|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Lula já admite que país não cresce 5%
Conselheiros convencem presidente de que insistência nos 5% poderia sinalizar afrouxamento fiscal, segundo assessores
Crise aérea assustou Lula, mostrando que gargalos na infra-estrutura são maiores do que imaginava e seguram expansão
Alan Marques/Folha Imagem
|
O presidente Lula se reúne com seus auxiliares no Planalto |
KENNEDY ALENCAR
VALDO CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em reuniões reservadas, o
presidente Luiz Inácio Lula da
Silva já admite o não-cumprimento em 2007 da anunciada
meta anual de crescimento de
5% do PIB (Produto Interno
Bruto). O novo número com o
qual o Planalto trabalha é 4%
-meio ponto percentual acima
das projeções do mercado financeiro. Lula, porém, não deverá citá-lo publicamente nem
admitir o recuo.
O presidente pretende adotar em público a partir de agora
um discurso que não cita números. A Folha apurou que Lula considera ter caído numa armadilha que ele próprio criou
quando divulgou a meta de 5%
no dia da reeleição (29 de outubro) e logo depois prometeu
pacote desenvolvimentista para o segundo mandato.
O presidente sinaliza que as
medidas em estudo não devem
alterar muito a política econômica adotada desde 2003. Logo
após a reeleição, passou a cobrar "mais criatividade e ousadia" da equipe econômica. Agora "caiu a ficha", disse à Folha
um auxiliar direto de Lula.
Nas últimas semanas, órgãos
públicos, bancos e institutos
privados distribuíram previsões dizendo que seria muito
difícil, improvável até, um crescimento de 5% em 2007.
O Ipea (Instituto de Pesquisa
Econômica e Aplicada) divulgou após o segundo turno um
estudo em que apontava dificuldades para o Brasil crescer
no ritmo defendido pelo presidente. Ligado ao Ministério do
Planejamento, o Ipea avaliou
que o baixo nível de investimentos e dúvidas quanto à capacidade de fornecimento de
energia impediriam "expansão
sustentada muito acima de
3,5% ao ano".
As últimas reuniões com os
auxiliares, nas quais foram listadas os entraves a uma expansão mais forte, também contribuíram para convencer Lula a
mudar de idéia. Ele ouviu de
conselheiros econômicos com
os quais se reuniu em segredo
que deveria desembarcar especialmente dos 5%, pois sinalizaria um afrouxamento fiscal
que produziria turbulências.
Oficialmente, Lula manterá
o discurso de que precisa "destravar" o crescimento e, para
isso, buscará aumentar investimentos em infra-estrutura.
Ou seja, o presidente teria
entendido que, se fixar um
crescimento de 5% a qualquer
custo, poderá ter menores taxas nos anos seguintes e uma
fragilidade fiscal que poderia
comprometer o final do segundo mandato. Segundo auxiliares, a atual crise da aviação assustou Lula, mostrando que os
gargalos de infra-estrutura são
maiores do que imaginava.
Há duas semanas, em reunião com governadores, Lula
contou que a meta de 5% precisaria ser atingida para que não
perdesse cacife político, pois as
sucessivas previsões de aceleração econômica feitas pelo
Planalto não se concretizaram.
O "espetáculo de crescimento" prometido em 2003 não se
confirmaram no primeiro
mandato -os três primeiros
anos fecharam com média de
2,5% de crescimento.
As estimativas de 2005 também erraram feio o alvo. Lula e
o ministro Guido Mantega (Fazenda) previram taxas de 4%,
4,5% e até 5% para 2006. No
entanto, o PIB não deverá passar de 3%.
Lula aposta que em 2007 o
país terá crescimento superior
ao de 2006 por avaliar que o
Banco Central manterá a queda gradual dos juros. Pretende
também adotar medidas que,
mesmo com limitações, conseguiriam elevar o baixo nível de
investimento público.
Isso permitiria, na visão dele,
um crescimento da economia
na casa dos 4% em 2007, número que poderia ser reproduzido no ano seguinte.
A avaliação mais realista de
Lula ficou clara na reunião de
anteontem com sua equipe para discutir infra-estrutura. No
encontro, por exemplo, foi
mencionado o temor do empresariado em relação à possibilidade de falta de energia a
partir de 2010 ou 2011. Na dúvida, as empresas seguram investimentos, o que já afeta a
economia no curto prazo.
Lula disse que, se o empresariado tem dúvida em relação ao
fornecimento de energia no futuro, cabe ao governo esclarecê-la. Ou deixa claro que confia
na atual montagem do setor
elétrico e banca isso publicamente ou admite que haverá
problemas e busca saídas para
evitar um apagão no futuro.
Na reunião, Lula disse compreender as dificuldades do setor público para acelerar investimentos, mas pediu "esforços"
a todos. Reclamou da falta de
planejamento de órgãos do governo, o que teria sido, em suas
palavras, uma marca do primeiro mandato.
Para suprir essa deficiência,
pediu aos ministros presentes
que separem recursos do Orçamento para projetos de investimento. De acordo com Lula,
mesmo que não seja possível
atender a todos os projetos em
2007, eles já estariam prontos
para o momento em que houver disponibilidade de recursos
privados.
Texto Anterior: Mercado Aberto Próximo Texto: Pacote isenta investimentos novos e limita alta de gastos Índice
|