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Bush sai em defesa do capitalismo americano
FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A WASHINGTON
Na véspera do primeiro dia
da reunião do G20, o presidente norte-americano, George W.
Bush, fez ontem uma extensa e
apaixonada defesa do sistema
capitalista e do setor financeiro
dos Estados Unidos -o epicentro da atual crise que traz a
Washington os líderes de vários países.
Em discurso no Instituto
Manhattan, em Nova York,
Bush deixou clara a sua mensagem: os países participantes do
esforço global contra a crise devem resistir à tentação de ampliar demais o envolvimento
estatal com os mercados por
meio de uma regulamentação
excessiva.
"A história demonstrou que
uma grande ameaça para a
prosperidade global não é termos os governos participando
apenas minimamente nos mercados, mas se envolvendo demais. Nossa busca não deve ser
por mais governo, mas por uma
governança mais inteligente",
disse Bush.
Foi um recado direto às lideranças européias e, principalmente, ao presidente da França, Nicolas Sarkozy. Recentemente, o francês se referiu "ao
mercado todo-poderoso" como
"louco" e defendeu regras mais
extensas para o sistema financeiro, chegando ao detalhe de
pedir limitações nos salários e
bônus de executivos.
O presidente norte-americano também procurou baixar as
expectativas em relação ao encontro, que começa no final da
tarde de hoje na Casa Branca,
seguido de um jantar de Estado
e de uma série de reuniões no
sábado -quando um comunicado conjunto deve ser divulgado por volta das 15h30 (18h30
em Brasília).
Bush afirmou que os problemas atuais são "grandes demais" para serem resolvidos
em dois dias e que o encontro
será o começo de uma série de
outras reuniões. Dan Price, assessor da Casa Branca responsável pelo encaminhamento do
evento, anunciou na quarta que
uma série de grupos de trabalho devem ser criados a partir
do encontro do G20.
A principal expectativa é que
os líderes endossem um comunicado prometendo aumentar
os estímulos fiscais em cada
país, além de fecharem um
pouco mais as discussões sobre
o papel que o FMI (Fundo Monetário Internacional) terá daqui para frente.
Nada de prático deve ser decidido agora em relação a uma
nova regulamentação para os
mercados. A intenção já verbalizada por Sarkozy de uma regulação mais abrangente e em
nível global encontra não só a
oposição dos EUA, mas da China e do Reino Unido.
Em seu discurso, Bush disse
ser a favor de uma "atualização" do sistema regulatório e de
contabilidade do mercado e dos
bancos, mas fez questão de
mencionar que alguns países
europeus com regras mais pesadas do que os EUA tiveram o
mesmo tipo de problemas que
os bancos norte-americanos.
"Temos de reconhecer que a
intervenção estatal não é uma
cura para tudo. Muitos culpam
os EUA por esta crise, por uma
regulamentação insuficiente.
Mas os países europeus, com
sistemas regulatórios bem
mais extensos, têm enfrentado
problemas idênticos aos nossos", disse Bush.
Embora tenha afirmado que
os EUA tomaram medidas
"corretas e urgentes" para
combater os efeitos da crise,
Bush afirmou que o mundo ainda está "cara a cara com a possibilidade de um derretimento
global". "No encontro de sábado, vamos avaliar a efetividade
e abrangência das ações que tomamos", disse.
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