Previdência, uma crítica de esquerda à contabilidade dita
"ortodoxa" é que tais contas desconsideram o sentido social e político
das diversas despesas do INSS.
Amir Khair é um economista que
intervém no debate dos gastos públicos com fatos, mas com argumentos que escrevem uma outra história
sobre a Previdência, o INSS. Argumentos diferentes daqueles apresentados, por exemplo, pelo economista Fabio Giambiagi em seu recém-lançado livro, "Reforma da
Previdência: O Encontro Marcado"
(Editora Campus, R$ 59, 228 páginas), objeto de breve resenha nesta
coluna, no domingo, e de muitas críticas de leitores "não-ortodoxos".
Khair, engenheiro, consultor de
finanças públicas, foi secretário das
Finanças da Prefeitura de São Paulo
no governo de Luiza Erundina, então no PT (1988-92). É contra limitar o reajuste de aposentadorias e
outros benefícios sociais à correção
monetária (da inflação); não quer
que o valor do piso das aposentadorias do INSS deixe de equivaler ao do
salário mínimo, reformas defendidas por Giambiagi. Dois de cada três
aposentados e pensionistas têm benefícios no valor do salário mínimo.
Aumentar a idade mínima de aposentadoria? Para Khair, já existe um
redutor de benefícios que desestimula a aposentadoria precoce.
Khair enfatiza a distinção entre
aposentadorias rurais e urbanas. A
dita "rural" vai para pessoas que
quase não contribuíram para o INSS
e se aposentam por idade. Trata-se
do primeiro programa de renda mínima amplo do país, o primeiro
"Bolsa". Começou ainda na ditadura, anos 70, sendo bem ampliado pela Constituição de 1988. No ano passado, arrecadou R$ 3,4 bilhões e pagou R$ 27,9 bilhões. Isso representou cerca de 64% do déficit da Previdência, de 1,94% do PIB em 2005.
Para os "ortodoxos", não faz muita
diferença a natureza da despesa. Para Khair, o benefício rural desenvolve regiões pobres e contém a migração do campo para as saturadas metrópoles. A Previdência em geral, de
resto, é o maior programa social do
país (20 vezes maior que o Bolsa Família). Para Khair, aumentos reais
dos benefícios estimulam a economia e reduzem a pobreza.
Khair argumenta que o déficit da
Previdência se deve ao baixo crescimento e ao descaso administrativo.
Exemplo importante: a explosão
dos gastos com auxílio-doença.
Eram de R$ 3,9 bilhões no ano 2000
e pularam para R$ 10,9 bilhões em
2005 (quando o déficit da Previdência "urbana" foi de R$ 13,7 bilhões).
Causas: peritos terceirizados e mais
gente à procura de benefícios devido
ao melhor atendimento no INSS e à
piora das condições de vida, causada
por baixo crescimento e desemprego. O recadastramento geral dos beneficiários, meio de conter fraudes e
determinado por lei de 1991, começou apenas no ano passado.
Para Khair, se a economia tivesse
crescido 5% anuais desde 1995, em
vez dos 2,5% de fato, o gasto previdenciário teria estagnado em relação ao PIB; não haveria déficit. O
INSS, diz o economista, precisa é de
gestão rigorosa e mais PIB. Uma reforma "ortodoxa" faria com que, no
curto prazo, o déficit crescesse. Mais
pessoas correriam para se aposentar
pelas regras antigas. Os efeitos apareceriam só daqui a 15 ou 20 anos.
vinit@uol.com.br
Texto Anterior: Balança: Saldo comercial vai a US$ 774 mi em uma semana Próximo Texto: Banco do Brasil lucra R$ 4,8 bi até setembro Índice
|