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Regulador mundial deve dominar debate
DO COLUNISTA DA FOLHA
Como não é razoável esperar que os governantes entrem em detalhes sobre a supervisão/regulação da economia, a reunião de Washington pouco avançará em
um segundo tema fundamental para a governança
planetária: a supervisão/regulação do sistema financeiro deve continuar a ser de
instituições de cada país ou
deve haver um regulador supranacional?
De novo, todo movimento
passa pela posição de Barack
Obama, que se desconhece.
Mas Brad Setser, pesquisador do grupo de Geoeconomia do Council on Foreign
Relations, antecipa que o futuro presidente "não apoiará
um regulador global".
É uma clara divergência
com a posição brasileira, exposta na semana passada pelo ministro Mantega a partir
de um exemplo: os "xerifes"
das Bolsas de Valores nos Estados Unidos e no Brasil podem ter uma boa atuação interna, mas nem sempre conseguem deter abusos quando
uma operação é feita de um
país para o outro.
Benn Steil, também pesquisador do Council on Foreign Relations, dá outro
exemplo da necessidade de
globalizar a vigilância, quando a economia já é globalizada: "Se o Deutsche Bank tiver
problemas -e não estou dizendo que os tem- a Alemanha teria de coordenar a solução com outros países, pelo
volume de operações que o
banco tem também fora da
Alemanha".
Ironiza seu colega Sebastian Mallaby: "Há bancos
que são grandes demais para
quebrar, mas são também
grandes demais para serem
salvos por um só país".
Uma hipótese intermediária que possivelmente aparecerá à mesa das reuniões de
Washington é a criação de
um "Colégio de Supervisores" -ou seja, uma instância
que reuna os diferentes "xerifes" dos diferentes setores
financeiros para elaborar
uma moldura geral de regras
de conduta, cuja vigilância,
no entanto, continuará em
mãos dos poderes locais.
Seria uma maneira eventual de driblar a histórica resistência americana a ceder
pedaços de sua soberania.
Regras anticrise
Dada essa resistência, a
instituição que pode se sair
melhor no mal chamado
Bretton Woods 2 é exatamente a principal cria do
Bretton Woods 1, o Fundo
Monetário Internacional.
O comunicado da reunião
de São Paulo do G20 já aponta nessa direção: enfatiza
que, por ter uma representação "quase universal" e por
sua "expertise macrofinanceira", o FMI "deveria assumir um papel de liderança".
Mais: deveria ser reforçado em sua competência para
emitir avisos prévios de crises, "com a devida atenção às
economias sistemicamente
importantes" (leia-se: vigiar
também o mundo rico, até
agora imune aos controles do
FMI, como se queixa permanentemente o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva).
O problema, de novo, é de
qual FMI se está falando. O
atual é um condomínio
EUA/Europa, em que os
emergentes são figurantes
secundários. Só os Estados
Unidos, com seus 17% de votos, podem bloquear o que
quiserem, na medida em que
grande parte das decisões
exige maioria de 85%, inalcançável mesmo que todos
os demais países se unam.
É outro problema político
que os líderes certamente
adiarão para o futuro, concentrando-se mais na resolução da crise em curso do que
em mudar as regras para, no
futuro, evitar novas crises.
É dado como certo que os
chefes de governo endossarão a recomendação de seus
ministros da Fazenda, reunidos em São Paulo, para adotar pacotes de estímulo à
economia, tanto pela via fiscal (corte de impostos e mais
gastos públicos) como pela
via monetária (corte de juro).
Mas Setser já antecipa: "Os
presidentes dos BCs se oporão fortemente a qualquer
menção à política monetária
por parte dos líderes".
Bingo: Henrique Meirelles, o presidente do BC brasileiro, já o fez.
(CR)
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