São Paulo, sexta-feira, 14 de novembro de 2008

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Bush sai em defesa do capitalismo americano

FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A WASHINGTON

Na véspera do primeiro dia da reunião do G20, o presidente norte-americano, George W. Bush, fez ontem uma extensa e apaixonada defesa do sistema capitalista e do setor financeiro dos Estados Unidos -o epicentro da atual crise que traz a Washington os líderes de vários países.
Em discurso no Instituto Manhattan, em Nova York, Bush deixou clara a sua mensagem: os países participantes do esforço global contra a crise devem resistir à tentação de ampliar demais o envolvimento estatal com os mercados por meio de uma regulamentação excessiva.
"A história demonstrou que uma grande ameaça para a prosperidade global não é termos os governos participando apenas minimamente nos mercados, mas se envolvendo demais. Nossa busca não deve ser por mais governo, mas por uma governança mais inteligente", disse Bush.
Foi um recado direto às lideranças européias e, principalmente, ao presidente da França, Nicolas Sarkozy. Recentemente, o francês se referiu "ao mercado todo-poderoso" como "louco" e defendeu regras mais extensas para o sistema financeiro, chegando ao detalhe de pedir limitações nos salários e bônus de executivos.
O presidente norte-americano também procurou baixar as expectativas em relação ao encontro, que começa no final da tarde de hoje na Casa Branca, seguido de um jantar de Estado e de uma série de reuniões no sábado -quando um comunicado conjunto deve ser divulgado por volta das 15h30 (18h30 em Brasília).
Bush afirmou que os problemas atuais são "grandes demais" para serem resolvidos em dois dias e que o encontro será o começo de uma série de outras reuniões. Dan Price, assessor da Casa Branca responsável pelo encaminhamento do evento, anunciou na quarta que uma série de grupos de trabalho devem ser criados a partir do encontro do G20.
A principal expectativa é que os líderes endossem um comunicado prometendo aumentar os estímulos fiscais em cada país, além de fecharem um pouco mais as discussões sobre o papel que o FMI (Fundo Monetário Internacional) terá daqui para frente.
Nada de prático deve ser decidido agora em relação a uma nova regulamentação para os mercados. A intenção já verbalizada por Sarkozy de uma regulação mais abrangente e em nível global encontra não só a oposição dos EUA, mas da China e do Reino Unido.
Em seu discurso, Bush disse ser a favor de uma "atualização" do sistema regulatório e de contabilidade do mercado e dos bancos, mas fez questão de mencionar que alguns países europeus com regras mais pesadas do que os EUA tiveram o mesmo tipo de problemas que os bancos norte-americanos.
"Temos de reconhecer que a intervenção estatal não é uma cura para tudo. Muitos culpam os EUA por esta crise, por uma regulamentação insuficiente. Mas os países europeus, com sistemas regulatórios bem mais extensos, têm enfrentado problemas idênticos aos nossos", disse Bush.
Embora tenha afirmado que os EUA tomaram medidas "corretas e urgentes" para combater os efeitos da crise, Bush afirmou que o mundo ainda está "cara a cara com a possibilidade de um derretimento global". "No encontro de sábado, vamos avaliar a efetividade e abrangência das ações que tomamos", disse.


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